01/05/2014
01/05/2014
Foi realizado nesta quarta-feira (30), em Natal (RN), o Encontro FENAM de Mulheres Médicas do Brasil. O evento discutiu a violência, a discriminação e o assédio moral contra a mulher no local de trabalho, os direitos humanos, a vulnerabilidade na profissão e a análise crítica da participação da mulher na sociedade brasileira.
Na conferência de abertura, o sociólogo e escritor, Lejeune Mirhan, realizou uma análise crítica da participação do sexo feminino na política e nos cargos de confiança. Ele destacou, por exemplo, que de cada cinco candidatos à prefeitura ou vereador, apenas um era mulher. “As mulheres têm mais escolaridade que os homens, mas ainda recebem os menores salários”, destacou o sociólogo.
A conselheira do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ana Maria Costa, também pediu mais igualdade e mais direitos na profissão médica. Em sua fala, ela realizou uma reflexão sobre o trabalho e a discriminação por conta da maternidade.
“Os gestores e os formadores de políticas públicas vão ter que pensar sobre o contingente maior da população feminina nesta profissão de assistência essencial. A redução do tempo despendido ao trabalho diante da procriação não pode ser transformado em fator de desigualdade. A procriação é responsabilidade de ambos os sexos, mas o fato da gestação e o aleitamento ocorrerem no corpo feminino, a mulher médica não pode ser punida por isso”, alertou a conselheira.
Durante a mesa “Violência contra a mulher médica”, a diretora do Sindicato dos Médicos da Bahia, Débora Angeli, trouxe comoção ao público ao expor depoimentos de mulheres médicas peritas do INSS que sofrem diariamente violência no local de trabalho.
“Nós colhemos as falas de forma anônima, pois essas profissionais sofrem ameaças de violência física e pediram socorro ao Sindicato. Não há segurança e, quando existe, é insuficiente. Essa vulnerabilidade da médica desencadeia estresse, sofrimento, ansiedade e depressão”, afirmou a diretora.
No encontro, a delegada de Polícia do Rio Grande do Norte, Karen Lopes, trouxe uma palestra sobre a violência sexual e no trabalho. Ela relatou casos de mulheres violentadas sexualmente e fisicamente. Na ocasião, foi exibido um vídeo de uma mulher agredida a socos pelo companheiro, em seguida a questão da impotência da justiça diante do fato desta vítima continuar a manter contato com o agressor norteou o debate.
“Solução a gente quase não tem para o tema, mas falar sobre o assunto ajuda à alertar sobre o fato de que temos que ter consciência política ao escolher em quem estamos votando. Hoje nós não temos estrutura adequada para a notificação compulsória médica nos casos de violência doméstica e o atendimento da vítima, vai muito além do registro policial”, afirmou a delegada ao se referir a dependência emocional das vítimas de violência.
Sobre o tema “Direitos Humanos” a advogada da União, Aline Albuquerque, alertou para o fato de que a população responsabiliza o profissional de saúde pelas falhas e pela precariedade no atendimento público, e não o gestor. “A situação de impotência diante da falta de condições de trabalho gera frustração e adoecimento na vida do profissional médico. Precisamos cobrar responsabilidades”, afirmou a advogada.
Na última mesa do Encontro sobre o “Empoderamento da Mulher na Sociedade”, a doutora em antropologia social pela UnB, Roberta Salgueiro, destacou o papel das mulheres nas equipes médicas. “Elas estão mais preocupadas com as condições de trabalho, estrutura do local, elas reclamam e pleiteiam”, disse.
Ao final do evento, foi exibido um vídeo da candidata à vice-presidência, Marina Silva, sobre a promoção à saúde e a relação com equilíbrio e a sustentabilidade do Planeta. “Cada vez mais o mundo vai precisar mais do olhar feminino. Se os problemas são complexos, vamos precisar de respostas à altura. Ao invés de militarmos por uma causa, é melhor sermos militantes de uma civilização mais justa”, afirmou.
Ao encerrar o debate, o presidente da FENAM, Geraldo Ferreira, afirmou que o objetivo do evento foi analisar e amadurecer as demandas femininas. “Nós estamos tentando ampliar a área de visibilidade da nossa entidade nas questões sociais. Nós temos que estar inserido nesse movimento que está correndo na sociedade”, destacou.
O presidente da CNTU, Murilo Pinheiro, avaliou como importante os temas debatidos no Encontro, e lembrou dos encontros promovidos pela CNTU com a temática das mulheres. “Nós estamos no caminho correto para que tenhamos uma solução à altura. Obviamente estamos preocupados com a quantidade de demandas, mas satisfeitos pelo debate, avaliou”.
Participaram também da mesa de abertura a diretora do Hemonorte, Linete Vasconcelos; o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, JeanCarlo Fernandes; o presidente da Associação Médica do Rio Grande do Norte, Álvaro Barros; a presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí, Lúcia Santos; a vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte, Mônica Andrade, e o secretário de Direitos Humanos da FENAM, José Murisset.