09/11/2016
09/11/2016
Para Rousseau, ao discorrer sobre as origens e os fundamentos da desigualdade, o homem natural não tinha propriedade, agia pelo impulso sexual livre, não tinha compromissos morais, era livre. A sociedade o degradou, a propriedade criou o roubo, o casamento o adultério, a interdependência, as desigualdades, a justiça e a lei surgiram para manter a posse dos ricos. Como dizia Sartre, O inferno são os outros. A doutrina Cristã, que impregnou a sociedade por séculos, nos legou a noção do pecado original. O homem traz cem si a semente do mal, essa semente leva o homem à defesa intransigente e egoísta de seus interesses, propelindo-o a artifícios, ilícitos ou crimes, em busca da satisfação de suas necessidades. O homem não nasce bom, ele precisa tornar-se bom. Isso acontece a medida que domina o conhecimento e, por escolhas conscientes, o utiliza para o bem, superando o desejo de utilizá-lo para o mal. Esse conceito cristão foi substituído pelos românticos, com a visão do homem original puro que seria corrompido pela sociedade. Se na teoria do pecado original a culpa está no homem e nas suas escolhas, nos românticos a culpa está na sociedade. Eis aí o apelo para ressentimentos, pedidos de reparação e vitimização. Sem religião, com a família sendo erodida continuamente, sobram às pessoas o consumismo, o entretenimento e as relações pessoais. Cada qual com seu apelo, custo, peso, frustrações, encantos e desencantos. Consumo, Entretenimento e Relações Pessoais, sem limites e sem freios, descambam para a violência de toda natureza como roubo, assassinatos, agressões ou insatisfação pessoal que se refletem em quebra de laços familiares, separações, no aumento extremado de doenças físicas ou mentais, onde se destaca, como epidemia, a depressão. Ao se recusar a aceitar a responsabilidade individual por suas escolhas e destino, a mente humana procura responsáveis pelos fracassos e desastres pessoais. A escolha do culpado cairá sobre os vencedores, como se tivessem tomado parcelas de riqueza, sucesso e felicidade dos outros e não construído com esforço, estudo, trabalho e mérito. Se ser um vencedor desperta despeito e ressentimento, melhor o papel de vítima, cômodo e conveniente, que permite por tabela que a pessoa não seja cobrada por seus atos e até peça reparações pelo sofrimento causado pelas escolhas que fez. Para Theodore Dalrymple, o papel de vítima só faz sentido se existir seu par, o sentimentalismo tóxico, outra marca da sociedade atual.
*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 09/11/2016.