18/12/2015
18/12/2015
Em audiência pública realizada na manhã desta sexta-feira (18) na Câmara de Vereadores do Recife, a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) discutiu a epidemia de doenças vinculadas ao mosquito Aedes aegypt – transmissor da dengue, Chikungunya, Zica Vírus e febre amarela – que acomete o estado de Pernambuco.
Convocada pela deputada estadual e médica Vera Lopes, a audiência teve foco no aumento de casos de microcefalia e na Síndrome de Guillian-Barré, e em como o estado vai se manifestar para dar apoio às famílias cujas crianças possuírem essas doenças. A audiência também teve como objetivo o pedido de trazer o hospital Sarah Kubitschek, destinado a atender vítimas de politraumatismos e problemas locomotores, para o estado.
Para expor a complexidade do controle dessas doenças no estado, foram convidados membros da secretaria de saúde de Pernambuco, da prefeitura do Recife, do setor de infectologia do Oswaldo Cruz, que também informaram as medidas de controle e prevenção que já estão sendo tomadas.
Para o médico infectologista e conselheiro fiscal da Fenam, Carlos Frias, que participou da mesa de discussão, a falta de sorologia da doença é ainda um empecilho para que se conheçam melhor as consequências da contaminação pelo Zika vírus. Segundo ele, o choque inicial está gerando uma série de pesquisas, mas que não se sabe muito sobre os desdobramentos da doença. “Se pegar uma vez, pode pegar de novo, como a catapora? O Zika dá imunidade a ele mesmo uma segunda vez? Ainda não sabemos”, explica. Ele ainda afirma que cerca de 80% dos casos são assintomáticos, o que impede uma sorologia mais completa. Frias, porém, acredita que essa onda vai trazer um efeito benéfico para a saúde pública. “Vamos rediscutir o acompanhamento do pré-natal e do atendimento a criança especial, o que, talvez, gere algo positivo para a população”.
Secretário da Fenam no Nordeste, o médico Deoclides Cardoso trouxe ainda a suspeita de que o Zika vírus possa causar sérias consequências não só em crianças. “Foi levantada a suspeita de que o Zika cause um déficit auditivo e visual em adultos contaminados”, explicou. Já o diretor da Fenam em Pernambuco, Antônio Jordão, afirmou a preocupação da classe médica do estado em estruturar um tratamento adequado para as doenças causadas pelo Aedes aegypt, além de frisar a falta de condições básicas para se desenvolver um acolhimento adequado na rede pública de saúde. “Nós, da Fenam, defendemos os médicos e a saúde pública”.
Já Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN e Secretário de Finanças da Fenam, em depoimento declarou sua preocupação com os casos do Rio Grande do Norte: "Infelizmente o RN está despreparado de recursos humanos e de infraestrutura para dar assistência a essa tragédia. O governo federal precisa destinar recursos e criar programas para assistir essas crianças."
Para a chefe de infectologia pediátrica do hospital Oswaldo Cruz, Angela Rocha, Pernambuco só conta com um maior número de casos de microcefalia no Brasil porque vem fazendo o acompanhamento desse surto há alguns meses. “Os outros estados ainda estão contabilizando e notificando casos de meses atrás”. A médica ainda informou que o hospital está acompanhando mais de 200 crianças, e suas respectivas famílias, que estão no limite de medida entre um crânio de tamanho normal e um com microcefalia, o que corresponde a crianças com crânios entre 32cm e 33cm. Ela ainda apontou que são investigadas outras causas da doença.
Sobre a síndrome de Guillain-Barré, a prefeitura do Recife afirmou que o número de casos ainda não saiu da linha esperada e que a mesma é causada por outras doenças que não o Zika vírus. A doença é autoimune e não deixou de acontecer, mas não registrou aumentos na cidade.
Compondo a frente da luta pela saúde pública no estado, o deputado Luiz Eustáquio afirmou a importância da participação da sociedade, mas que a responsabilidade maior do atual descontrole é do estado, que não dá condições básicas de saneamento para a população mais pobre, como o recolhimento do lixo, e não fornece água encanada, o que obriga as pessoas a acumular água em casa. “O poder público tem que fazer sua parte mesmo. Estamos criando uma geração de crianças que não poderão ter uma vida normal por culpa nossa”, afirmou o deputado.
Fonte: Fenam (Com edição do Sinmed RN)