De acordo com o diretor-geral do Hospital Santa Catarina, Reginaldo Rocha, a medida foi tomada de forma preventiva, buscando garantir a segurança da população que procura a unidade. Com as baixas sofridas no quadro de pessoal, segundo informa, não há condições de atender a demanda de grávidas que chegam todos os dias, vindas da região metropolitana da capital e dos mais diversos municípios do interior do estado.
Por ser um centro de referência em partos de alta complexidade no Rio Grande do Norte, muitas mulheres são encaminhadas para o hospital, localizado na Zona Norte de Natal, que durante esse período está recebendo somente pacientes com gravidez de alto risco ou que venham de municípios onde não existe uma maternidade própria.
// Maternidade Escola Januário Cicco
“Em uma situação normal, a maternidade realiza cerca de 600 partos a cada mês, mas por causa desse déficit de profissionais, diminuímos a quantidade de atendimentos. Ainda assim, continuamos fazendo uma média de 400 partos”, explica o diretor.
A expectativa é que a partir do próximo dia 20 de novembro a unidade volte a operar normalmente. É quando novos profissionais devem ser contratados através de uma cooperativa. “Esse processo demora um pouco, pois a tramitação é lenta, apesar de ser tratado em caráter de urgência”, avisa.
Essa demanda que não pode mais ser atendida no Hospital Santa Catarina foi absorvida por outras maternidades públicas, sobretudo as três de responsabilidade do município (Hospital da Mulher Dr. Leide Morais, também na Zona Norte, a Maternidade das Quintas e a Maternidade do bairro de Felipe Camarão), mas com reflexos também na Maternidade Escola Januário Cicco, a maior do estado.
Por estar mais próxima da área do hospital, a Leide Morais acaba sendo a primeira opção de gestantes que não conseguem ser atendidas no Santa Catarina. Com uma média costumeira de até oito partos por dia, a unidade viu esse número saltar nos últimos dias, atingindo 25 partos apenas no final de semana passado.
// Maternidade Leide Morais
Segundo esclarece a diretora da maternidade, Rosário Bezerra, até era previsto um aumento no fluxo de atendimentos, porém, a demanda de grávidas que chegam do interior desestabilizou o trabalho na unidade, que já está superlotada. Na manhã de ontem, 28 mulheres paridas ou em trabalho de parto encontravam-se no local, que possuí apenas 22 leitos.
“O ideal seria acolher apenas as gestantes que são da nossa área, mas também chegam muitas da região metropolitana, como São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Ceará-Mirim”, diz a diretora.
Ela acrescenta que a administração da capital até possuí um pacto com outros municípios vizinhos, o que permite atendimento para as pacientes que vêm dessas cidades, mas o contingente extrapola, inclusive, esse acordo. “Enquanto nos planejamos para receber 60 mulheres de um município, ele manda 180. Esse excedente é que provoca a superlotação”, avalia.
Leitos ocupados deixam as mulheres mal acomodadas
Como os 22 leitos estavam ocupados durante o período em que a reportagem permaneceu na maternidade Leide Morais, algumas grávidas acomodavam-se em uma sala reservada apenas para a observação e medicação das pacientes. No local, três mulheres que haviam acabado de dar à luz descansavam nas camas, enquanto outras três em trabalho de parto estavam nas cadeiras dedicadas às acompanhantes.
Essas últimas, por outro lado, ocupavam lugar nos corredores da unidade ou aguardavam em pé na saleta apertada. Do lado de fora, outras mulheres prestes a tornarem-se mães esperavam a liberação de algum leito. Segundo explica a diretora da maternidade, a prioridade é para as pacientes que residam em Natal, mas os casos mais urgentes são tratados com antecedência.
“Se chegar uma grávida de Natal e outra do interior do estado no mesmo momento aqui, a prioridade será para aquela que estiver em uma situação mais urgente. Por essa razão, às vezes até as que moram na própria área precisam procurar atendimento em outros bairros”, exemplifica.
De acordo com Rosário Bezerra, a superlotação já era um problema frequente, mas nos últimos tempos tem se tornado uma complicação enfrentada diariamente pela unidade. “Antes havia, mas não era na dimensão como está hoje. Além da demanda estar maior, ela agora é diária”, lamenta.
A mesma situação também é encontrada na Maternidade Escola Januário Cicco, onde existem atualmente 20 mulheres a mais que a capacidade do hospital, estabelecida em torno de 120 vagas. Elas ocupam os corredores do hospital, colocadas em leitos improvisados. No momento da reportagem, era nove macas e cadeiras arranjadas no setor de obstetrícia 4.
//Maternidade do Hospital Santa Catarina: lotação máxima
O superintendente do hospital, Kléber Morais, também foi enfático ao questionar o número de leitos existentes atualmente na capital potiguar. “O Januário Cicco foi inaugurado na década de 1950 e ainda hoje é a maior maternidade da cidade. Naquela época, Natal tinha 70 mil habitantes, agora somos quase 1 milhão. É notória a necessidade de uma expansão”, declara.
Ele ressalta ainda a dupla função da maternidade, que também serve de laboratório para alunos dos cursos da área médica e de saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Segundo conta, atualmente são 25 residentes e 12 multiprofissionais afetados diretamente pela superlotação da unidade.
“Não podemos esquecer que também temos a obrigação de ensinar novos médicos, mas essa situação prejudica tanto a assistência quanto ao ensino, sem falar do planejamento financeiro da instituição”, evidencia.
Familiares reclamam do constrangimento
Duas mães que a reportagem encontrou na manhã de ontem, uma no Hospital Dr. Leide Morais e outra na Maternidade Januário Cicco, sofriam com a situação de superlotação enfrentada pelas unidades.
Ana Paula Sales, que já encontrava-se em trabalho de parto, aguardava a liberação de um leito no hospital da Zona Norte de Natal para poder dar à luz. Ela caminhava pelo corredor, próximo à sala de observação e medicação, na qual outras seis mulheres já ocupavam o espaço de maneira improvisada. Sua mãe, Maria dos Prazeres, foi quem explicou a situação.
“Ela chegou aqui ontem e já está com nove meses e nove dias de gestação. A enfermeira falou que vai ser preciso fazer uma cesariana, mas até agora ela não foi atendida. Só fica sentada em uma poltrona”, reclamou.
Não menos constrangedor era a situação de Josiene Oliveira. Na noite da última segunda-feira, ela foi mãe de uma menina que ainda nem tinha nome, mas já enfrentava as dificuldades da superlotação nas maternidades públicas da capital. As duas estavam no corredor do Hospital Januário Cicco, em uma maca.
“Seria melhor que ela estivesse em um quarto, em uma cama. Não aqui, onde tem que passar pelo constrangimento de amamentar e ter os curativos trocados na frente de todos” queixou-se a acompanhante e cunhada de Josiene, Rosana Francisca.