25/02/2013
25/02/2013
Médicos que trabalham no Pronto Socorro Clóvis Sarinho, do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, protocolaram na manhã desta sexta-feira (22), na Promotoria de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte, denúncias de irregularidades no maior hospital de urgência e emergência do Estado. A principal denúncia se refere ao déficit de médicos clínicos gerais e intensivistas nas escalas das enfermarias e do setor de reanimação. Além do MP, os médicos também entregaram a denúncia à direção geral do hospital, bem como a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
O médico do Pronto Socorro, Cássio Cavalcante, que pessoalmente protocolou a denúncia assinada por 14 médicos do setor, lembra que em janeiro de 2012 a escala médica do Pronto Socorro contava com 31 profissionais e hoje esse número foi reduzido para 20 médicos. O plantão que deveria ter três clínicos, muitas vezes é formado apenas por dois. “Em agosto do ano passado contávamos com dois clínicos na escala de plantão na enfermaria, que já era um número insuficiente para cobrir a escala daquele setor durante o mês, e atualmente com a saída de profissionais, quer por transferências, quer seja por aposentadoria, a escala ficou totalmente descoberta. Os médicos do Pronto Socorro já trabalham no limite, tendo que atender outros setores, então, a situação fica insustentável”, afirmou.
Cássio Cavalcante ressaltou que o Hospital Walfredo Gurgel conta com 164 leitos de enfermaria, além das dezenas de pacientes que aguardam algum tipo de procedimento médico em macas espalhadas pelos corredores do hospital. “São pacientes clínicos, cirúrgicos em pós-operatório, neurológicos, dentre outros, que estão sem assistência médica para atender suas emergências e urgências por falta de plantonistas”, destacou o médico.
A situação mais crítica, segundo o médico Cássio Cavalcante, se refere ao setor de reanimação. Segundo o clínico geral, são cerca de dez pacientes internados neste setor em estado gravíssimo, que necessitam de ventilação mecânica, o que requer um médico intensivista de plantão, mas não há. “Não há sequer um médico plantonista, deixando aqueles pacientes entregues à própria sorte, pois os clínicos do Pronto Socorro não têm como sair do seu setor para atender aquelas intercorrências. Tudo isso tem colocado os pacientes numa situação de insegurança sem precedentes, colocando inclusive em risco a vida dos pacientes. Hoje, os pacientes que estão na reanimação estão entregues à própria sorte”, destacou.
“Os médicos do Pronto Socorro são pressionados diariamente pelas famílias dos pacientes a atenderem as urgências das enfermarias de forma imediata, mesmo diante da impossibilidade de fazê-lo. Não é difícil imaginar o risco pelo qual passam os profissionais médicos do Walfredo Gurgel de terem contra si instaurado procedimentos vocacionados à penalização por condutas supostamente violadas do código de ética médica ou, até mesmo, de ordem penal, em decorrência de manifestação de insatisfação, do atendimento, manifestada por parte de pacientes ou familiares”, ressalta o médico Cássio Cavalcante.
De acordo com a resolução nº 1.483/98, do Conselho Federal de Medicina (CFM), é vedado o médico se ausentar do seu setor de emergência para atender em outro setor. “É comum estarmos no Pronto Socorro e sermos solicitados para atendermos pacientes na enfermaria. Para ir atendê-los, temos que desassistir a emergência do hospital. É preciso que o Governo e que a direção do hospital tomem providência porque não há possibilidade de atendimento de intercorrências nas enfermarias. É necessário que seja feita uma escala de plantões de clínicos de 24 horas, bem como uma escala de intensivista, funcionando 24 horas, pois desta forma dará suporte aos pacientes da reanimação para que estes sejam tratados de forma digna e não tenham suas vidas colocadas em risco”, destacou o profissional do Pronto Socorro Clóvis Sarinho.
O médico explicou que a denúncia feita tanto ao Ministério Público, quanto à Sesap e a direção do hospital, tem o objetivo de que as autoridades tomem providências “imediatas cabíveis, para que as vidas dos pacientes sejam preservadas e respeitadas”. “Caso contrário, essas autoridades devem ser responsabilizadas por vidas humanas que estão sendo negligenciadas e princípios básicos da administração pública descumpridos. Procuramos a ajuda do MP para que providências sejam tomadas de forma urgente e imediata”, afirmou. De acordo com o profissional, seriam necessários mais 15 médicos para o hospital, sendo oito intensivistas e sete clínicos para o Pronto Socorro.
Cássio Cavalcante conta que desde novembro do ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde prometeu que enviaria novos médicos para o Hospital e até agora nada. “Estamos tendo a maior paciência do mundo com esse governo, mas chega um tempo que não vai dar mais para agüentar. Não pensamos em realizar paralisações, mas protocolamos essa denúncia de forma a nos resguardarmos juridicamente de possíveis medidas que venhamos a tomar”, afirmou o médico.
A reportagem de O Jornal de Hoje tentou entrar em contato com a direção do hospital Walfredo Gurgel, mas a diretora Fátima Pinheiro estava em reunião e não pode atender as nossas ligações. O secretário de Saúde, Isaú Gerino, também não foi encontrado para comentar as denúncias dos médicos.