14/01/2015
14/01/2015
Na noite da última terça-feira (13) aconteceu no Sinmed RN reunião para discutir proposta de acordo coletivo da categoria médica, em especial a pediatria, com a rede privada de atendimento de saúde da capital potiguar. O objetivo foi discutir as dificuldades desta especialidade para compreender o mercado e os motivos que afastam pediatras da rede privada, e também conhecer as dificuldades de outras especialidades médicas.
Estiveram presentes representantes da obstetrícia, o presidente da sociedade de pediatria do RN, o Vice-Presidente da Sociedade de Psiquiatria do RN, o presidente da Coopanest e médicos dessas especialidades.
De acordo com o Presidente da Sopern, Nivaldo Júnior, a cada ano são formados nas residências em Natal 16 novos pediatras, no entanto, a maioria é oriunda de outros estados e deixam o RN após a formação. De acordo com ele, há um número regular de pediatras que poderiam suprir as demandas nos hospitais públicos e privados, mas a baixa remuneração é um dos fatores que afasta o profissional. Na rede pública um médico pediatra atuando dentro de uma UTI, recebe valor inferior ao que está em uma sala de parto, o que incentiva o crescimento de neonatologistas, em detrimento à pediatria.
A demanda excessiva foi apontada como um segundo fator que colabora com o déficit de pediatras em pronto-socorros. Foi averiguado que é comum um profissional atender de 50 a 60 crianças em 12h, o que prejudica a qualidade do atendimento e a atenção à criança. Segundo Nivaldo Júnior, não faltam pediatras, há um grande número atendendo em clínicas populares, locais que são melhor remunerados que em planos de saúde. Também não há atrativos em atuar na rede pública, uma vez que não se tem uma estrutura adequada de encaminhamento de pacientes, atendimentos cirúrgicos, e etc.
O único local que realiza atendimento de urgência na pediatria é o hospital Sandra Celeste e, ainda assim, recebendo demanda de cidades vizinhas, principalmente Parnamirim, e até mesmo de estados vizinhos. A proposta levantada pela categoria é a implantação de um piso salarial por plantão e estabelecimento de critérios de condições mínimas, e número de atendimentos, como por exemplo, de 3 a 4 atendimentos por hora, já que a demanda excessiva é um dos fatores que espantam os pediatras do pronto socorro.
O acordo coletivo será debatido junto aos hospitais na tentativa de sanar as dificuldades com esta especialidade. A pediatria sugere aos uma remuneração por plantão de R$1.500, mais uma produtividade de R$5 por atendimento, valor equivalente a 10% de uma consulta normal.
Psiquiatria
As dificuldades do atendimento psiquiátrico também foram discutidas. Segundo representantes da Sociedade de Psiquiatria há a necessidade de valorização do trabalho do especialista, estabelecimento de um piso salarial e um vínculo contratual que dê direitos trabalhistas aos médicos.
Em agosto de 2014 foi realizado um levantamento da quantidade de psiquiatras no RN. De acordo com a sociedade de psiquiatria foi averiguado que existem 106 profissionais atuando como psiquiatras, no entanto apenas 64 destes são considerados psiquiatras de fato, por serem especializados e estarem devidamente registrados como especialistas no Conselho Regional de Medicina. Dos 64 psiquiatras cerca de 30 já estão aposentados ou próximos da aposentadoria, o que afunila ainda mais a quantidade de psiquiatras qualificados que atua em regime de plantão em todo o estado.
Há uma preocupação com a contratação, por parte do município de Natal, de profissionais que não são psiquiatras, mas atuam nesta linha. Dados da sociedade também revelam que muitos dos profissionais que realizam residência em psiquiatria na capital potiguar, retornam para seus locais de origem após o término da formação, devido principalmente a precarização do vínculo trabalhista.
Obstetrícia
Na obstetrícia os médicos apresentaram como dificuldades a estrutura defasada e muitas vezes deteriorada. Nos últimos anos foram fechados 9 serviços de obstetrícia no RN, sendo 7 na rede privada. Para os profissionais, o aumento do número de cesarianas é apenas consequência da falta de estrutura básica do setor, que não é bem remunerado, não tem salas de parto em números suficientes, bem como disponibilidades de vagas.
Na rede privada a cesariana foi apontada como tentativa de fugir da ausência de locais disponíveis para o parto normal, uma vez que a demanda é muito maior que o número de salas para parto. Novas reuniões serão realizadas para averiguar soluções a serem propostas à rede privada de saúde.