02/11/2016
02/11/2016
No livro A Jornada do Escritor, analisando mitos, contos e roteiros de filmes, e ampliando as ideias do antropólogo Joseph Campbell, Christopher Vogler define que há sempre um roteiro padrão em cada Estória, que pode ser também de cada vida, que ele chama A Jornada do Herói. Ela tem personagens relativamente fixos, pessoas, situações, emoções que exercem papel para a ação e constituem segundo Carl G.Jüng arquétipos, padrões antigos de personalidade, que são uma herança compartilhada da raça humana. Estórias ou enredos são sonhos de uma cultura inteira que fazem parte do inconsciente coletivo.
Personagens são incrivelmente constantes e recorrentes, assim como os relacionamentos e as situações vividas. Sempre há um herói que em determinado momento é chamado à ação, enfrenta as dúvidas do desestímulo de pessoas ou emoções que põem em dúvida sua capacidade para agir. Há um mentor, que também pode ser uma pessoa ou um código de honra, uma ética, que dará o incentivo e norteará a caminhada. No desenrolar da história surgem guardiões do limiar, que são obstáculos e surgirão aliados e camaleões, sendo esses personagens que se alternam entre positivos e negativos para o herói e a jornada.
O destino da jornada é encontrar a sombra e superá-la. Essa sombra é um vilão que também pode ser um personagem ou uma situação, um trauma, um medo, uma conquista, uma perda, que precisa ser vencida. Misturam-se na jornada personagens picarescos ou engraçados que por incidentes demonstram ou exibem o ridículo ou a hipocrisia de determinadas situações. Identificamos-nos no herói porque gostaríamos de ser como ele, com a capacidade de proteger, servir, fazer sacrifícios, corrigir injustiças e erros, vencer obstáculos, crescer em conhecimento e sabedoria, ter emoções e motivações universais, embora como humano o herói possa ter sentimentos por vezes conflitantes como idealismo, desespero, vingança, raiva, amor, patriotismo, que servem de motores para a ação.
A tentativa política de demolir a cultura ocidental, a religião, a família, os valores, as tradições, nos jogou numa era povoada de ressentimentos, escândalos, relativismo moral, mediocridade. Faltam heróis no mundo de hoje. José Ingenieros em seu livro O Homem Medíocre, dizia, ante o desencanto do mundo que perde seus valores, que acreditava no gênio, no heroísmo e na santidade, porque eram os que acreditavam nesses ideais que criavam as condições propícias para que eles florescessem.
*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 02/11/2016.