Prefeitura declara emergência para deter o zika vírus

Prefeitura declara emergência para deter o zika vírus

 Um dia após o governador Robinson Faria decretar estado de emergência na saúde do Rio Grande do Norte, publicado no Diário Oficial de ontem, a Prefeitura do Natal também adotou a mesma medida na capital por um prazo de 180 dias. Com o decreto será possível obter facilidades na compra de bens e serviços que ajudem a conter o avanço dos casos de dengue, chikungunya e zika vírus na cidade – este último, relacionado ao crescente surto de microcefalia em bebês nascidos no Nordeste.

 
O alerta ocorre em um momento delicado para a saúde pública na capital, quando o trabalho de combate ao mosquito transmissor, Aedes aegypti, está prejudicado devido à greve dos agentes de endemias, que completa hoje 21 dias de paralisação.
 
// Dos 389 agentes de saúde que atuam na cidade, apenas 76 não aderiram à paralisação
 
De acordo com o secretário de Saúde do município, Luiz Roberto Fonseca, a interrupção nas atividades de prevenção e controle dessas doenças é irresponsável e expõe a população a um grave risco. Por isso, a Prefeitura também deve entrar com uma representação no Ministério Público pedindo a ilegalidade da greve e determinando o retorno imediato dos agentes às ruas. 
 
Em uma reunião, realizada na tarde da última quarta-feira, o titular da pasta e representantes da Promotoria de Saúde Pública decidiram ainda abrir processo administrativos contra todos os servidores que encontram-se em estágio probatório e aderiram à paralisação, não descartando a possibilidade de demissões.
 
“Essa paralisação acontece em um momento inconveniente, em que o mundo inteiro está preocupado com a situação do Brasil, em função do aumento dos casos de microcefalia e a sua relação com o zika vírus. É uma greve que traz um risco em potencial para todos nós e pode causar um dano muito sério à população”, declarou o secretário por meio da assessoria de comunicação da SMS.
 
// Luiz Roberto Fonseca, secretário de Saúde de Natal
 
No entanto, para o presidente do Sindicato dos Agentes de Saúde do RN, Cosmo Mariz, a responsabilidade pela atual crise na saúde deveria recair sobre o próprio poder público que, mesmo após vários alertas, continuou negligenciando os avisos feitos pelos servidores da proximidade de uma possível epidemia.
 
“A gestão municipal não tratou a população com respeito, por não ter se reunido com os agentes em greve para procurar evitar esse mal maior”, declara. Segundo ele, os agentes já haviam interrompido uma greve anteriormente, com promessas de que teriam as suas reivindicações atendidas. Entretanto, nem todos os pontos foram cumpridos, o que provocou o retorno da paralisação.
 
“A crise enfrentada pelo município de Natal foi anunciada e prevista pela categoria há mais de três meses. A gestão assumiu a responsabilidade de uma nova greve por não ter cumprido com os pontos de pauta que foram acordados anteriormente”, destaca.
 
O presidente do sindicato acrescenta que, mesmo Natal realizando ações efetivas de combate ao mosquito, não seria suficiente para a eliminação da epidemia de dengue, chikungunya e zika na cidade. De acordo com ele, seria necessário também que as outras cidades vizinhas fizessem o mesmo, uma vez que o Aedes aegypti pode migrar. “De nada vai adiantar os esforços apenas em Natal se cada município do estado não fizer o seu dever de casa”, enfatiza Mariz.
 
Mais de 2 mil notificações do vírus
 
Natal é o município com mais casos de zika vírus notificados no Rio Grande do Norte, registrando 2.420 situações suspeitas da doença até a semana passada. Desses, somente 22 foram confirmados. No estado, os números mais atuais apontam 6.424 notificações ao todo, com 73 pessoas diagnosticadas com a doença. 
 
Entretanto, esse número deve ser ainda maior, uma vez que os médicos que atendem os pacientes nas unidades básicas de saúde estavam orientados à assinalar a enfermidade como dengue.
 
Como esclarece a coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, Aline Bezerra, já que a zika apresenta sintomas mais brandos, era preferível, na dúvida, tratar o paciente como se estivesse com uma das modalidades da dengue.
 
//No RN, 73 pessoas já foram diagnosticadas com o Zika Vírus
 
“Até em razão disso, não há hoje um registro preciso das notificações de zika vírus na cidade. Não sabemos determinar qual bairro possuí o maior número de casos, por exemplo, já que muitos sequer informavam o endereço”, explica.
 
Com a comprovação da relação entre a zika e o aumento no número de crianças nascidas com microcefalia no estado, o levantamento desses dados tornou-se necessário, inclusive para conter o avanço da má formação congênita na capital. Até a quarta-feira passada, a secretaria relatava 35 casos da enfermidade em Natal.
 
Coincidentemente, um dos bairros em que houve surto de dengue nos últimos meses, Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte, com 611 casos da doença notificados, também é um dos que lideram o ranking de microcefalia na capital, ao lado do Bom Pastor, na Zona Oeste. Ambos registraram quatro casos do distúrbio após o início do surto.
 
Como forma de prevenção às mulheres que pretendem ter filhos ou já estão grávidas, a coordenadora aconselha o uso de repelentes específicos para o uso de gestantes, com menos produtos químicos, e também alerta àquelas que puderem esperar, que façam isso.
 
“Está se criando certo pânico em volta desses casos, mas esse não é o momento para isso. Agora é hora de usar a cabeça e pensar em uma solução. O ideal seria que, se a mulher puder esperar um pouco mais, que não engravide. O momento não é o melhor”, declara.
 
Pleitos atendidos e  inegociáveis
 
Os agentes de saúde em greve reivindicam, entre outros pontos, melhores condições de trabalho, fardamento completo (incluindo calçados adequados e chapéus de aba longa), exames dermatológicos e de sangue para os servidores que trabalham especificamente no combate de doenças endêmicas, além de reajuste salarial (17,99%), de gratificação (passando de R$150 para R$ 300) e aumento no vale-alimentação (de R$ 10 para R$ 15 por dia trabalhado).
 
Ainda está na pauta do movimento grevista o cumprimento do plano de cargos e carreira que, segundo explica o sindicalista Cosmo Mariz, não é respeitado desde 2012.
Em nota, porém, a Secretaria Municipal de Saúde informa que parte das exigências já está sendo viabilizada. O fardamento requerido pela categoria foi adquirido e deve ser entregue nos próximos dias, enquanto que o aumento do valor do vale-alimentação também foi atendido.
 
O único ponto que a secretaria coloca como inviável, no momento, é o reajuste salarial e de gratificações. Como declara a assessoria de imprensa da pasta, o município está impedido de fazer novas contrações ou promoções por ter atingido o limite da lei de responsabilidade fiscal.
Atualmente, Natal conta com 389 agentes de saúde atuando na cidade, mas somente 76 continuam trabalhando e não aderiram à paralisação.
 
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