Democracia pervertida – artigo publicado no Novo Jornal

14/12/2016

Democracia pervertida – artigo publicado no Novo Jornal

14/12/2016

Para Aristóteles, o regime de governo de muitos ou da maioria em proveito de todos ou do bem comum é chamado político, mas quando esse regime da maioria se exerce não para o bem comum, mas para a vantagem privada dessa maioria, ele chama democracia. Na verdade um despotismo de maioria, uma deturpação perigosa porque, diz Benjamin Wilker, a maioria pode ser tola, egoísta e tirânica, quanto qualquer tirania ou oligarquia. O regime extremado persegue o ideal de igualdade, até que esse destrói a liberdade. Desde que a multidão oficialize, liberdade e igualdade envolvem qualquer coisa que se queira. O desejo de fazer o que se quer, e tolerar todos vivendo como querem, leva ao contexto onde demagogos criam uma situação policial de tolerância para impor o politicamente correto. John Winthrop diz que a verdadeira liberdade repousa numa base moral sólida, não é a liberdade para se fazer o que se deseja, impaciente, oposta à autoridade, sem restrições, a liberdade é para o que é justo e é bom. Tocqueville diz que a liberdade deve ser enraizada no amor à virtude, não no amor à igualdade. O poder da maioria pode, ao extremo, levar à tirania do igualitarismo, perda da hierarquia avaliativa, do certo e errado, cada pessoa decide o que é bom ou ruim, o homem faz um deus de si mesmo. Como disse Burke, Todos estão intoxicados pela admiração da própria sabedoria e habilidade. A liberação da ordem moral significa caos social que finda em tirania. Das impressões de sua visita aos Estados Unidos, Alexis De Tocqueville escreveu Democracia na América, onde observando a fluidez social e o desejo de todos por reconhecimento e honra, sentiu a verdadeira paixão pelo igualitarismo e alertou que essa paixão por igualdade associada ao materialismo ou consumismo de bens e prazeres levavam a um estado permanente de ansiedade, homens pobres andavam cheios de inveja e os ricos cheios de medo. Concluiu, As instituições democráticas desenvolvem um sentimento de inveja no coração humano a um grau muito elevado. A Revolução Francesa, filha do Iluminismo, rejeitando o sagrado e o pecado, abraçou a crença de que a cura dos males humanos estava nas mãos dos homens, cabia destruir as instituições, a ordem social e o cristianismo, para fundar uma nova ordem social. Daí se marchou para a tirania, onde a maioria não aceita oposição, oprime, aterroriza e mata. Só Napoleão e o restabelecimento da ordem deram basta ao banho de sangue da liberdade, igualdade e fraternidade pretendidas.

 

*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 14/12/2016.

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