Ice pesquisará casos da microcefalia

Ice pesquisará casos da microcefalia

 

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Arthur Barbalho e Sara Vasconcelos

repórteres



O aumento do número de casos de dengue e o surto de microcefalia relacionada ao zika vírus tem motivado ações efetivas de combate ao mosquito Aedes aegypti em todo país. No campo da pesquisa, o papel da Universidade Federal do Rio Grande Norte, que já se destaca por desenvolver o método ovitrampa – uma espécie de armadilha que ajuda a entender onde há maior incidência do mosquito, a monitorar os focos e estabelecer estratégias de combate – deverá ser ampliado. O Ministério da Saúde pediu que o Instituto do Cérebro (Ice) comece a pesquisar o comportamento do cérebro dos pacientes diagnosticados com microcefalia, com o objetivo de garantir ações que possibilitem uma melhor qualidade de vida para eles. 

Emanuel AmaralNo Rio Grande do Norte, foram confirmados 35 casos de microcefalia relacionados ao vírus zikaNo Rio Grande do Norte, foram confirmados 35 casos de microcefalia relacionados ao vírus zika



“Estamos começando as pesquisas, que até então não existiam. O foco é dar o suporte necessário aos pacientes diagnosticados com microcefalia”, afirmou o diretor do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o neurocientista Sidarta Ribeiro. Sem adiantar as linhas da pesquisa, Sidarta contou que o convite do Ministério da Saúde foi feito em uma reunião, na última terça-feira (15), em Brasília com representantes dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Saúde, e representantes do Ice e de outros institutos de pesquisa, de agências de financiamento e especialistas de diversas regiões do Brasil.



De acordo com Sidarta Ribeiro, são poucas as pesquisas que tratam sobre a o zika vírus ou sua relação com os casos de microcefalia. Uma busca no PubMed – serviço banco de dados online da Biblioteca Nacional de Medicina do Estados Unidos e que atualmente conta com mais de 25 milhões de publicações científicas – encontrou apenas 213 resultados sobre o zika. Para efeito de comparação, o site mostra 14695 resultados para dengue e 2.570 para a febre chikungunya.



O zika vírus também pode ser responsável pela síndrome de Guillain-Barré, uma doença autoimune que atinge o sistema imunológico e parte do sistema nervoso central.



De acordo com Sidarta Ribeiro, o encontro em Brasília serviu para discutir ações de curto, médio e longo prazo para combater uma possível epidemia da doença. “O maior importante, neste primeiro momento, é que as pessoas precisam entender que temos que combater o vetor, que neste caso é o mosquito Aedes aegypt. É bem provável que o zika vírus esteja relacionado com os aumentos do caso de microcefalia, que é uma doença grave. E as pessoas precisam entender que esse vírus, essa situação que estamos vivenciando agora, é algo muito grave”, explicou ele.



Descoberto em meados da década de 1940 em Uganda, na África, o zika era tratado pela comunidade científica como um vírus de baixa periculosidade. O professor contou que esse cenário mudou, o que exige ações imediatas. “O vírus foi descoberto há quase 70 anos, contudo, só recentemente que ele passou a ser estudado, até pela possível relação com a microcefalia. Esse vírus só chegou ao Brasil em meados de junho do ano passado, durante a Copa do Mundo. Isso que estamos vivendo hoje no país (o surto de zika e de microcefalia) já aconteceu na África e na região da Polinésia, na Ásia, portanto, é algo grave e que a curto prazo só pode ser evitado através do combate ao vetor”, destacou Sidarta.



O pesquisador afirmou ainda que o período entre o final do mês de janeiro e o início de fevereiro deverá ser crucial, onde o risco do surgimento de uma epidemia será grande. “Se não houver uma conscientização por parte da população, as ações do Ministério da Saúde não serão suficientes para combater esse surto. Todos têm que trabalhar para evitar que as pessoas sejam infectadas, e para isso, só combatendo o mosquito. É um problema de todos nós”, declarou.



Atualmente, o Rio Grande do Norte é o segundo estado do país com maior número de casos confirmados de microcefalia relacionados ao zika vírus. Segundo o Ministério da Saúde, dos 134 casos registrados no país, 35 foram no RN, atrás apenas de Sergipe, com 51 diagnósticos. Os casos em investigação no Estado já chegam a 101. 



Lacen começa em janeiro a investigar casos do zika vírus

Gestantes e bebês com suspeita de Zika e microcefalia farão, a partir de janeiro, os exames para diagnóstico da zika no  Laboratório Central do Rio Grande do Norte. O Lacen está habilitado pelo Ministério da Saúde para realizar os exames dos casos do Rio Grande do Norte, na dependência do envio de insumos para poder funcionar. O material está sendo adquirido via licitação pública, junto ao Ministério da Saúde, em caráter de urgência para atender a demanda nos novos laboratórios capacitados para realizar o diagnóstico de zika.



Na última sexta-feira (18), o Ministério da Saúde confirmou que 11 novos Laboratórios Centrais (Lacens) de todo país estão capacitados para realizar exames de diagnóstico do zika vírus. Entre eles, o do Rio Grande do Norte, localizado no bairro das Quintas, em Natal. 



“Nós fomos capacitados, temos uma equipe de seis profissionais para isso, equipamento e laboratório e esperamos, já em janeiro, receber os insumos e começar a fazer o diagnóstico o que e deverá reduzir o tempo de espera pelo resultado de 30 para cerca de 10 dias”, afirma a diretora-geral do Lacen, Maria Goreth Lins de Queiroz. 



O laboratório de biologia molecular do Lacen é responsável pelo diagnóstico de outras doenças e síndromes, como o HIV, e possui o equipamento paro o exame PCR (Biologia Molecular) em tempo real. “Não serão necessários novos investimentos por parte do Estado”, afirma.



Devido o alto custo do exame molecular para identificar o genoma do vírus, Gorete Lins afirma que os procedimentos obedecerão critérios rigorosos estabelecidos em protocolo do Ministério da Saúde. 



Ovitrampas

De acordo com a professora Renata Antonaci, as ovitrampas instaladas nos bairros ficam a uma distância de 300 metros umas das outras, sem uso de substâncias para atrair o mosquito. “Vimos que uso de produtos não tinha resultado. Normalmente, essas substâncias têm o cheiro forte, e isso na incomoda os moradores. Vimos que apenas a água parada e uso da palheta já eram suficientes para simular um criadouro do mosquito”, lembrou ela. “O mais trabalhoso é a logística de instalação e recolhimento, mas o custo desse trabalho é baixíssimo”, completou. Atualmente, 23 agentes de endemias fazem o trabalho de recolhimento das amostras, de segunda à sexta-feira. Todos receberam treinamento específico com a equipe da professora Renata Antonaci para trabalhar com as armadilhas e fazer a coleta. A UFRN agora trabalha em pesquisas para aperfeiçoar o método. “No momento, buscamos melhorar a eficiência da armadilha, chegar a um ponto de corte que mostre quando há o surgimento de um surto”. O CCZ tem trabalhado com a média entre o índice de densidade de ovos por armadilhas e os índices de casos de doenças em humanos. Há ainda o monitoramento viral, através da coleta de mosquitos adultos. “Esses exemplares são trazidos para a UFRN, que identifica em laboratório se o mosquito possui vírus e qual é o tipo, entre os três principais”, afirmou Alessandri de Medeiros, reforçando a preocupação com a circulação simultânea das três doenças. 

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