04/11/2021
04/11/2021
Em Do Que É Feito O Pensamento, Steven Pinker diz que “as palavras estão atadas à realidade, tem relação com o pensamento e com a realidade”. Quando as pessoas falam se comprometem com uma compreensão comum da verdade, e à implicação de que no uso da linguagem, certas afirmações são verdadeiras ou falsas, independente da pessoa em discussão acreditar ou não. “A corrupção do homem conduz à corrupção da linguagem”, pontuou R.W. Emerson. Para Richard M. Weaver, “toda comunidade metafísica depende da capacidade dos homens de se entenderem uns aos outros”. A palavra é o veículo da ordem e o princípio da inteligibilidade. A língua padrão permite expressar ideias complexas e superiores. Ao reconhecer qualquer forma de expressão como correta, está se condenando os que nasceram em extratos inferiores da sociedade a permanecerem lá, encerrados em um universo mental diminuto e limitado, com todas as abstrações rudimentares, sem conseguir transcender às limitações impostas pelo ambiente linguístico. Com um vocabulário limitado não é possível fazer ou expressar distinções importantes, nem examinar qualquer questão com algum cuidado conceitual. A língua que falamos é o que somos, é parte de nossa mente, do nosso mundo. Não é possível entender a história de uma língua sem levarmos em conta os eventos políticos e históricos pelos quais passou o povo que fala essa língua. “Toda forma é acompanhada por uma tendência”, diz Tomás de Aquino. Richard Weaver completa “a linguagem é o sistema de forma que, tanto isolada como globalmente, manifesta tendências ou intenções”. Os que divergem sobre a tendência, divergem no fundo da afirmação de valores. Os que sabem utilizar a linguagem em toda sua complexidade, também demonstram possuir as melhores capacidades de compreensão. Facilidade em lidar com palavras permite aprender relações e conceitos e dá acesso à complexidade da realidade. O ataque que a linguagem padrão sofre é da mesma natureza do que sofre a cultura e a arte clássica. O multiculturalismo que descarta levianamente costumes e crenças herdados, em nome de um vir a ser inclusivo e igualitário, anda de mãos dadas com o politicamente correto, que encoraja a denegrir tudo que se possa qualificar de superior. A palavra tem poder e convencimento, ao se dissociar do conceito a palavra conduz à imprecisão e distorção. Por isso, Orwell em seu livro 1984 tinha a criação de uma nova língua como peça chave do Estado totalitário.
Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do Sinmed RN
Artigo publicado no Agora Jornal dia 04 de novembro de 2021