Repórter
O Ministério da Saúde declarou estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, ontem (11), em decorrência do aumento inesperado no número de casos de microcefalia em bebês nascidos na Região Nordeste. Rio Grande do Norte, Paraíba e, principalmente, Pernambuco registram casos da doença que ocasiona uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada e os recém-nascidos acabam por apresentar um perímetro cefálico menor que o normal, que habitualmente é superior a 33cm.
No Rio Grande do Norte, foram registrados 21 casos em aproximadamente um mês, tanto em Natal quanto no interior, de acordo com o infectologista Kleber Luz, que trabalha para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e acompanha a situação. Todas as suspeitas estão sendo investigadas e contam com o monitoramento de equipes do Ministério da Saúde, segundo publicação do órgão. Só em Pernambuco, foram notificados 141 casos suspeitos de microcefalia no mesmo período, em 44 municípios, sendo que a média no estado era de 10 ocorrências por ano.
Embora estudos mostrem que essa anomalia congênita pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens (como o uso de substâncias químicas pela gestante, desnutrição, agentes biológicos infecciosos, como bactérias e vírus, ou mesmo radiação) e não haver uma definição da causa do problema nos casos citados, a principal suspeita para este aumento no número de casos é relacionada ao surto de zika vírus que aconteceu neste ano e atingiu, em especial, os estados da região Nordeste.
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Em coletiva de imprensa realizada ontem, o ministro da saúde, Marcelo Costa e Castro, disse que o Ministério está acompanhando e investigando os casos de microcefalia em Pernambuco desde o dia 22 de outubro, quando foi notificado. Uma Equipe de Resposta Rápida às Emergências em Saúde Pública, formada inicialmente por seis profissionais epidemiologistas, foi enviada, imediatamente, à capital pernambucana para apoiar as Secretarias de Saúde do estado e dos municípios nas investigações de campo.
O quadro de microcefalia no Nordeste brasileiro também foi comunicado à Organização Mundial de Saúde e à Organização Pan-americana de Saúde, conforme os protocolos internacionais de notificações de doenças.
É a primeira vez que o Brasil decreta emergência sanitária, desde que se definiram regras para o uso desse mecanismo, em 2011. Após o decreto, que permite ao governo dispensar licitação para compras e contratações, um grupo de especialistas será criado para investigar a causa do aumento de casos.
Ainda ontem, o secretário José Ricardo Lagreca, da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap), se reuniu com representantes da Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária (Suvisa/RN) e da Coordenação de Promoção à Saúde (CPS), para tratar do assunto. Hoje à tarde, às 16h, será realizada uma coletiva de imprensa, no gabinete do secretário, onde serão anunciadas medidas para amenizar a situação.
Perguntas:
– Como é feito o diagnóstico?
Após o nascimento do recém-nascido, o primeiro exame físico é rotina nos berçários e deve ser feito em até 24 horas do nascimento. Este período é um dos principais momentos para se realizar busca ativa de possíveis anomalias congênitas. Por isso, é importante que os profissionais de saúde fiquem sensíveis para notificar os casos de microcefalia no registro da doença no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
– A microcefalia pode levar a óbito ou deixar sequelas?
Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.
– Qual o tratamento para a microcefalia?
Dependendo do tipo de microcefalia, é possível corrigir a anomalia por meio de cirurgia. Geralmente, as crianças, como já informado, precisam de acompanhamento após o primeiro ano de vida. Nos casos de microcefalia óssea existem tratamentos que propiciam um desenvolvimento normal do cérebro.
– Quais estados estão apontando crescimento de casos de microcefalia acima da média?
O Ministério da Saúde está os casos de microcefalia em Pernambuco, estado que tem apresentado aumento de casos da doença, classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como situação inusitada em termos de saúde. Temos recebido relatos de profissionais de saúde sobre o mesmo corrido nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Todas essas suspeitas estão sendo investigadas e todos esses locais contam com a atuação de profissionais de saúde do ministério.
– Há registro de ‘surtos’ de microcefalia em outros países?
Por enquanto, não há relatos na literatura cientifica e nem casos registrados em outros países da associação do zika vírus com a microcefalia. No entanto, nenhuma hipótese está sendo descartada.
– Que exames estão sendo realizados nas crianças e nas gestantes dos estados (PE,
RN e PB) que já notificaram o Ministério da Saúde?
A partir dos casos identificados em Pernambuco, como já informado, estão sendo realizadas
investigações epidemiológicas de campo, tais como: revisão de prontuários e outros registros de
atendimento médico da gestante e do recém-nascido. Também estão sendo feitas entrevistas com as mães por meio de questionário. Os casos seguem para investigação laboratorial e exames
de imagem como a tomografia computadorizada de crânio.
– Neste momento, qual é a recomendação do Ministério da Saúde?
Neste momento, o Ministério da Saúde reforça às gestantes que não usem medicamentos não
prescritos pelos profissionais de saúde e que façam um pré-natal qualificado e todos os exames
previstos nesta fase, além de relatarem aos profissionais de saúde qualquer alteração que
perceberem durante a gestação. Além disso, é importante que os profissionais de saúde estejam
atentos à avaliação cuidadosa do perímetro cerebral e à idade gestacional, assim como à
notificação de casos suspeitos de microcefalia no registro de nascimento no Sinasc.