O jogo sujo da guerra (do governo)

01/09/2013

O jogo sujo da guerra (do governo)

01/09/2013

Na guerra, apesar das tentativas de regulá-la com um mínimo de ética, como se isso fosse possível, os escrúpulos desaparecem e a verdade é assassinada. E a guerra não existe só no sentido militar. Até mesmo questões políticas ou trabalhistas, muitas vezes se transformam em guerras apaixonadas, onde versões e distorções de fatos são a tônica, com o assassinato da lógica e do bom senso. Isso pode ser de lado a lado, mas quem tem o poder e o controle da mídia explora a mentira com mais firmeza e maestria, conforme seus interesses. Talvez por isso faltem leitos hospitalares, os pacientes padeçam em corredores, morram esperando vagas em UTIs, esperem meses por um exame ou uma consulta de especialista, anos a espera de uma cirurgia, não tenham direitos a medicamentos essenciais e de alto custo, escalas de profissionais estejam desfalcadas por causa do limite prudencial e hospitais sejam sucateadas e fechados. Mas a ração pública dos governos falidos e ineptos para a publicidade não falta. É assim na guerra. É assim na guerra de propaganda para ganhar a opinião pública. E não é que o governo cambaleante do RN, mesmo arquejando, mesmo sob o peso da rejeição de mais de 80% da população, não esquece as lições do uso da mentira como arma na publicidade. Mas daqui a pouco retornamos ao nosso estado. Vamos inicialmente entender a brutal campanha do governo federal, que com o fardo da falência da saúde pública, principal reclamação dos brasileiros, conseguiu numa especular ação de marketing jogar nos ombros da categoria médica a responsabilidade, com acusações falsas e grosseiras de xenófobos, corporativistas, egoístas e até racistas. Há alguma coisa disso? Não. Há uma luta dos médicos por soluções permanentes, saúde de qualidade, respeitos aos direitos trabalhistas, condições de trabalho, investimentos maiores do governo federal, melhoria da infraestrutura. De repente tudo isso foi suplantado na mídia pela esperteza do governo em vilanizar os médicos. Há momentos onde parece que o governo ganhou a luta através dessas intrigas e mentiras. A história mostra que a realidade não tardará a filtrar os acontecimentos e desmascarar o que de oportunismo e politicagem foi feito, sem resolver os problemas. Vamos avante. No Rio Grande do Norte, esta semana, a mídia deu guarida a informações irresponsáveis do governo, dando notícia da pretensão dos médicos de receberem 50 mil de salário mensal. Informação criminosa de um governo decadente e vencido, com auxiliares sem capacidade de negociação e colados à cadeira do poder de forma apaixonada, apegados aos cargos com obstinação, mesmo com o desastre escancarado da gestão. Para conhecimento, o governo do Estado paga hoje a um médico de 40 horas, com 30 anos de serviço, o salário de 6 mil reais, enquanto um recém formado no mais médicos recebe 10 mil. A proposta de negociação do Sinmed ao governo prevê que o salário de 20 horas passaria dos atuais 2 mil e quinhentos reais, em etapas de aumentos em maio de 2014, 2015 e 2016 para um valor aproximado de 6 mil reais. Como vemos, bem diferente do divulgado para a mídia pela secretaria de saúde. Alguma novidade? Nenhuma, numa guerra a verdade morre, a mentira vira arma, quem controla a mídia com verbas diz o que quer. É o jogo sujo da guerra. Mas são poucas as guerras onde o mal prevalece. Em alguns momentos ele até parece que vai vencer, mas é só momentaneamente. A verdade não seria verdade se ela fosse sufocada, quando sob pressão. Por ser verdade ela finda por se impor e vence.


Dr. Geraldo Ferreira – Pres. Fenam e Sinmed RN 

 

*Editorial publicado dia 01/09/2013, no Novo Jornal.

 

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