29/06/2014
29/06/2014
A decisão judicial que impediu preventivamente a deflagração de greve, tomada antes da copa, nos levou a perplexidade. O instrumento de greve é legítimo, mundialmente reconhecido e institucionalizado, o Brasil vive um regime democrático e com garantias de direito, mas mesmo assim, uma liminar impediu o Sindicato dos Médicos de deflagrar uma greve que certamente, como todas que fazemos, deveria transcorrer dentro das regras previstas. Julgar uma greve ilegal, pelo confronto com as regras da lei, ou abusiva, por excessos ou prejuízos superiores, é entendível, mas impedir movimentos de trabalhadores, por caprichos de gestores, que se aproveitam de uma situação real, uma copa do mundo de futebol, com visitantes estrangeiros, para protelar negociações que vem se desenrolando há meses, não é bom para a democracia. De qualquer forma, enquanto nosso setor jurídico se debruçava na argumentação contestatória, que tentaria derrubar a liminar, coube-nos cumprir a decisão e aguardarmos.
Quero manifestar meu reconhecimento aos médicos do município de Natal, que tem participado de reuniões, manifestações, assembleias e paralisações, sob o comando do Sindicato, e repetidas vezes tem demonstrado coragem para correr os riscos de paralisar suas atividades e tem mantido a tranquilidade e o bom senso de sempre que aparece a possibilidade da negociação, abraçá-la com responsabilidade.
Qual o impasse a nossa frente? Muito pequeno. Reuniões com o Prefeito Carlos Eduardo já mostraram sua determinação de cumprir os compromissos firmados com a categoria médica, quando de sua eleição. E o propósito de cumprir não é fruto de pressão descabida, mas nasce do seu convencimento de justiça, até porque entendendo que as negociações, se não avançaram adequadamente, na verdade nunca tiveram as portas fechadas, os médicos têm feito seus movimentos com moderação. Cabe ao Prefeito retomar imediatamente o diálogo, pois o que nos separa do que reivindicamos é pouco, não vale o desgaste para a Prefeitura.
E estamos afinal em plena Copa do Mundo. Natal, na verdade, já encerrou sua participação como palco de jogos. O período ainda promete fortes emoções não só no campo esportivo. O Brasileiro, que aprendeu o caminho das ruas, aproveita a oportunidade de manifestar sua indignação com a corrupção, o descaso com a saúde, educação e segurança, as falsas promessas de legado não realizadas, o gasto astronômico do evento comparado aos benefícios, a volta da inflação, o baixo crescimento econômico. Os excessos do aparato de segurança deve ser policiado, as manifestações pacíficas são legítimas, o país não ganhará com repressão exagerada. Da mesma forma, os que se aproveitam das manifestações para desordens, tumulto e vandalismo, alguns ali infiltrados com este claro objetivo, precisam ser tratados de acordo com a lei.
O segundo semestre, que se inicia logo após a copa, tem como evento marcante e decisivo para o Brasil as eleições. Escolheremos Presidente, Governador e Parlamentares federais e estaduais. Talvez nenhuma eleição tenha capturado tanto o coração e a atenção de nossa categoria. Nas redes sociais multiplicam-se grupos de debates com postagens e posicionamentos sobre o tema. Como Presidente do Sinmed e da Fenam, tenho sido incluído sistematicamente nesses grupos, e acompanhado as discussões. Algumas conclusões me parecem visíveis. Constituída de 400 mil médicos nacionalmente e pouco mais de cinco mil no RN, pela primeira vez, parece que a categoria tomará um caminho conjunto. Os conflitos e embates com o governo federal colocam os médicos majoritariamente na oposição. Com uma capacidade suposta de influência em cerca de 40 milhões de voto, a categoria terá peso na eleição do futuro Presidente. Também deverá se articular para eleições de parlamentares médicos ou aliados das causas médicas. No Rio Grande do Norte não será diferente. Aqui, onde a saúde tem elegido e deselegido prefeitos e governadores nas últimas eleições e, mais uma vez, tendo as pesquisas revelado a saúde pública como elemento primordial da preocupação dos eleitores, certamente a força dos médicos poderá ser observada, em apoios ou rejeição a candidatos.
Geraldo Ferreira – Presidente Sinmed RN e Fenam
*Editorial publicado no Novo Jornal, dia 29/06/2014.