Médicos têm dificuldades em todo o país

26/05/2012

Médicos têm dificuldades em todo o país

26/05/2012

Salários inadequados, infraestrutura deficiente, insegurança no trabalho… As queixas dos médicos brasileiros são inúmeras, e nenhuma delas é novidade. O surpreendente é saber que essa mazelas afetam não apenas os profissionais das regiões mais pobres, mas se tratam de dificuldades enfrentadas pela categoria em todo o país: não importa se o médico atende na rede pública de uma vilarejo nos confins da Amazônia ou é empregado de uma empresa particular em São Paulo, alguns dos problemas independem de tempo ou espaço. As aflições da categoria e suas possíveis soluções são a pauta do XI Congresso Fenam – José Caires Meira, que acontece desde quarta-feira no Hotel Pestana, na Via Costeira, e acaba hoje.

As diversas palestras e debates do evento culminam neste sábado em uma plenária na qual os 192 congressistas enviados por sindicatos médicos de todo o país votarão nas diretrizes que pautarão as ações da Federação Nacional de Médicos para o biênio 2012/2014. A Fenam é a entidade que representa nacionalmente os sindicatos médicos de todos os estados brasileiros.Hoje será eleita a nova diretoria da federação e a partir de agora o homem que dirigirá a associação será o potiguar Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte. Em entrevista ao NOVO JORNAL, Carvalhaes afirmou que o desenvolvimento econômico do país não condiz com o atual estado da saúde da rede pública e também privada, e ressaltou que a situação é homogênea em todo o país.

E os seis presidentes das Fenams Regionais (além das cinco macrorregiões do país, São Paulo possui sua própria representação regional) confirmaram exatamente isso. Claro que cada estado e município do país tem sua particularidade, mas o quadro geral é um só: os salários estão baixos e as condições precárias, e a situação não se aplica apenas aos contratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS): os empregados das empresas da saúde suplementar também padecem das mesmas dificuldades.

Ao NOVO JORNAL, cada um dos seis presidentes relatou que, independentemente de morarem no sul, norte, leste ou oeste, os 370 mil médicos do Brasil se aproximam nas dificuldades que encontram para exercer seu ofício.

REGIÃO NORTE
▶ Sindicatos filiados à Fenam: 7
▶ Número de médicos na região: 8 mil
De todas as regiões do país, a Norte é a única que apresenta uma séria deficiência em seus quadros de profissionais médicos: com 3.659.637,9 km² (mais de 40% do território brasileiro) e aproximadamente 16 milhões de habitantes, a região possui apenas um médico para cada 2 mil pessoas. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é que essa proporção seja de um para mil.Segundo o presidente da Federação Nacional dos Médicos – Regional Amazônia, o acreano José Ribamar, esse é um dos maiores problemas tanto dos médicos quanto da população da área. “Os profissionais precisam atuar em municípios remotos e de difícil acesso, que ainda por cima não oferecem condições de trabalho ou salário digno. Nas cidades grandes as condições também não são as melhores, então os médicos acabam indo para outras regiões, o que acaba sobrecarregando os poucos que ficam e criando mais um fator de afastamento. É um ciclo vicioso”, conclui Ribamar. Os profissionais médicos da área ainda precisam tratar de doenças específicas do lugar, como a malária. Todos esses problemas se somam àqueles que afligem o resto do país, como a ausência de um plano de cargos e carrreiras para a classe. Por isso, José Ribamar afirma que a maior luta da Regional Amazônia é em prol da realização de uma quantidade maior de concursos públicos estaduais e aplicação de um Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos que assegurem a permanência dos médicos no Norte.

SUL
▶ Sindicatos filiados à Fenam: 8
▶ Número de médicos na região: 60 mil
A rede de hospitais particulares do Sul é até boa. Os problemas enfrentado pelos médicos da região são, assim como os profi ssionais das outras áreas, referentes ao SUS e aos planos de saúde. De acordo com Darley Rugeri, que assumirá como presidente da Fenam Regional Sul no primeiro dia de julho, nenhuma das regiões consideradas das mais desenvolvidas do país está livre dos baixos salários e sucateamento da rede pública.“A profissão de médico é uma das que exige mais tempo de formação, e os trabalhadores da categoria ainda precisam prestar plantões de 24h, 48h. O salário pago pelo estado e pelos planos de saúde fica longe do piso mínimo e não condiz com nada disso”, explica o futuro presidente. A região também não está livre da má distribuição dos profissionais: a falta de equipamento, recursos e estruturas que se percebe nos hospitais dos municípios mais carentes causa o êxodo de pacientes para os centros hospitalares nas capitais. Apesar da categoria sofrer com as empresas de saúde suplementar, Rugeri destaca que sua principal preocupação é com os profissionais que tendem pelo SUS. “A maioria da população só tem acesso à saúde oferecida do SUS. Por isso, a estrutura dos hospitais públicos deveria melhorar, e o governo deveria conceder um plano de cargos e carreiras para o médico poder prestar seu serviço nos municípios mais carentes e ainda ter uma perspectiva de futuro”, argumenta. Ele faz uma comparação: “Enviar um médico a esses municípios sem nenhum plano ou garantia é a mesma coisa que enviar um soldado para combater o narcotráfico sozinho, armado apenas com uma faca”.

