Morte por febre amarela em Natal intriga gestores da saúde no RN

Morte por febre amarela em Natal intriga gestores da saúde no RN

 As secretarias de Saúde do estado e município de Natal trabalham com três linhas de investigação para o possível caso de febre amarela registrado na capital. Até o momento, nenhuma das pastas dá como fechado o prognóstico da doença erradicada no Brasil em 1942, mesmo com a sinalização positiva das amostras avaliadas pelos laboratórios considerados de referência nacional, o Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém, e o Instituto Adolfo Lutz (IAL), em São Paulo. 

 
A primeira medida é saber se a paciente recebeu vacina contra a febre amarela, já que o resultado da amostra pode ter sido positivado em virtude de uma vacinação. “A vacina provoca um contato com o vírus, já que é feita a partir do vírus inativado”, explica a subcoordenadora de Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado e Saúde Pública do RN, Cintia Higashi.  
 
Segundo ela, o cartão de vacinação da paciente não foi encontrado e a família não soube informar se a mulher foi ou não vacinada. Um mapeamento nas 167 salas de vacinação da rede segue sendo feito para identificar ou não o registro em 2015. Apesar de que, mesmo que ela tenha tomado a vacina há 30 anos, o exame continuaria dando positivo, uma vez que quando se toma vacina o vírus leva um tempo para estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos e garantir a proteção.
 
Outra possibilidade também é de resultado falso positivo com uma reação cruzada. “Pode ser outro tipo de vírus, mas o anticorpo detectou como sendo o da febre amarela”, conta ela.
 
Também segue na linha de investigação uma coleta de animais para pesquisa viral. “Queremos saber se há registro de vírus nesses vetores, assim como serão coletadas amostras de primatas, principalmente os sagüis, já que um dos sinais de circulação viral é a morte de primatas”, exemplifica. 
 
Segundo as pastas de Saúde do estado e de Natal, a cautela em confirmar ou negar o resultado é motivada pela inexistência de um vínculo epidemiológico na vítima, uma auxiliar de enfermagem, de 53 anos, residente da capital. 
 
“Os registros de febre amarela, em sua maioria, estão associados a pessoas que estiveram em áreas consideradas de transmissão e que precisam ser vacinadas, como o caso dos estados de Goiás, Mato Grosso e Amazônia, ou seja, áreas silvestres”, explica a subcoordenadora Cintia Higashi. 
 
Ainda de acordo com os familiares, a mulher que veio a óbito em julho não se ausentou do estado. Outro questionamento das pastas é quanto aos sintomas apresentados pela paciente. 
 
“A história clínica da paciente não é compatível com a doença. Ela apresentou desconforto abdominal, náuseas, mas não teve febre ou pele amarelada, sintomas padrão da febre amarela”, ressalta a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Juliana Araújo.
 
Segundo o secretário de Saúde de Natal, Luiz Roberto Fonseca, outra singularidade é que normalmente primeiro se tem a história clinica forte, você suspeita da doença, pede o exame que a comprova. Nessa paciente os sintomas que ela expressou não eram compatíveis com a febre amarela. 
 
“O que nos faz fazer um caminho inverso. Tivemos um exame que deu positivo e estamos tentando encontrar subsídios para confirmar ou não a febre amarela”, reforça.
O pedido de uma contraprova dos exames está sendo estudada pela Secretaria de Saúde de Natal objetivando uma maior clareza no resultado. Ainda não há previsão para o resultado.
 
Gerenciamento
 
Seguindo a mesma determinação imposta ao estado pelo Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde de Natal instalou ontem (29) uma sala de gerenciamento para ações de combate ao mosquito Aedes aegypti.
 
Reunindo algumas das principais secretarias do município, o objetivo do espaço é unir esforços nas ações para erradicar o vetor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. 
“Vamos discutir todas as problemáticas e pontos críticos para o combate ao vetor Aedes junto com outras secretarias, já que sabemos que a saúde sozinha não pode viabilizar todas as ações”, diz a diretora da SMS, Juliana Araújo.
 
