Justiça proíbe agressor de sair do país

Justiça proíbe agressor de sair do país

 Publicação: 2015-12-08 00:00:00 | Comentários: 0

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Júlio Pinheiro, Maria Emília Tavares e Sara Vasconcelos

Editor do TN Online, Subeditora do TN Online e Repórter



Guilherme Mendes de Faria, acusado de agredir o médico Antônio Andrade, de 65 anos, na última sexta-feira (4), em uma unidade de saúde do município de Tibau do Sul, litoral Sul a 80 quilômetros de Natal, está impedido de sair do país. A decisão assinada pela juíza Juliana Cartaxo Fernandes foi tomada após o Ministério Público do Rio Grande do Norte entrar com uma representação pedindo medidas cautelares contra Guilherme, após informações de que ele estaria de viagem marcada para o Canadá.

ReproduçãoMédico Antônio Andrade precisou levar pontos no supercílio. Agressão ocorreu na última sextaMédico Antônio Andrade precisou levar pontos no supercílio. Agressão ocorreu na última sexta



Segundo o MPRN, Guilherme já está com o visto aprovado e fixaria residência no país da América do Norte, o que poderia atrapalhar o andamento do processo criminal contra ele. Informações de pessoas próximas ao agressor indicam que a viagem estava marcada para o dia 9 de dezembro. “Se a iminente viagem do suspeito se concretizar, os delitos por ele praticados não terão qualquer resposta penal”, diz o documento do Ministério Público. Faria é filho do médico oftalmologista Marco Rey, que atua em Natal, e tem dois irmãos, cunhado e sogro que são médicos. 



No dia do crime, Guilherme foi encaminhado para a Delegacia de Polícia Civil de Canguaretama, onde prestou depoimento, confirmou a agressão e foi liberado após ser lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). De acordo com a representação do Ministério Público, o agressor deveria ter sido preso em flagrante e liberado somente após pagamento de fiança.


O pedido do MPRN foi aceito, ontem (7), pelo plantão judiciário da comarca de Monte Alegre que, além de proibir a saída do país, ainda determinou que ele se apresente mensalmente à Justiça, além de só pode se ausentar por até sete dias da comarca de residência sem necessidade de autorização judicial. Caso as medidas sejam descumpridas, a Justiça poderá decretar a prisão preventiva de Guilherme.



Ação Penal

A Procuradoria Geral do Município de Tibau do Sul irá entrar com representação junto ao ao Ministério Público Estadual, em Goianinha, para que ingresse ingresse com uma ação penal contra o agressor, por crime de desacato a servidor público em pleno exercício da profissão, além de agressão e lesão corporal leve. O resultado do exame de corpo de delito  feito na tarde de ontem, pela vítima, no Itep,  será entregue ao MP hoje, explica o procurador Wellington de Macedo. Se for condenado, o administrador de empresas de 32 anos, Guilherme Mendes de Faria, poderá pegar de seis meses a dois anos de detenção. 



“O Ministério Público e a Polícia deverão abrir procedimento investigativo. O Município também dará total a assistência para que o servidor agredido possa darentrada com ação civil pedindo reparação por danos morais”, afirma o procurador. Macedo criticou a forma como o TCO foi lavrado em que, no caso do depoimento do agredido, sequer consta o nome do agressor. “Houve falhas na lavratura. Existe a vítima, mas não o agressor”, afirma.



O caso

O médico Antônio Andrade foi agredido a chutes e socos na noite da última sexta-feira (4) na unidade básica de saúde de Tibau do Sul. Segundo o Ministério Público, Guilherme Mendes de Faria chegou no posto médico “embriagado, perturbado e agressivo, chegando a esmurrar uma parede, exigindo atendimento médico de urgência”. 



Quando a vítima foi explicar que ele teria que aguardar enquanto ele realizava um procedimento médico, acabou agredido. Mesmo no chão, o agressor continuou a bater no profissional. Como não havia segurança no local, foram amigos do agressor que o seguraram, mas não evitaram que o médico ficasse com um ferimento aberto sobre o olho esquerdo. 



A ação foi filmada por funcionários da unidade e a polícia foi chamada ao local. Guilherme foi conduzido à delegacia. Ontem (7), o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern) publicou nota comentando as agressões “desproporcional e covarde” sofridas pelo médico. Para o conselho, as agressões não têm justificativas e a falta de estrutura em unidades de saúde não dão condições adequadas ao trabalho.



Bate-papo – Antônio Andrade

médico clínico geral e sanitarista



Depois da agressão, que providências o senhor pretende tomar?

