A Anestesiologia  é uma especialidade que exige enorme dedicação. São quase dez anos de estudo, plantões, distanciamento da família, ausência no dia dos pais e muita atualização para iniciar a atividade profissional.

O trabalho médico tem que ser  muito bem remunerado, assim como a magistratura e alguns profissionais. Isso exige que o médico tenha pudor e atitude, denunciando todas as mazelas da Saúde Pública e reagindo agressivamente  contra todo e qualquer ato administrativo indecente por parte dos gestores da saúde. Atraso salarial de um dia deveria significar não existir a prestação do serviço médico.

Os pacientes necessitam de uma boa assistência à saúde, eficiente e de rápido atendimento, inclusive de cirurgias eletivas. Lutamos pelo reconhecimento da importância deste trabalho. Por respeito, e agora por proteção dentro dos ambientes hospitalares. É uma estupidez exercer a Medicina sem condições técnicas de trabalho, sem  nenhuma  previsibilidade razoável do recebimento de honorários. Os gestores omissos fazem chacota, escárnio com médicos e pacientes.

O pagamento dos plantões médicos depende  trimestralmente de um pedido de tutela para determinar o bloqueio de valores do Estado ou da Prefeitura para pagamento de longos meses de plantões. Não há obediência aos princípios administrativos e nunca existe eficiência. Os médicos, vítimas dos gestores da saúde, agora também são vítimas de bandidos, assaltantes e outros vermes  dentro dos hospitais. Isso é o maior absurdo. Em Mossoró, não há possibilidade nenhuma de realizar um procedimento cirúrgico eletivo pelo SUS em virtude da falta de vontade política, péssima  gestão, incompetência administrativa e total falta de transparência. 

O tão propalado contrato entre o Estado e a Prefeitura de Mossoró, para realização de todas as cirurgias eletivas de todas as especialidades, não foi firmado ou não surtiu nenhum efeito. Paralelamente a Prefeitura de Mossoró, tenta repassar o problema  da realização das cirurgias eletivas  para os hospitais privados de Mossoró, que não apresentaram um contrato de  prestação  de serviço com a Prefeitura Municipal de Mossoró.  Qual será a origem deste dinheiro que será repassado  para os hospitais? Aumentando a quantidade de leitos de UTI, plantões inexistentes para pagar cirurgia. O médico que se presta a este tipo de expediente merece ter o CRM cassado. Uma simples cirurgia para retirar uma vesícula  se transforma num verdadeiro martírio, na metrópole Mossoró.

O gestor da saúde anuncia como se fosse um grande feito, um plus de 100%  na tabela do SUS e que os médicos de Mossoró não aceitaram a excelente proposta. Mas tiveram o cuidado de não informar que era um acréscimo em cima de valores como: Amigdalectomia (R$ 53,00); Tratamento Cirúrgico de fratura joelho (R$ 43,52); Colecistectomia (R$ 63,27); Nefrectomia (R$ 58,44); Histerectomia (R$ 66,51); Tratamento Cirúrgico fratura fêmur (R$ 74,34). Esses são os valores referentes às anestesias. 

A responsabilidade médica é enorme. Caso algum médico aceite esses valores como remuneração, é simplesmente prostituição. E caso ocorra um milagre lucrativo da vinda de equipes (anestesista, cirurgião, técnicos de placas e parafusos) de Fortaleza ou Natal para realizar essas cirurgias com esta tabela, obrigatoriamente existe alguma afronta a inteligência dos contribuintes. Muito estranho. Trata-se de excesso de filantropismo  ou excesso de amor ao próximo. Haverá alguma remuneração “por fora”, mágica ou uma modalidade de pagamento não prevista. Caso esse milagre ocorra, seria lícito que o gestor apresentasse o comprovante de depósito referente a cada profissional e cada procedimento, com retenção de toda tributação, inclusive Imposto de Renda.

As especialidades básicas como Cirurgia Geral, Anestesia, Ortopedia e Ginecologia foram  encaminhadas  para os hospitais privados, uma proposta justa e possível, para realização de milhares de cirurgias. Por uma questão de justiça e transparência,  se ocorrer à possibilidade da realização das  cirurgias eletivas deve haver uma fila única publicada para o conhecimento da população. Uma   triagem meramente política será uma crueldade. Uma estúpida covardia. Enquanto isso, na sala de cirurgia do Sistema Único de Saúde não tem nenhuma cirurgia eletiva para quem necessita deste atendimento.

Ronaldo Fixina Barreto

Anestesiologista e Delegado Sindical