Editorial da semana

25/03/2013

Editorial da semana

25/03/2013

Que palhaçada. O Rio Grande do Norte se transformou num enorme picadeiro, com lideranças antigas e respeitáveis sendo submetidas aos caprichos e delírios do governo. E eu que penso que governo é política, mas acima de tudo administração, assistindo a troca de Secretários, motivada meramente por acordos e interesses miúdos, me confesso atônito. Como é possível que nos enganemos tanto com as pessoas, como é possível que ainda caiamos no conto do vigário, como é possível nos nossos dias estelionato eleitoral? A constituição precisa ter um formato que afaste os incompetentes ou os que afrontam os compromissos assumidos. Não sei como, mas alguma coisa há de se fazer. Continuando o seu esporte favorito de afrontar a categoria médica, o governo tem procurado a dedo os mais rejeitados pelos pares, os que no comando de alguma instituição pouco fizeram além de exibirem sua ojeriza aos colegas. O cartão que qualifica um gestor da saúde para o atual governo é o ódio aos médicos. E quem são esses gestores? Em imagem genial, Nelson Rodrigues definia gente assim como Narciso às avessas, que cuspia na própria imagem, no nosso caso na imagem da categoria a que pertence. Isaú Gerino cai porque, apesar de toda passividade em relação às dificuldades de remuneração e condições de trabalho por que passa a classe médica, não se ajusta ao perfil de perseguidor dos colegas. Dos convidados pelo governo salta aos olhos a equivocada compreensão do médico como problema na saúde, mesmo diante de todo quadro de caos que antes de tudo torna a categoria vítima, submetida a salários miseráveis e a um meio ambiente de trabalho degradante. Diabos, onde vamos chegar? A maternidade terceirizada de Mossoró está com as portas fechadas, a UTI de neonatologia do Hospital da Polícia está fechada, os hospitais do interior não funcionam, os serviços de pediatria de Natal não conseguem fechar suas escalas até o fim do mês, o abastecimento continua precário, os corredores dos hospitais, inclusive maternidades, continuam lotados, todo dia cerca de trinta pacientes esperam leitos de UTI em unidades improvisadas, que não virão, filas de consultas, exames e cirurgias atravessam meses ou até anos. Como no filme Apocalipse Now, é o horror, o horror, o horror… Mas na ótica do governo o novo gestor deverá com tranquilidade apontar um culpado para tudo isso. Quer adivinhar quem será? O Médico, claro. E as soluções? Simples, ponto eletrônico, 12 plantões, enquanto no Brasil o máximo são oito, e um salário miserável, o governo paga aos seus concursados 4.200 reais, enquanto um recém-formado do PROVAB , um programa do governo federal, receberá 8.000 reais. Mas não é possível alguma mudança, o acaso não poderá surpreender? Somos todos filhos do passado, escravos de nossas histórias, trazemos conosco a natureza, como na explicação do escorpião para picar o sapo que lhe ajudara a atravessar o rio. Somos o que somos, mas quem disser que às vezes não há surpresas e surpresas boas na vida poderá queimar a língua. Eu disse isso a um amigo, mas ele me respondeu – De onde a gente menos espera que saia alguma coisa, dali é que não sai mesmo.

Dr. Geraldo Ferreira Filho – Pres. Sinmed RN 

Texto publicado na Coluna Sinmed em Ação do dia 24 de março de 2013, no Novo Jornal.

* A coluna Sinmed em Ação é composta por notas sobre acontecimentos importantes no movimento médico e o editorial com a palavra do presidente, Dr. Geraldo Ferreira, sempre fazendo um balanço dos últimos acontecimentos da semana. A publicação é veiculada sempre aos domingos e nas segundas-feiras está disponível aqui no site do Sinmed.

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