Após denúncias por possível falta de estrutura, assédio moral e até possíveis atos de racismo contra servidores que atuam no Hospital Municipal Doutor Newton Azevedo – inaugurado no dia 18 de dezembro de 2015, em Natal – o Sindicato dos Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaúde) realizou, na manhã de ontem (18), na frente da unidade de saúde, uma manifestação pacífica para chamar a atenção do poder público. O hospital realiza procedimentos eletivas nas áreas de cirurgia geral, ortopedia e urologia, além de concentrar os atendimentos que antes eram realizados no Pronto Atendimento Infantil Sandra Celeste e no Hospital dos Pescadores.
“Não há leitos suficientes e a UTI sequer foi ativada porque a tubulação de oxigênio ainda não funciona. A situação é crítica para pacientes e funcionários que sofrem com más condições de trabalho, assédio moral e até mesmo racismo”, denunciou Célia Maria, alegando que uma funcionária da copa teria sido chamada de “macaca” por uma nutricionista. “A nutricionista disse para a copeira, que é negra, que só poderia ter uma macaca ali comendo as bananas que estavam sumindo. A mesma pessoa disse ainda que os funcionários deveriam usar coleira, assim permaneceriam em seus postos de trabalho”, denunciou a diretora do Sindsaúde.
Uma técnica de enfermagem, que não quis se identificar, segundo ela por medo de represálias, disse que a situação é de caos. “É caótica a situação aqui. Um hospital recém-inaugurado estar atendendo nessas condições, insalubridade, riscos eminentes para pacientes e funcionários, um descaso do poder público. Se for para continuar assim é melhor fechar as portas”, desabafou a servidora.
SMS
O secretário municipal de saúde, Luiz Roberto Fonseca, esteve no Hospital Municipal Dr. Newton Azevedo durante a manifestação, e se disse surpreso com a iniciativa do Sindsaúde. “Fiquei surpreso, pois a Secretaria Municipal de Saúde não foi procurada em nenhum momento pelo sindicato para tratar sobre as questões reivindicadas. Temos uma audiência marcada com o Sindsaúde, no próximo dia 25, quando espero que um diagnóstico dos problemas seja apresentado para que possamos articular soluções. Não é no grito, com carro de som na porta do hospital que as questões serão resolvidas”, lamentou Fonseca, ressaltando que “o hospital foi inaugurado há apenas um mês e ajustes ainda estão sendo feitos”.
O Hospital Municipal de Natal Dr. Newton Azevedo tem 80 leitos, sendo dez de Terapia Intensiva, cinco de psiquiatria, oito de pediatria clínica, 35 de clínica médica e 22 de clínica cirúrgica. A unidade hospitalar conta com atendimento em ortopedia clínica, além de pronto atendimento adulto e infantil 24 horas.
Quanto a nova tubulação de gás do hospital, o secretário municipal de saúde explicou que a nova licitação já aconteceu ontem, com a escolha da nova empresa que vai instalar o tanque de gás para que a UTI seja ativada. “Temos o prazo legal de 48 – caso não haja nenhuma impugnação – para que a nova empresa inicie a prestação do serviço. Ou seja, até a próxima sexta-feira já deveremos estar com essa situação resolvida”, garantiu Fonseca. Em relação ao suposto crime de racismo contra a copeira, o responsável da pasta disse que a direção deve ouvir as partes e uma sindicância será aberta, caso comprovada a prática de racismo, e que a colocação da nutricionista pode ter sido infeliz.
Lista
O Sindsaúde apontou uma lista com os principais problemas diagnosticados na unidade de saúde. São eles:
– Sala de medicação: Falta bancada para o preparo das medicações e a coleta de exames laboratoriais é feita no mesmo espaço, assim como exame de eletrocardiograma;
– Sala de observação para adultos: Espaço restrito a quatro leitos, sem bancada de medicação, rede de gases medicinais sem funcionar, com vazamento;
– Sala de observação da pediatria: No Hospital Infantil Sandra Celeste existiam 14 leitos, atualmente o espaço restringe-se a três leitos e quatro poltronas;
– Falta de gases medicinais na observação pediátrica; nebulização sendo realizada com equipamento de compressão elétrica com barulho intenso;
– Fluxo cruzado de crianças, sem o isolamento necessário entre as que precisam ser apenas medicadas e as que estão em observação (risco de contaminação);
– Posto de medicação da urgência pediátrica sem condições de trabalho; falta de bancada; falta de pia (existe apenas um pequeno lavado para higiene das mãos);
– Falta de gases medicinais na tubulação existente, uso de cilindros em alguns setores; gás de cozinha instalado sem realização de testes prévios da tubulação; falta de cadeiras para servidores;
– Serviço de nutrição com espaço reduzido para atender a demanda de refeições servidas aos funcionários;
– Espaço reduzido para preparo de alimentos, com uso de dois fogões, apenas um exaustor, provocando calor excessivo no setor;
– Uso comum de pia única no setor para lavagem de louça, sem a separação utilizada por pacientes e da utilizada por servidores;
– Funcionário da enfermagem do PS precisa se deslocar para pegar medicações na farmácia, no andar superior;
– Proibição de uso do elevador por servidores, que precisam se deslocar pelas escadas para pegar medicações na farmácia no andar superior, inclusive servidoras de idade e com problemas de saúde;
– Falta de insumos, medicamentos e materiais diversos;
– Laboratório localizado em área distante do PS, e com acessibilidade através de rampa a céu aberto ou escadas; proximidade com a central de gás de cozinha;
– Não há ramal no laboratório;
– Desestruturação do atendimento pediátrico com a relocação dos servidores do Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste para setores diversos; atribuição de profissionais contratados, sem experiências para o atendimento pediátrico de urgência;
– Ausência de cadeiras. Servidores ficam em pé por diversas horas;
– Direitos dos Servidores;
– Redução da remuneração: Retirada de gratificações de servidores que atuavam na urgência pediátrica, que foram realocados nas enfermarias;
– Não é garantido que os servidores do PSI Sandra Celeste permaneçam no atendimento infantil;
– Alto índice de servidores terceirizados e com contratos temporários;
– Proibição do repouso no turno de 12 horas diurnas;
– Abertura do repouso noturno somente na hora determinada para repousar, inviabilizando o uso dos banheiros, enquanto o repouso médico fica aberto dia e noite; quantidade insuficiente para servidores de nível elementar;
– Falta de local específico para guarda de pertences; armários sem fechadura;
– Restrições de trocas de serviços e de remanejamentos;
– Atos de pressão e assédio moral sobre servidores, com ameaças de devolução para a SMS; quantidade insignificante de servidores do quadro em posições de chefia e/ou coordenação;
– Atos de racismo por parte de uma nutricionista da unidade.