Quando ocorreu a agressão, eu já havia terminado a sutura, já havia liberado a sala e aguardava apenas a limpeza para que o colega cirurgião, médico particular dele, pudesse fazer a sutura nele. Alterado, ele pegou o primeiro homem que apareceu pela frente e começou a bater, com muita violência. Eu fiquei bastante surpreendido. Não esperava. Não tinha nenhum sentido. Ele foi agredindo com chutes, socos, pontapés e continuou batendo até que as pessoas que estavam com ele o imobilizaram. A Polícia chegou e deu voz de prisão, o levaram e foi lavrado o auto contra ele.



O senhor também foi a Delegacia prestar depoimento, registrar boletim de ocorrência?

Eu fui prestar meu depoimento, na Delegacia de Canguaretama, onde havia escrivão para lavra a ocorrência. Ele deu o depoimento dele e foi liberado. Eu dei o meu e voltei para terminar o meu plantão. Continuei o plantão até às 7h da manhã do sábado. A ocorrência foi por volta das 20h30. Ele deve ter dado entrada às 19h50 e passaram 40 minutos até a agressão.  



Quantos anos de profissão?

Desde 1978, são 37 anos de profissão. Eu me aposentei em 2005, em Santa Catarina, de onde sou natural,e em 2013 voltei à atividade aqui em Natal. 



O senhor já tinha presenciado algo parecido?

Nunca tinha visto nada parecido. Ele já chegou alcoolizado, tinha caído no banheiro e tinha um corte na cabeça, que não cheguei a ver porque foi o médico particular dele que o tinha atendido. 



Quais as ações que o senhor deve tomar, vai recorrer a Justiça?

Eu já havia feito um exame de corpo de delito com um plantonista, mas hoje [ontem] fiz um junto ao ITEP para não haver questionamentos e vamos encaminhar amanhã [hoje] o resultado para o delegado e para o Ministério Público, em Goaininha, e seguir todos os trâmites para que ele responda.



O senhor vai entrar com ação criminal e também civil por reparação de danos?

O que for necessário. A família, a esposa [dele] veio conversar, dizer que quando bebe fica alterado. Eu disse que ela tinha todo o direito de tentar proteger, mas eu não vou tirar uma palhinha daquilo que corresponde ao que ele fez.



Pela idade, que é um agravante, o senhor cogita enquadrar ele por crime contra o idoso?

 Sim. Eu tenho 65 anos, ele tem 32. Ele tem acima de 1,80 cm e eu 1,65 cm, não tinha proporção. Primeiro, agressão não se justifica em situação alguma. Muito menos ali, que ele já havia sido atendido e estava aguardando a liberação da sala. Foi uma agressão gratuita e covarde. Ele precisa aprender a responder por aquilo que faz. A Justiça que vai se encarregar agora.



O caso ganhou uma repercussão com o vídeo nas redes sociais…

Essa repercussão é porque a sociedade está farta de tanta violência e de impunidade. Enquanto estava lá esperando, ele gritava que era filho de fulano de tal, sobrinho da fulana de tal. E isso dá o direito de maltratar as pessoas, sair batendo? É um comportamento fora do padrão. Então, que ele responda.



Guilherme Faria emite nota e se desculpa por agressão 

 Guilherme Mendes de Faria publicou nota pedindo desculpas pelo episódio. No comunicado emitido no último domingo (6), ele afirma que a atitude foi impensada e que vai responder pelos atos. Também circulou nas redes sociais uma nota supostamente do pai de Guilherme Mendes, o médico Marco Rey, que se diz triste e constrangido pelo ocorrido e pede desculpas ao médico Antônio Andrade. Confira a nota:



Na sexta-feira, 4 de dezembro, no município de Tibau do Sul, me dirigi ao posto de saúde para receber atendimento devido a um acidente que acabara de sofrer. Nervoso e numa ação impensada, cometi um ato de agressão ao Dr. Antônio Andrade.

Peço desculpas aos profissionais do Posto de Saúde, à Classe Médica, à sociedade e, especialmente, ao Dr. Antonio Andrade e todos os seus familiares por minha atitude.



Peço desculpas, também, aos meus pais, minha esposa, meus irmãos, familiares, amigos e, especialmente, às minhas filhas, que estão sofrendo com tudo isso e, injustamente, sendo responsabilizadas pelo meu ato.

Não tenho como fazer o tempo voltar atrás para apagar e evitar meu ato.



Esclareço ainda, que sou residente e domiciliado em Natal, onde exerço minhas atividades profissionais, me encontro na cidade, bem como que nunca treinei qualquer esporte ligado às artes marciais.



Finalizo externando meu mais profundo respeito por toda classe médica, da qual meu pai faz parte e nela construiu toda sua vida, como também meus irmãos, cunhado e sogro. Reforço minhas desculpas ao Dr. Antônio Andrade.

Ressalto, por fim, que estou ciente da consequência do meu ato e estou à disposição para todos os esclarecimentos necessários.



Natal/RN, 06/12/2015

Guilherme Mendes de Faria

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