NORDESTE
▶ Sindicatos filiados à Fenam: 9
▶ Número de médicos na região: 63 mil
A centralização dos atendimentos médicos na capital e o sucateamento dos hospitais públicos não são dores de cabeça exclusivas do Rio Grande do Norte. Segundo o presidente da Fenam Regional Nordeste, José Meneses, todos os nove estados da região, do Piauí à Bahia, são acometidos de mazelas semelhantes. Para o sergipano, a má distribuição dos profi ssionais médicos pelos estados é a raíz de vários problemas. “Em todo o Nordeste pode-se perceber piores condições físicas e falta de equipamentos no interior dos estados. Por isso, mesmo atendimentos que não são de grande complexidade acabam sendo atendidos nos hospitais das capitais, que ficam inchados enquanto as casas de saúde do interior ficam vazias”, explica Meneses. Para agravar ainda mais a situação, a estrutura precária dos hospitais dos municípios do interior acaba repelindo também os próprios médicos, que acabam se concentrando nas capitais. Assim como os outros presidentes de Regionais, José Meneses reitera a importância de um plano de carreira para que o profi ssional da categoria possa permanecer nas cidades mais carentes sem maiores receios “O problema maior não são os salários, mas as faltas de condições dos hospitais do interior e falta de perspectiva pros médicos que lá trabalham”, explica. Ele também não alivia para as empresas da saúde suplementar: “Muitas vezes é pior trabalhar para um consórcio desses do que para o SUS. Baratearam os planos às custas do salário dos médicos”, reclama o presidente.

CENTRO-OESTE
▶ Sindicatos filiados à Fenam: 9
▶ Número de médicos na região: 23 mil
Os obstáculos enfrentados pelos médicos do Centro-Oeste não fogem do padrão comum às outras regiões do país: são hospitais públicos precários, falta de plano de carreira, descumprimento do piso salarial e má-distribuição dos profissionais, que incham as capitais e deixam os menores municípios vazios. Para Iron Bastos, presidente da Fenam Regional Centro-Oeste/ Tocantins, muitos médicos não possuem os direitos que todo cidadão tem (ou deveria ter). “Imagino que nossos problemas sejam os mesmos que os sofridos por médicos de todo país. A maneira como somos tratados pelos planos de saúde, que ficaram baratos às custas dos nossos salários, só poderia ser descrita como nefasta. A situação da rede pública não é melhor: precisamos de 7.000 horas de formação para receber salários péssimos e trabalhar em hospitais sem nenhum equipamento”, reclama Bastos. O médico afirma que procura pautar suas atividades como presidente da Regional Centro-Oeste/ Tocantins na luta contra a privatização do SUS e por um melhor planejamento por parte dos governos, que, na sua opinião, é o que mais faz falta. “Todas as medidas tomadas são apenas pontuais: se está faltando médico aqui ou acolá, contratam para preencher as vagas e pronto. Isso não basta, é necessário se elaborar um verdadeiro plano de estado para estruturar o setor da saúde e a carreira dos profissionais”, arremata.

SUDESTE

▶ Sindicatos filiados à Fenam: 9
▶ Número de médicos na região: 105 mil (sem contar com estado de São Paulo, que possui uma federação própria). Apesar de ser a região mais rica do Brasil, o Sudeste não está livre das dificuldades da saúde enfrentadas pelo resto do país. Embora existam bons hospitais públicos e privados nas capitais, a rede hospitalar dos menores municípios é deficiente e, em muitos lugares, o piso salarial mínimo da categoria não é respeitado. No entanto, na opinião de Clóvis Cavalcanti, presidente da Fenam Regional Sudeste, o maior problema enfrentado na região é referente à privatização da saúde pública. “Em vez de realizar concursos para os profissionais, como deveria ser feito em toda categoria, os governos estaduais preferem contratar empresas de economia mista, subsidiadas pelo estado, que não têm o mínimo respeito para com os médicos”, critica Cavalcanti. O presidente ainda afirma que a falta de condições e baixo salário
atingem tanto médicos contratados por essas empresas subsidiadas, como os empregados diretamente pelo SUS ou pelos consórcios de planos de saúde. “Tem médico que chega a ganhar R$ 1.500 por mês, e R$ 1.100 são de gratificações. Quando se aposentam, esses profi ssionais só vão ter direito a R$ 400,00 mensais”, aponta. Outro problema levantado pelo presidente é o ambiente insalubre a que muitos profissionais são submetidos ao atender, por exemplo, em hospitais dentro ou próximos de favelas.

SÃO PAULO
▶ Sindicatos filiados à Fenam: 8
▶ Número de médicos na região: 105 mil
São Paulo é o único estado do Brasil que possuem uma federação própria, devido à enorme quantidade de médicos que atendem na área (os profi ssionais do ABC paulista, excepcionalmente, respondem à Fenam Regional Sudeste). São quase 150 mil registrados no Conselho Regional de Medicina de São Paulo, e estima-se que cerca de 105 mil estejam na ativa. Isso faz com que haja uma concorrência muito grande no setor de saúde do estado, o que acaba por diminuir o salário de cada profissional. E, além dos problemas recorrentes de todo o país, São Paulo sofre com difi culdades específi cas de uma metrópole, como o excesso de violência.“Vários dos casos que sobrecarregam nossa rede hospitalar poderiam ser evitados com a aplicação de certas políticas públicas sociais. Por exemplo, nosso trânsito é caótico e todos os dias acontecem muitos acidentes. As estatísticas dizem que 40% dos acidentes mobilísticos de São Paulo causam incapacidade. O número é alarmante e o governo deveria tomar medidas para evitar os acidentes”, argumenta Álvaro Norberto da Silva, presidente da Fenam Regional São Paulo. Ele ainda destaca que, apesar de centros como o Hospital Sírio-Libanês ou o Albert Einstein serem considerados de excelência, a maioria da rede pública e particular não reflete essa situação. Silva conta que o estado não está livre das mazelas comuns às outras regiões, como baixo salário e o descaso das empresas de saúde suplementar; no entanto, os médicos de São Paulo estão, mais especifi camente, sujeitos à violência da cidade grande.  

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