O Gabinete de Gerenciamento de Crise contará com a participação de representantes da Secretaria Municipal de Saúde, da Secretaria Municipal de Educação (SME), da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana), além de representantes da sociedade civil organizada.
 
Ricardo Lagreca se reúne com Dom Jaime para discutir ações
 
O Secretário de Estado da Saúde Pública, Ricardo Lagreca, visitou ontem (29), o arcebispo metropolitano Dom Jaime Vieira para pedir o apoio da Igreja Católica a uma grande campanha de conscientização dos fiéis no que diz respeito ao combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Lagreca foi acompanhado de representantes do Conselho Estadual de Saúde.
 
Na reunião, o secretário expôs a gravidade da situação com o aumento do número de casos de microcefalia causados pelo vírus Zika, e a sua preocupação com o surgimento de uma nova epidemia de dengue principalmente com as chuvas que já começam a cair no Estado.
 
Foi sugerido ainda que a Arquidiocese oriente aos párocos que nas suas homilias falem da importância de se prevenir contra o Aedes aegypti, tendo em vista a credibilidade da Igreja Católica diante da sociedade. O próprio arcebispo se colocou à disposição para participar de um Dia D de combate ao vetor juntamente com o secretário de Saúde, a ser ainda agendado para o início de janeiro.
 
Ricardo Lagreca considerou a reunião bastante positiva. Segundo ele, é fundamental a participação da Igreja Católica por se tratar de uma instituição de credibilidade junto à população. O secretário ressaltou também a disposição do próprio dom Jaime em participar de um Dia D de combate ao Aedes aegypti. “Gostei da proposta do arcebispo. Isso demonstra a preocupação da Igreja com a situação”, disse Lagreca.      
 
Ministério da Saúde emite nota
 
O Ministério da Saúde emitiu nota sobre a suspeita de óbito por febre amarela em Natal. Confira:
 
“Sobre o caso em investigação, a paciente teve o início de sintomas (não compatíveis com febre amarela) no dia 28 de junho deste ano. Ela evoluiu para o óbito em 6 de julho. Vale ressaltar que a paciente não tinha histórico de viagem à área endêmica da doença. Os resultados dos exames laboratoriais realizados pelo o Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém do Pará, e confirmados pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL), em São Paulo, sugerem infecção pelo vírus da Febre Amarela. O Ministério da Saúde foi informado dos resultados no dia 22 de dezembro. No entanto, ainda é necessário complementar a investigação.
 
É importante destacar que não houve, até o momento, outros casos suspeitos em humanos ou em primatas não humanos (PNH) confirmadas no estado do RN, bem como não existem evidências de transmissão do vírus em humanos no município de Natal (RN) desde 1930. 
 
Para esclarecer o caso, estão em curso outras medidas: investigação epidemiológica do caso; estudo ecoepidemiológico (coleta de insetos e do material biológico dos primatas para pesquisa do vírus); e a realização de exames laboratoriais adicionais nas amostras já coletadas.
 
“A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda transmitida por mosquitos. No continente americano, são observados os ciclos de transmissão urbano e silvestre. O urbano tem o homem como principal hospedeiro, sendo o principal vetor o mosquito Aedes aegypti. No ciclo de transmissão silvestre o macaco é o principal hospedeiro do vírus e os vetores são espécies silvestres de mosquitos, principalmente dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Os últimos casos de transmissão urbana no Brasil ocorreram em 1942, no Acre. Desde então, todos os casos registrados foram decorrentes do ciclo silvestre de transmissão.
 
“O Ministério da Saúde oferta gratuitamente a vacina contra a febre amarela no Sistema Único de Saúde. A vacina é recomendada nas ações de rotina do Calendário Nacional do Programa Nacional de Imunizações às pessoas que moram em área com recomendação da vacina e a viajantes que se deslocam para essas áreas”.
 
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