Divulgação
19/12/2025
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19/12/2025
Caríssimos leitores,
Tão somente após compreender ser o direito de retratação uma via de mão dulpa da qual jamais devemos esquecer que existe, faço a presente reflexão. Um povo sem o exercício da autocorreção e da misericórdia no futuro, inevitavelmente, torrnar-se-á uma sociedade em uma crise civilizatória cronificada.
Pois bem, no momento atual e usando de um espaço perfeitamente adequado para o exercício deste DEVER, a saber, o portal do Sindicato dos Médicos do RN, tempo em que agradeço a deferência, reiterando a honra de estar mais uma vez contando com o apoio de Dr. Geraldo.
Em 2024, assinei a autoria de uma obra com a vida de vinte médicos anônimos e devotados ao Sistema Único de Saúde Brasileiro. Intitulou-se Esmeraldas ao Vento.
Contrariando as recomendações dos Professores Francisco Nunes, Misael Dourado, Rafael Rosas, Irami Araújo Filho, Ariano José de Oliveira, Isabel Pinheiro de Almeida, Kallyandre Medeiros, André Luiz de Oliveira e dos para sempre queridos personagens mais jovens Tássilo Rodrigo, Felipe Leão, Marina Rêgo, Ubitatan Wagner e Wender Batista, deixei de incluir no meio dos colegas homenageados, penso eu que senão a maior, mas uma das melhores e maiores referências de todos aqui citados e fonte inesgotável de inspiração para aqueles que com ele aprenderam a essência verdadeira da excelência, da técnica e da responsabilidade com a metodologia científica aplicada aos casos concretos. Portanto, nas pessoas dos médicos supracitados, nossa retratação, por uma questão de coerência e justiça, dirige-se ao Conselho Regional de Medicina do RN, ao Sindicato dos Médicos do RN, à Cooperativa Médica, à Associação Médica Potiguar e a todas as entidades representativas dessa classe que há muito é sabedora de nosso total e irrestrito respeito.
O Professor Dr. Abires Arruda Júnior é o cirurgião que, por falta de atenção ou insistência desta escritora, esteve à margem da publicação, mesmo estando imerso no coração dos seus. Para com a pessoa dele, o que nos cabe diante da falha cometida e publicamente assumida é apenas o compromisso de não mais negligenciar nosso trabalho, jamais excluir os bons da imortalidade nas letras e nunca mais deixá-los cair nas valas impiedosas dos esquecimentos mais diversos.
Preâmbulo à parte, segue o texto que deveria ter sido ao Dr. Abires dedicado escrito da mesma forma pela qual fizemos o do Professor Francisco Nunes, no eu lírico dele.
Lá vai:
Adentro o centro cirúrgico como quem atravessa um templo silencioso, carrego nos olhos a calma de quem conhece o corpo humano como um sacrário inviolável, por assim dizer. Há rumores afirmando a precisão de minhas mãos, a segurança de minhas condutas. Não sei! Apenas tenho consciência dos meus anos de estudo, alguns poucos reconhecimentos e uma habilidade um tanto peculiar: a de enxergar antes de toda e qualquer incisão, um coração acelerado a clamar por abrigo uma uma alma desnudada para além do corpo diante de minhas limitações e genialidades. O avesso no concreto e no abstrato, literalmente!
O Professor Francisco Nunes, certa feita, disse em publico que seria eu um remomado cirurgião em minha área de atuação, todavia, malgrado sentir-me lisonjeado por tamanha deferência, peço a Deus que vaidades fugazes sejam menores que a magnitude da técnica e da tática, irrelevantes perante à humanidade presente em meus gestos, invisíveis disnte da certeza de minha humanidade e do reconhecimento de minha impotência.
O medo faz tremer o corpo, acelera a frequência respiratória. As fragilidades aparecem em cada paciente, em cada familiar, aparecem também em mim. Sou humano!
Nessas horas, aprendi com os antigos ser comum oferecer um copo de água com açúcar, mas prefiro oferecer palavras convertidas em versos, sonoridade materializada nas rimas, poesias simples falando de manhãs claras, de rios que seguem apesar das pedras, de gente especialista em se refazer.
A ansiedade, aos poucos, encontra um ritmo mais lento, embala-se na cadência de minha voz que jamais ordena, acolhe. A poesia, ali, não é adorno — é anestesia da alma.
E assim, entre bisturis e metáforas, costuro mais do que tecidos: teço confiança. Em cada cirurgia, um encontro comigo mesmo e com o ofício que escolhi exercer até o final dos meus dias, em cada poema, a certeza de que a ciência pode até querer ser exata, mas não tem o direito de ser desumana.
Em cada alta assinada, meu paciente leva cicatrizes no corpo. Isso é fato! Mas a relevância maior de tudo isso é algo imenso e intenso tanto no mundo visível quando no invisível — a lembrança de ter sido cuidado por inteiro e a marca de minha alma para senpre tatuada naquela sutura que, para além de minha assinatura, é também minha história construída e escrita no corpo de todos aqueles que a mim confiaram não apenas suas vidas e seus corpos, mas, sobretudo, suas esperanças.
Teresa Paiva de Oliveira
Natal, verão de 2025.