Despesas dos planos de saúde superam orçamento do SUS em 2014

Despesas dos planos de saúde superam orçamento do SUS em 2014

 Os gastos dos planos de saúde com internações, exames, terapias e consultas, em 2014, superam, pela primeira vez, os do Ministério da Saúde. No ano passado, as operadoras desembolsaram R$ 104,6 bilhões. Já o Ministério da Saúde, R$ 98 bi. Os dados são da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), que representa os planos de saúde. O Orçamento do Ministério da Saúde em 2014 foi de R$ 106 bilhões. No entanto, descontados os gastos com salários de funcionários ativos, aposentados e pensionistas, restaram R$ 98 bi para internações e consultas na rede federal de saúde e para a realização de campanhas preventivas e de vacinação. No Brasil, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), 26,1% dos brasileiros têm plano de saúde. Ou seja: o Governo Federal gasta menos do que os planos de saúde e assiste um número muito maior de pacientes.

As estimativas da Associação Brasileira de Medicina de Grupo indicam que os planos de saúde gastaram o equivalente a R$ 105 bilhões para custear despesas assistenciais, o que equivale a R$ 2.059 per capita. O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte e da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Geraldo Ferreira, lembra que mais de 70% da população brasileira é atendida pelo Sistema Único de Saúde, com recursos semelhantes ao da saúde suplementar, que atende a menos de 30% da população brasileira. No Nordeste brasileiro, a situação é ainda mais gritante, quando aproximadamente 85% da população é atendida pelo SUS.

“Embora todo o investimento, o nível de reclamação em relação aos planos de saúde já é razoável e tem sofrido uma degradação ao longo dos últimos anos, mas mesmo assim ainda fica acima do investimento federal que é responsável por atender uma população duas vezes e meia maior do que os planos de saúde”, considera Geraldo Ferreira, presidente da Federação Nacional dos Médicos.

Geraldo Ferreira crítica o baixo investimento público do Governo Federal na saúde e cobrou a aprovação do projeto de lei que estabelece a destinação de 10% da receita bruta federal para a saúde. “É notório e comprovado que o Governo Federal precisa investir mais e esses dados só confirmam o clamor dos movimentos sindicais pela aprovação do projeto de lei que destina 10% do PIB para a saúde. Mas o problema também não é só investimento. É necessário melhorar a gestão desses recursos, já que, infelizmente, há má gestão e muita corrupção”, afirma.

O presidente da Fenam acredita que além do baixo investimento, a acessibilidade é o grande desafio do Sistema Único de Saúde. “O problema na verdade é a população conseguir ter acesso aos serviços, pois quando conseguem, a maioria sai satisfeito, mas o difícil é chegar lá. Muitos pacientes estão morrendo na fila em busca de atendimento”, lamenta o presidente Geraldo Ferreira.

Na avaliação apresentada pela Abramge não está contabilizado o investimento do Ministério da Saúde em novas estruturas. “Em 2013, os valores ficaram parecidos. Depois o nosso gasto foi aumentando. É uma tendência. Os planos estão incorporando muitas novidades tecnológicas e isso aumenta os custos. Outro fator é o envelhecimento da população. Então as pessoas estão procurando mais exames e mais internações. Uma consulta, em média, gera cinco exames – explica Antonio Carlos Abbatepaolo, diretor executivo da Abramge.

O gasto dos planos em 2014 foi 15% maior do que os R$ 90,7 bi gastos em 2013. O aumento entre o ano retrasado e o passado foi de quase R$ 14 bilhões. Um dos fatores para isso, além do crescimento de atendimentos, foi a alta do dólar. É que grande parte dos materiais usados nos atendimentos são importados. E esse, inclusive, é um dos argumentos mais usados pelos empresários da saúde para pedir a redução da carga tributária para o setor. O levantamento da Abramge calculou ainda que os planos de saúde movimentaram um volume de recursos equivalente a 2,5% do PIB brasileiro no ano passado.

Em 2014, o estado do Rio Grande do Norte ocupou a 16ª ocupação, quando considerado o volume de recursos repassados pelo Governo Federal ao Governo Estadual, para custear as despesas de saúde. Para o ano passado, estava previsto no orçamento da União repassar cerca de R$ 1 bilhão ao Governo do Estado, mas apenas 90,3% foram efetivamente disponíveis. Considerando a população do Estado, cerca de R$ 3 milhões de pessoas, o volume repassado pelo Ministério da Saúde ao RN correspondeu a R$ 294,48, per capita, volume inferior à média nacional de R$ 302,58.

 

*Seção Cidade – Dia 09/03/2015.

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