Obstetras protestam contra falta de condições de assistência ao parto

11/04/2013

Obstetras protestam contra falta de condições de assistência ao parto

11/04/2013

Os profissionais da Maternidade Januário Cicco e do centro obstétrico do Hospital Santa Catarina participaram na tarde da terça-feira (9) de uma audiência pública na Assembleia Legilastiva para discutir a saúde pública e os direitos humanos. A diretora Maria da Guia de Medeiros conta que quando recebeu o convite visualizou que era o momento de quem está sofrendo mais, os profissionais que trabalham na MEJC e no Hospital Santa Catarina, participassem de forma ativa da audiência. Cerca de 20 médicos obstetras participaram da audiência.

“Foi quando surgiu a ideia de fazer a camisa com a frase ‘Não ao parto no chão’, que é um protesto contra a falta de condições de assistência ao parto. A audiência foi interessante, pois entendemos ontem que no Rio Grande do Norte não existe direitos humanos, pois o Estado está infringindo todos os parágrafos do que diz os direitos humanos em relação à saúde pública. Mostramos na audiência a situação de abandono que estamos vivendo. De prefeituras que mandam as mulheres em ambulâncias para terem os bebês em Natal, de um centro cirúrgico que está interditado e está sendo transformado em UTI Neonatal sem a mínima condição, sem a mínima estrutura. Pedimos socorro, pois a responsabilidade é do Estado que precisa organizar a rede e o município de Natal que precisa colocar para funcionar na plenitude as três maternidades”, destacou.

Ela disse que ainda não é uma campanha, mas um protesto e que os profissionais que trabalham no Hospital Santa Catarina abraçaram a causa e vão trabalhar no plantão vestidos com a camisa. “Estamos num momento muito difícil, sem desistir, mas de muito cansaço, pois a voz não chega a nenhum lugar e se ela chega à pessoa não escuta. Ela pode até chegar ao ouvido de alguém, mas ainda não tem repercutido absolutamente nada”, desabafou. 

Servidora da MEJC e Santa Catarina relata condições de trabalho

A obstetra Quitéria Meirelles trabalha no centro obstétrico do Hospital Santa Catarina e também na Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC). Ela é taxativa ao falar das condições de trabalho nas duas unidades. “É angustiante. Tentamos dar uma assistência de qualidade, tanto para a mãe, quanto para o bebê, mas pelos inúmeros motivos que vêm se agravando, pela incidência muito grande que temos tido nos últimos dias de partos prematuros, hoje vivemos uma situação atípica, de chegar para o plantão com a sala do centro cirúrgico obstruída com bebês prematuros. A noite de ontem, chegou ao ponto de que precisamos utilizar a sala do centro cirúrgico ginecológico para realizar os partos cesáreos. Hoje eu tinha uma cesariana para ser feita, que graças a Deus não é uma urgência, e estamos tentando encontrar um local para realizar o parto, mas se chegar uma urgência não temos onde operar, apesar de ter equipe”, desabafou.

Quitéria Meirelles considera que hoje a situação da Maternidade Januário Cicco é pior do que a do Hospital Santa Catarina. “Hoje eu não tenho onde operar, mas no Hospital Santa Catarina apesar da superlotação, tem onde se fazer cesárea. Mandamos duas pacientes para o Santa Catarina, sendo referência de lá, com gravidez gemelares, e já tem quatro cesáreas na fila esperando para serem feitas. Isso é muito angustiante”, destacou.

A médica disse que é necessário que seja feita uma campanha, tal como a camisa feita para a audiência pública, a fim de somar forças para resolver os problemas. “Essa frase ‘Não ao parto no chão’ é um protesto silencioso, contra as míseras condições de trabalho. Hoje soube que estão tentando melhorar as condições de temperatura do Hospital Santa Catarina, pois a situação estava insustentável. Eu e muitos médicos que trabalham lá, já andamos com um ventilador no carro. A população está sentindo na pele esse destrato e a equipe está lá sob as mesmas condições. Não é só a parturiente que está tendo que sentar no chão, o plantonista também. A nossa condição não é muito diferente. É uma calamidade escondida. Estamos para trabalhar, mas não temos condições”, desabafa Quitéria Meirelles.

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