Marcelo Lima
repórter
A espera indefinida é parte da sina de quem precisa de uma cirurgia ortopédica na rede pública de saúde. Com um conjunto de hospitais que não consegue atender a demanda para esse tipo de procedimento, o drama de quem aguarda por uma solução se acumula nos leitos e corredores do principal hospital do Rio Grande do Norte. Até ontem, 101 pacientes estavam internados no Walfredo Gurgel com fraturas nos ossos e necessitavam de uma cirurgia.
Só nos corredores do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho havia, pelo menos, 20 pessoas estão internadas. Um deles é o servente de pedreiro Raimundo da Silva Miranda de 54 anos. Residente em Extremoz, ele foi levado para a maior unidade hospitalar do RN depois de sofrer um acidente de moto na tarde do dia 25 de dezembro passado. Resultado: fratura em três pontos de uma das pernas. Desde então, Raimundo espera, num correndo sem ar condicionado e abafado, que seu problema seja resolvido. “Tão dizendo que a cirurgia é difícil pra sair. Só tem lá no hospital de Parnamirim [Hospital Estadual Deoclécio Marques]”, disse enquanto se abanava com um pedaço de papelão.
Aliás, ele não é o único que conseguiu um abanador improvisado. Todos os pacientes e acompanhantes do corredor reclamavam do calor. Em outros pontos, o ar condicionado funciona normalmente. Além de aguardar 14 dias pela cirurgia, os pacientes e os acompanhantes não recebem qualquer previsão da cirurgia. Raimundo Miranda afirma que sente dores na perna fraturada frequentemente. Nem os remédios conseguem amenizá-las. Vale lembrar que a demora para a realização de cirurgias ortopédicas pode deixar sequelas definitivas. “Isso aqui é uma calamidade. A gente paga tão caro nosso imposto e é tratado como bicho”, acrescentou o servente de pedreiro.
O HWG é só parte de uma rede de hospitais públicos e privados que deveriam atender esse tipo de paciente. O maior hospital do Rio Grande do Norte é responsável por fazer intervenções médicas imediatas, principalmente em fraturas expostas. Ele seria a porta de entrada para que, num segundo momento, outros hospitais realizem as cirurgias ortopédicas.
Entre esses hospitais, está o Deoclécio Marques, em Parnamirim. No final do ano passado, os médicos que prestam serviço por meio de uma cooperativa paralisaram os serviços por atraso no pagamento. Conforme a diretora-geral da unidade, Denise Aragão, as cirurgias foram retomadas na última semana do ano. “Os nossos pacientes são regulados a partir do Walfredo Gurgel e do Interior”, informou. São cinco ortopedistas por plantão que conseguem realizar entre 10 e 15 cirurgias por dia segundo disse a diretora. Ainda segundo Aragão, havia oito pessoas esperando por cirurgias em macas no Deoclécio.
De acordo com a pactuação do SUS, o município de Natal também é responsável por parte dessas cirurgias. Embora a Prefeitura de Natal tenha inaugurado um novo hospital no final do ano passado, três centros cirúrgicos ainda estão sem funcionar. Por isso, o município paga as cirurgias ao Hospital Memorial e à Pronto-clínica Paulo Gurgel. Nesse último estabelecimento, houve um recesso de fim de ano do dia 23 até 4 deste mês para manutenção dos equipamentos, da estrutura física e descanso dos funcionários. Segundo o diretor administrativo, Emerson Gurgel, são feitas, em médias, 10 cirurgias ortopédicas por dia pelo SUS.
Esse intervalo de tempo pode ter gerado um crescimento da fila de espera. A reportagem não conseguiu falar com a direção do Hospital Memorial para saber se houve recesso também. A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que, por enquanto, não há outro serviço para atender os pacientes durante o recesso de final de ano. A SMS informou também que no final de março de 2016 os três centros cirúrgicos devem estar funcionando no Hospital Municipal de Natal (antigo Médico-Cirúrgico), prioritariamente, para procedimento ortopédicos. O órgão municipal espera que o serviço público consiga abarcar a demanda que hoje é paga na rede privada. A SMS não informou qual será a capacidade de cirurgias.