Mudanças Sociais – artigo de Geraldo Ferreira

06/10/2017

Mudanças Sociais – artigo de Geraldo Ferreira

06/10/2017

Mudanças Sociais – artigo de Geraldo Ferreira

 

Para Roger Scruton as mudanças sociais ocorrem, podem ser fruto da evolução dos costumes, da ruptura com algumas tradições ou podem ser um amadurecimento natural na direção de coisas que parecem funcionar melhor que o modelo antigo. Há, no entanto, um choque cultural quando essas mudanças são impostas sem um compromisso com a civilização ou uma tentativa de moldar a sociedade ao talante de uma ideologia.

A civilização humana é uma herança coletiva de coisas excelentes e raras, e a vida política deve ter como objetivo primordial trazê-las bem firmes, no intuito de transmiti-las aos nossos filhos. Para Burke a Comunidade humana é uma sociedade duradoura, com uma rede de obrigações que vincula os pais aos filhos e os filhos aos pais e que assegura, quer queira quer não, que dentro de uma geração a sociedade seja afetada pelos interesses dos membros sem direito a voto, pelos mortos, que nos legaram todo patrimônio material, científico ou cultural e pelos nascituros, a quem pertencerá a terra que hoje habitamos, que contarão com algo diferente do que um mero contrato entre os vivos se os direitos forem respeitados e o amor for digno.

Os valores nos chegam de várias maneiras e, onde quer que surjam, trazem consigo autoridade, paz e um sentimento de pertença, eles emergem por meio dos nossos esforços cooperativos e vem à tona porque nós humanos os criamos e os fazemos por meio das tradições, dos costumes e das instituições que consagram e promovem a responsabilidade mútua.

A família é a base, a fonte dos vínculos afetivos fundamentais, sendo considerada por Lênin como inimiga dos projetos revolucionários. Dessa forma, a família antiga, formada por pai e mãe está cada vez mais sob ameaça. O poder político existe para proteger, não para moldar a sociedade.

A obsessão pela revolução, seja lá o que ela signifique, leva à tentativa de moldar um mundo ideal para um determinado pensamento, mesmo que não tenha qualquer apoio nas tradições, na cultura ou na história.

Para o bem da sociedade, qualquer alteração no seu ordenamento deve ser baseada não na tentativa de moldá-la ou submetê-la, mas formulada no que resultou de digno, de efetivo, de nobre e de bom, fruto do crivo das tradições, dos costumes e das instituições. Totalitarismo, fascismo, ditadura, são tentativas de imposição do pensamento único e subtração ou assalto às liberdades de pensamento, consciência ou ação, que se processam segundo o livre arbítrio que é marca constitutiva e dá feição ao ser humano.

 

*Artigo publicado no Novo Jornal, dia 06/10/2017.

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