05/03/2015
05/03/2015
A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que regula os serviços prestados nos planos de saúde, publicou em janeiro uma resolução que estabelece normas para o estímulo do parto normal e a consequente redução de cesarianas desnecessárias.
As novas recomendações aos planos ampliam o acesso à informação pelas consumidoras, que poderão solicitar às operadoras os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de sáude e por médico. As regras passarão a valer obrigatoriamente em julho, seis meses depois da publicação da medida.
Para falar sobre este e outros assuntos, o programa “Conexão Potiguar” recebeu a obstetra Valdelúcia de Pontes, que é vice-diretora de Comunicação do Sinmed/RN. Ela comentou a medida e ainda ressaltou as principais vantagens, desvantagens e recomendações nos partos normais e nas cirurgias cesarianas. Veja os principais pontos da entrevista comandada pelo jornalista José Pinto Júnior:
PINTO JÚNIOR: Como a senhora analisa essa recomendação?
DRA. VALDELÚCIA DE PONTES: O índice de cesarianas, no Brasil e no Rio Grande do Norte, aumentou assustadoramente. O índice nacional de parto cesariano está em torno de 84% na rede privada (saúde complementar) e de 40% no SUS.
Qual seria o percentual razoável e aceitável?
O Ministério da Saúde tem como meta o índice em torno de 15%, embora a gente saiba que isso é inviável. O tolerável é em torno de 25%, mas tem muitos fatores envolvidos nessa questão que podem elevar o número de cesarianas.
Quais são as principais ocasiões em que a cesariana é mais recomendável para a gestante?
A cesariana é muito bem recomendada nos casos em que o parto normal não progride como é para ser. Quando o parto normal começa o seu trabalho, ter algum problema seja materno ou fetal pode tornar a cirurgia cesariana necessária.
O parto normal é mesmo melhor?
O parto normal sempre é melhor. Mas isso depende de muitos pontos. Não é só dizer “quero parto normal”. Tudo começa com a educação do casal que quer ter o filho. É preciso ter a atitude de fazer um pré-natal de boa qualidade, para que intercorrências possam ser previstas. Com isso, será possível também fazer a prevenção das gestações de alto risco, em que dificulta a realização do parto normal.
Então para isso tem que ter mais esclarecimento, embora muitas vezes seja feito, mas por uma questão mais de opção que foi dado isso, já que antigamente a opção do parto era indicação basicamente apenas do médico, depois quando colocou a mulher para dar sua opinião na decisão do momento do parto, ele começou a pedir cesariana. Mas, esqueceu-se nisso a educação, a preparação adequada para que ela não tivesse só a opção de cesariana.
Então, na opinião da senhora, o problema é desinformação?
Falta. No caso das mães, elas acabam preferindo a cesariana por medo da dor, sem saber que procedimento, de fato, é ideal para a criança. Além disso, faltam condições para o obstetra. Essa portaria foi divulgada como se a decisão fosse apenas uma escolha médica. Há uma estrutura deficiente, fechamento de maternidades, falta de opção de se ter uma sala de parto adequada, falta uma estrutura hospitalar melhor, sem falar também dos honorários médicos.
O médico que realiza a cirurgia cesariana ganha melhor?
Se tem a impressão errada de que o médico só faz a cesariana porque vai receber mais; e é justamente o contrário. Na cesariana, o médico recebe menos, além de dispor de mais trabalho físico. O contexto precisa ser melhor compreendido.