11/04/2013
11/04/2013
A situação da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) caminha para o caos. Além da superlotação, que já se tornou comum na maternidade que é referência no atendimento de gravidez de alto risco, com cerca de 20 a 30 puérperas diariamente acima da capacidade da unidade, a Maternidade sofre com a falta de leitos de UTI Neonatal. A MEJC dispõe de 20 leitos de UTI Neonatal, mas hoje pela manhã tinham 28 recém-nascidos precisando de cuidados especiais, sendo oito em leitos improvisados.
Diante dessa situação, a direção optou por fechar as duas salas do centro cirúrgico e do Centro de Recuperação de Operadas (CRO) para abrigar esses bebês ‘excedentes’ em leitos de UTI Neonatal improvisado. Com isso, a realização dos partos cesáreos está comprometida na Maternidade, que realiza uma média diária de dez cesarianas. Hoje pela manhã os partos cesáreos não estavam sendo realizados na unidade por falta de local.
Para ter acesso ao Centro Cirúrgico é necessário seguir normas de higienização, com a utilização de uma roupa especial. No entanto, como as salas estão interditadas, a reportagem d’O Jornal de Hoje teve acesso na manhã de hoje as salas que estão funcionando, de forma improvisada, como leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Na sala onde funcionava o Centro de Recuperação de Operadas, local com espaço para três leitos destinados para as puérperas que ficam após a cirurgia na estabilização, hoje dá espaço para uma UTI Neonatal com quatro recém-nascidos em situação gravíssima. Na primeira sala do Centro Cirúrgico, que já havia sido interditada desde a semana passada, também está funcionando como uma UTI Neonatal improvisada, com três recém-nascidos.
Na noite desta terça-feira (9), mais um bebê prematuro nasceu precisando de um leito de UTI, e como não havia mais espaço, o jeito foi interditar a segunda sala do centro cirúrgico. Na sala, a mesa de cirurgia está desmontada e o recém-nascido utiliza o respirador que normalmente é utilizado pelas mulheres no pós-parto. A sala, apesar de não ser o recomendado, consegue abrigar apenas mais um bebê, pois só há mais um ponto de oxigênio, condição essencial para instalação de um leito de UTI.
A diretora médica da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), Maria da Guia Medeiros, disse que diante da situação realizará uma reunião ainda hoje com a equipe médica para discutir quais providências serão tomadas. No início da manhã de hoje já tinha uma gestante de gravidez de alto risco, funcionária da maternidade, para ser submetida a um parto cesáreo, mas não tinha onde realizá-lo. “Ontem à noite, fizemos cesarianas na sala de cirurgia eletiva. Vamos conversar com a equipe para saber se vamos interditar as cirurgias eletivas a partir de amanhã e transformar o centro cirúrgico ginecológico em centro cirúrgico obstétrico e suspender as cirurgias eletivas. Eu não vejo outra alternativa, dentro do espaço físico que dispomos”, ressaltou. Hoje tinham cinco cirurgias eletivas marcadas.
A diretora conta que na semana passada se reuniu com o secretário estadual de Saúde Pública, Luiz Roberto Fonseca e ficou acertado o compromisso por parte da Sesap de que abriria, ainda esta semana, os seis leitos de UTI Neonatal do Hospital da Polícia, que já estão prontos para funcionar. “Eu não soube oficialmente, mas soube oficiosamente que o secretário transferiu as três pediatras que tinham lá para o Hospital Maria Alice. Então, se o secretário mandou os três pediatras que estavam lá e só precisavam de mais duas ou três para abrir a UTI, ele acabou com as perspectivas de reabrir a UTI. Foi uma perspectiva que surgiu semana passada e frustrou-se, pois entendíamos que os leitos que estão prontos poderiam ser abertos hoje, mas não vai acontecer. Diante da situação que estamos hoje, não vemos uma perspectiva que se resolva hoje, nem amanhã”, desabafou. Para a operacionalização dos leitos da UTI Neonatal é necessário uma equipe de UTI, que a maternidade não dispõe hoje.
Para a diretora Maria da Guia Medeiros, no Rio Grande do Norte não existe rede de assistência materno-infantil. “Muitas cidades do interior mandam para Natal mulheres que têm seus filhos na ambulância. A gestão do Estado é caótica. A gestão do município de Natal em 2012 foi sofrível. Este ano, está tentando melhorar, porém vai demorar muito. Para o SUS somos vaga sempre, pois não podemos negar uma vaga, mesmo que coloque no chão. Como uma equipe pode dar conta de 140 mulheres, e seus recém-nascidos se temos 57 leitos para pós-parto e 15 de alto risco e 13 para cirurgia ginecológica, além de seis leitos de UTI materna e 20 de UTI Neonatal. É só fazer as contas: se temos 90 mulheres internadas, a equipe de atenção é a mesma quando temos 140 mulheres nos corredores”, desabafou a diretora.
Em 2012, a Maternidade Escola Januário Cicco realizou 5.403 partos, sendo 2.340 de pacientes de Natal e 3.063 oriundos do interior do Estado. Da totalidade de partos, 2.556 foram de alto risco, o que corresponde a 47,3% do total. No Centro Obstétrico do Hospital Santa Catarina, foram realizados em 2012, 4.664 partos, sendo 1.878 de Natal e 2.786 do interior. A estatística de partos de alto risco é ainda mais baixa, ficando em 43,67%, ou 2.037 partos de alto risco durante o ano.