29/09/2013
29/09/2013
Perdido em intermináveis confrontos com o funcionalismo público, que vai das áreas críticas de saúde, educação e segurança, alcançando a administração indireta, com cerca de 16 órgãos, o governo Rosalba Ciarlini consegue admiráveis vitórias sempre que a questão alcança o judiciário.
Cortes de orçamento de outros poderes, manutenção da publicidade, encerramento de greves, tudo o governo tem conseguido na justiça. Algumas vezes as decisões, mesmo fundamentadas, são expostas a situações vexatórias, impostas pela realidade, que tem sua própria marcha e lógica.
É dessa lavra a proibição de manifestações, tomadas contra a greve dos policiais civis, no centro administrativo estadual. Ficam proibidas essas manifestações legítimas num local que foi invadido por marginais três vezes esse ano, sendo arrombadas e roubadas as secretarias de educação, de segurança e agora a de justiça e cidadania. Poderá ser dito que cada coisa é uma coisa, mas nada disso afasta o ridículo de policiais serem proibidos de se manifestarem em território violado tantas vezes por assaltantes.
É de lavra ridícula nos últimos tempos as decisões absolutamente políticas e eleitoreiras que vem sendo tomadas nacionalmente no âmbito da saúde, alguma coisa como a tal transversalidade, onde um fato não é analisado ou decidido tecnicamente, mas sempre em correlação com outros de significância forçada. Exemplificando, os fins justificariam os meios. Ou a ausência de médicos em certas áreas não é tratada tecnicamente como a necessidade de uma carreira para esses profissionais ou a necessidade de equipamentos, condições de trabalho, resolutividade da rede, investimentos em infraestrutura e recursos humanos complementares.
Não, o problema se apresenta e sua solução impositiva vem na forma de utilização dos meios mais escusos, como precarização das relações trabalhistas, simulação jurídica de ensino, uso de mão de obra estrangeira em conflito com tratados internacionais de proteção ao trabalho e ao salário. Embala-se tudo num espetaculoso projeto de marketing, vilaniza-se quem se posiciona criticamente ao programa, escolhe-se alguém para bode expiatório, no caso os médicos, taxados de elitistas, egoístas e quantos mais depreciativos puderem ser imaginados, e de goela abaixo a sociedade bombardeada pela mídia começa a aceitar como bom o que mereceria ser visto com reservas.
É quase inacreditável que no tempo do conhecimento, da razão, da ciência, da técnica, se tomem decisões ao arrepio desse crivo. Apostar nas decisões mal fundamentadas tecnicamente, apostar na decisão política, mesmo confrontada com o lógico e na força do poder contra a razão, são brigas perdidas ao longo dos séculos, quem utiliza tais recursos será vencido. Certas falas e decisões dos poderes no Brasil de hoje são de um ridículo inominável.
Dr. Geraldo Ferreira – Pres. Fenam e SinmedRN
*Editorial publicado na coluna Sinmed em Ação, Novo Jornal, dia 29/09/2013.