05/01/2015
05/01/2015
O déficit de pediatras no Rio Grande do Norte está afetando até mesmo os atendimentos na rede privada de saúde no Estado. Um comunicado oficial do Pronto-Socorro Infantil Papi, divulgado no último dia 2 informando a ausência de plantonistas no primeiro final de semana de 2015 por dificuldades de compor a escala, revelou que o problema está longe de ser resolvido e que é cada vez menor o número de profissionais que escolhem a área.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed), Geraldo Ferreira, entre os motivos que contribuíram para o baixo número de especialistas na área estão o baixo valor paga por consultas e procedimentos, a demora nos atendimentos, a demanda excessiva de pacientes e os riscos que os profissionais correm no dia a dia da profissão. Isso porque uma criança exige mais atenção na hora de identificar os sintomas de uma doença, causando atraso nos demais atendimentos, que geram superlotação e sobrecarga dos pediatras. E isso é facilmente corrigido com o aumento do número de médicos de plantão.
Ele fez um rápido panorama dos hospitais com pediatria em Natal. “O Sandra Celeste é pronto-socorro, mas tem um numero insuficiente de médicos, com demora e superlotação. O Maria Alice Fernandes só recebe pacientes referenciados, ou seja, encaminhados para consultas eletivas. O Papi e a Promater, ambos privados, atuam com urgência e emergência e superlotação, priorizando os procedimentos de alta complexidade, como exames e cirurgias para complementar a receita dos hospitais e a Unimed, também”, relatou.
Para Geraldo, a situação da pediatria no Rio Grande do Norte é um drama que precisa ser resolvido urgentemente para não colocar a sociedade em risco. Para isso, é preciso investir em melhorias não só na remuneração dos profissionais, sobretudo os que atendem plano de saúde, mas na melhoria das condições de trabalho e infraestrutura dos locais de atendimento ao público.
Conforme informações da direção do Papi, logo depois da divulgação do comunicado, a unidade conseguiu encontrar plantonistas para compor a escala do final de semana e os atendimentos ocorreram normalmente. Está prevista para a próxima quarta-feira (07), uma reunião interna para tentar resolver o problema gerado pelo déficit de profissionais e evitar que a situação se repita.
Rede pública funciona no limite
Atualmente, a rede pública estadual de saúde possui um déficit de pelo menos 35 pediatras, segundo a coordenadora de Operações Hospitalares e Unidades de Referência da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Cohur/Sesap), Camila Costa. Ela explicou que a pasta tentou, sem sucesso, assinar contrato com cooperativas de pediatrias para diminuir o problema e terceirizar a mão-de-obra. E que é preciso concurso público para a especialidade.
“No ano passado, enfrentamos problemas graves nesta área e tivemos que remanejar profissionais entre os hospitais estaduais para que pudéssemos continuar ofertando o serviço nas unidades. Felizmente, hoje, temos todas as escalas garantidas, mas somente concurso público para acabar com esse problema de vez, já que não temos mais concursados do último certame para serem convocados”, afirmou.
Ela disse ainda que as alas pediátricas dos hospitais Maria Alice e Walfredo Gurgel, que atuam com consultas eletivas e pronto-socorro para queimados, traumas e politraumatizados, respectivamente, estão completas. “Às vezes, dá uma apertada, mas como são referência, principalmente o Walfredo, conseguimos manter as portas abertas, já que não podemos fechá-las”, disse.
A diretora do Hospital Infantil Sandra Celeste, Ana Mesquita, afirmou que a unidade conseguiu vencer problemas crônicos como a ausência de profissionais e a superlotação e que atualmente, funciona de forma tranquila. “A abertura da UPA da Esperança nos ajudou muito, porque estávamos sobrecarregados. Hoje, estamos tranquilos, graças a Deus”, falou.
Possibilidade de melhora em breve
No entanto, Geraldo Ferreira afirmou que essa situação vem mudando há cerca de três meses, quando aumentou a procura pela especialidade nas faculdades de medicina. Isso faz com que surja uma possibilidade de melhora no cenário pediátrico nos próximos anos com a formatura e entrada no mercado de trabalho desses estudantes e residentes.
“Houve uma queda significativa há vários anos, quando os estudantes deixaram de ver a pediatria como uma área boa para se trabalhar, mas isso vem se revertendo há aproximadamente três anos e a nossa expectativa é que o mercado melhore em médio prazo. Além disso, possivelmente, poderemos sentir isso já agora em janeiro, quando dez novos pediatras se formarão e estarão aptos para atender pacientes”, disse.
O presidente do Sinmed falou que o problema pode ser resolvido se houver organização e planejamento, principalmente na rede pública, com a realização de concurso público para a área para suprir o déficit de pediatras nas unidades de saúde e hospitais, a melhoria da remuneração, das condições de trabalho e infraestrutura para que a categoria possa atender os pacientes de forma digna. Já na rede privada, é preciso valorizar o profissional, assinando as carteiras de trabalho e remunerando de forma condizente.