Atendimento pediátrico na rede privada de saúde enfrenta crise

07/04/2015

Atendimento pediátrico na rede privada de saúde enfrenta crise

07/04/2015

A suspensão do atendimento de plantão pediátrico no Hospital Infantil PAPI, na Semana Santa, reacendeu a crise no setor que se arrasta desde o final de 2014. Faltam pediatras porque os hospitais remuneram mal os profissionais, disse o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), Geraldo Ferreira. “É quase um quadro de calamidade”, definiu.

Natal tem dois grandes hospitais pediátricos que fazem o atendimento de plantão 24 horas: PAPI e Promater. No final de semana, o PAPI suspendeu o atendimento por falta de médicos e a demanda reprimida foi dirigida para a Promater, que mesmo com um plantonista a mais (o comum são dois) teve problemas por falta de espaço físico para atender o grande número de pacientes.

O Sindicato dos Médicos pede a intervenção do Ministério Público do Trabalho para resolver as questões trabalhistas entre os hospitais e os pediatras, que não são contratados formalmente como manda a lei, disse Geraldo Ferreira.

O presidente do Sinmed frisou que um hospital pronto-socorro não pode ficar sem atendimento pediátrico e os gestores públicos de saúde também têm que assumir responsabilidades para acabar a crise no setor. Muitos dos pacientes mesmo na rede privada são atendidos pelo SUS, sublinhou.

Mais uma vez o Sinmed, ressaltou o presidente, vai convidar os hospitais para tentar discutir uma solução. Devem participar ainda a Associação Médica e a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Norte, além da Secretaria Municipal de Saúde, porque o Hospital Municipal Sandra Celeste tem poucos plantonistas pediátricos e a maioria não é concursada. Recebe apenas por plantão, explicou Geraldo Ferreira.

Um plantão de 12 horas no PAPI custa cerca de R$ 1.100,00 quando deveria ser pelo menos o dobro, explicou Geraldo Ferreira. Em reuniões passada entre o Sinmed e a diretoria do hospital chegou-se a conclusão de que para manter os plantões era necessário um preço adequado e regularidade nos pagamentos que estavam atrasados. Mas nenhuma solução foi tomada.

De acordo com o presidente do Sinmed, o PAPI tinha dois plantonistas quando seriam necessários quatro para cobrir a demanda de pacientes. Na Semana Santa foi oferecido R$ 2 mil para um plantonista fazer o trabalho de três e, por isso, não houve acordo com os profissionais. “O hospital tem que respeitar os direitos e pagar um salário justo”, cobrou. A paralisação foi comunicada ao sindicato na quinta-feira passada.

Desde janeiro a situação nos plantões pediátricos tem se agravado na rede privada, que abrange o PAPI e Promater, explicou Geraldo Ferreira. De acordo com ele, a rede particular fechou e diminuiu a quantidade de leitos ao atendimento primário (plantões) em clínica médica, obstetrícia e pediatria.

“Não tem atendimento materno-infantil em Natal para receber a demanda”, criticou o presidente do Sinmed. Segundo ele, um pediatra não pode fazer o serviço de dois ou três. Além da suspensão do plantão pediátrico do PAPI, nesta época a demanda aumenta por causa do calor e da chuva que aumentam os casos de viroses, além da epidemia de dengue e chikungunya. A situação tende a piorar, previu Geraldo Ferreira.

Os hospitais da rede privada estão relegando seu papel social em nome do lucro, sentenciou o presidente do Sinmed. A rede particular prefere investir em atendimento de alta complexidade que dá mais retorno financeiro. “Os hospitais têm que investir nos outros atendimentos e tirar de vez da cabeça a ideia de desativar o serviço de pediatria porque dá prejuízo ou não é lucrativo”, advertiu. 

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