NOVO acompanha história de uma recém-nascida com microcefalia
“Ela tem muito que me ensinar”. Com essas palavras a cozinheira Maria José Joaquim, de 31 anos, fala da missão mais especial de sua vida: cuidar da pequena Maria Hortência. Ela nasceu no último dia 4, na Maternidade Escola Januário Cicco (Mejc), e foi confirmada com microcefalia. Até o momento não há uma certificação se o caso está vinculado ao zika vírus.
Segundo Maria, aos quatro meses de gestação ela apresentou um quadro de intoxicação e com 15 dias bateu uma ultrassonografia pelo Sistema Único de Saúde. “O exame acusou que o feto tinha uma alta concentração de líquido no cérebro”, conta.
Pouco tempo depois, aos cinco meses, outro exame apontou uma anomalia. “A morfológica apontou a mesma coisa e uma malformação, sem especificar o local”, lembra.
De acordo com a mãe, os médicos perguntaram se ela estava tomando algum tipo de medicamento. “Eu contei que estava tomando os remédios para deixar a bebê mais forte”, lembra.
No mês de setembro, outra consulta do pré-natal. Os resultados, considera, não foram bem avaliados pela equipe médica. “Eles não observaram a morfológica e a médica que me acompanhava não olhou o resultado da ultra”.
Na última consulta a observação de que com 38 semanas chegará a hora da filha vir ao mundo. “Alegaram que ela estava cansada”. A bebê nasceu após uma cesárea.
A partir daí a surpresa que mudaria os planos da família. Assim que nasceu a criança foi encaminhada para tomar oxigênio. Com os exames veio a confirmação do líquido na cabeça e malformação na perna e a suspeita dos médicos.
“Os médicos disseram que poderia ser ligada ao Zika”, narra a mãe. Todavia, exames ainda vão confirmar a ligação com a doença transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti.
Emocionada, Maria José fala sobre como foi receber a notícia. De acordo com ela, a família tinha que se conformar com o fato, uma vez que a bebê já havia nascido. “Não tinha como eu desistir e jamais eu iria desistir também, tirar um filho antes, por exemplo. Filho para a pessoa é tudo na vida”.
Além da pequena Maria Hortência, a mulher ainda tem outros dois filhos. Uma menina de três anos e um menino de seis. “Ele já esteve aqui e se confirmou também. Não era o que a gente esperava, lamenta”. A família mora em Goianinha, a 53 quilômetros de distância de Natal.
Dez dias após o nascimento da criança, a mãe conta que a saúde de Maria Hortência é considerada boa. “Sem contar o problema na perna e a microcefalia, ela [recém nascida] não apresenta nenhum outro problema de saúde”, ressalta a mãe.
A família aguarda agora o resultado de outros exames pedidos pela equipe médica para saber se o caso é cirúrgico ou não. “É com isso que fico preocupada, se vai ter que operar”, fala.
Mesmo sem uma perspectiva de alta, Maria José espera que até o fim do mês as duas voltem para casa. “E vamos viver nossa vida aprendendo muito com ela porque tenho fé que ela vai viver muito tempo”
20 casos
Segundo o setor de vigilância em saúde da Mejc, a unidade registrou uma média de 20 casos confirmados de microcefalia em 2015. Destes, o setor não soube informar quantos foram vinculados ao Zika vírus.
Atualmente o hospital tem dois bebês internados com a doença que causa uma condição neurológica rara e pode ocasionar problemas de desenvolvimento.
A pequena Maria Hortência e outra recém-nascida que se encontra na Unidade de Terapia Intensiva Neo Natal. Um outro caso esta sendo acompanhando durante o pré-natal.
De acordo com o mais recente boletim epidemiológico emitido pela Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap), foram notificados, até o momento, 181 casos de microcefalia, suspeitos de estarem relacionados ao Zika vírus. Destes, 178 são de nascidos vivos, 3 intra-útero e 12 óbitos.
HUOL disponibiliza estrutura
Após uma reunião com as pastas de saúde do município e Estado, o Hospital Universitário Onofre Lopes disponibilizou suas instalações para os atendimentos de casos de microcefalia registrados no RN.
A unidade vem atuando no setor ambulatorial junto com sua unidade de pediatria. Lá são oferecidos exames aos recém nascidos. É o caso das tomografias, ultrassonografia transfontanela, US abdominal, ecocardiograma e o exame de fundo de olho. “Esses exames são agendados e realizados no hospital pela regulação da Sesap”, explica o superintendente do hospital, o clínico Stênio Gomes.
“Obviamente se houver a necessidade de internação a gente também interna na ala pediátrica”, complementa.
Os pacientes que necessitam dos exames são referenciados para a unidade. A partir daí os exames são agendados. O quantitativo pactuado entre o hospital e as secretarias é de três tomografias por dia durante três dias da semana. No caso das ultras, a média é de uma de cada [transfontanela e abdominal] a cada dia, além de dez consultas semanais. As consultas ocorrem tanto no período da manhã quanto da tarde.
“Não foi estabelecido para a gente, mas tenho o serviço de fisioterapia que também pode ser feito aqui”, diz. Ele lembra que esse serviço esta sendo oferecido pelo Centro de Reabilitação Infantil. Os exames laboratórios ficaram a cargo do Laboratório Central do Estado.
A estrutura, segundo o superintendente, é suficiente para atender os casos. “Tem capacidade de atender a demanda sim, tanto que expus a nossa estrutura e o quantitativo de atendimento foi estabelecido dentro da dimensão do que podemos contribuir dentro do processo”.