10/08/2016
10/08/2016
O mundo virou um palco. A ascensão fulminante da comunicação, surgida a partir principalmente da internet, colocou a todos como atores de um processo infindável de possibilidades. A vida corre nas redes. Isso ocorre porque a vida interior das pessoas está próxima da morte. Sem religião, sem família, achando-se livre de responsabilidades por seus atos, as pessoas interagem na rede, exibindo uma imagem que pretendem tornar real, mesmo que não seja verdadeira.
Na maioria das vezes a ação nas redes se dá como em um grande auditório e o que importa é dizer o que esse auditório aplaude ou atuar nesse espaço, buscando um papel. Nesse imenso palco onde se interpreta um papel ou se monta o palanque de ideias e opiniões, vai-se vivendo uma vida que não é a nossa, mas uma simulação e corre-se o risco de cair em dramas dignos de picadeiro de circo, onde desfilamos a vida que não temos nem vivemos.
A tradição ocidental, formulada na idade média, dá a realidade como se articulando em três polos transcendentais: o Bom, o Belo e o Verdadeiro. Há, portanto, um princípio ético que ordena o belo como fruto do bom e do verdadeiro. Se o sentido estético é preponderante, sem articulação com o bom ou o verdadeiro, no mundo tudo é possível.
O mundo atual perdeu a noção de que há uma imaginação moral, formada por qualidades invisíveis, em que somos levados a uma escolha entre o Bem e o Mal, substituída pela exteriorização do que tentamos projetar ser, o que muitas vezes só é conseguido com uma certa insinceridade.
É no filósofo Kierkegaard que o estudo da modernidade com o conflito do princípio ético com o princípio estético, desnuda o Bem impotente como polo orientador e ordenador do Belo e do Verdadeiro, assim o Mal se torna cada vez mais sedutor, apropriando-se das características do Belo. O importante passa a ser persuadir, não provar. O mundo hoje vive entre a dissimulação e a utopia.
No seu livro A Poeira da Glória, Martim Vasquez da Cunha, diz que o Brasileiro para sua visão do Belo não precisa do Bem e muito menos do Verdadeiro, o que lhe interessa é a aparência, o disfarce, a dissimulação. Aí a admiração pela esperteza e a exigência nos outros de uma ética que não temos ou a simulação ou dissimulação do que verdadeiramente somos. Conclui que a compreensão da vida de um ponto de vista essencialmente ou meramente estético é característica do cidadão Brasileiro, embora conceda que isso possa se referir a outros indivíduos em qualquer lugar do mundo.
*Publicado no Novo Jornal, dia 10/08/2016.