O poder e ilusão das ideias: O jogo da ideologia contra a literatura e as artes

05/11/2025

O poder e ilusão das ideias: O jogo da ideologia contra a literatura e as artes

05/11/2025

O poder e ilusão das ideias: O jogo da ideologia contra a literatura e as artes

O ceticismo, o relativismo, o niilismo e a ideologia se deram as mãos para a destruição da arte. A visão de um mundo fraturado, apodrecido, horrível, deprimente, vazio e ininteligível, concebida pelos filósofos do pós modernismo alimentou a contestação do patrimônio cultural do ocidente. “O cinismo e a feiúra se tornaram o jogo que você tinha que jogar para ter sucesso no mundo das artes”, escreve Stephen Hicks. As obras literárias tem o poder de invasão de nossa realidade, quando criadas por um gênio. “Os escritos dos gênios constituem o melhor caminho em direção à sabedoria”, diz o crítico literário Harold Bloom.  “O amor é um teste, Sancho. Aquele que sabe se apresentar melhor perante a amada ganha o papel. Ela vai questioná-lo, e você fará bem em ter as respostas mais nobres às suas perguntas, pois ela as fará também a outros”,  diz Quichotte ao filho imaginário, com quem viaja em busca do encontro e da conquista da amada Salma, no livro Quichotte, de Salman Rushdie, que usa como referência outro Quixote, obra prima de Cervantes. “Como você acha que vai fazer isso, um pangaré velho e acabado que nem você?”, pergunta o jovem, dando ensejo à resposta do velho à suposta pergunta da amada sobre como ele saberia se é o tipo de homem que ela deseja. “Me conhecerá pela intensidade de minha emoção para com você, e pela escuridão em que sonho com você, e pela beleza dos feitos pelos quais me provarei, pois a beleza está no fazer. E pela postura resoluta de meu queixo, enquanto dobro o  arco de minha vida em sua direção, e pela ideia dominante que me possui, a de que você tem que ser minha.” Os clássicos sempre ajudam, dirá Quichotte em outro diálogo. Quando aborda, em A Casa Dourada, a confusão moderna da identidade, Salman coloca nas palavras de Riya a questão: “Minha vida adulta coincidiu com o alvorecer da Era da Identidade, e as discussões, questões e inovações sobre e em torno do assunto, a verdade é  que nossas identidades – nacional, racial, sexual, politizado, beligerante – não são claras para nós e talvez seja melhor que permaneçam assim. A Identidade, especificamente a teoria da Identidade de gênero é um estreitamento da humanidade.” Riya fala, mas já era tarde, seu amado D. Golden, perdido nos conflitos da Identidade, buscou alívio com o fim da própria vida. As obras literárias tem o poder de invasão de nossa realidade, quando criadas por um gênio. “Os escritos dos gênios constituem o melhor caminho em direção à sabedoria”, diz o crítico literário Harold Bloom. A literatura é uma coisa poderosa, muito longe do amontoado de escritos medíocres, ditados pelo politicamente correto. Os filtros ideológicos se infiltraram na academia e nos críticos, ameaçando matar toda riqueza cultural de séculos, apresentando o cânone literário ocidental como a exaltação a um conjunto de injustiças, que deve ser destruído. Racismo, sexismo, colonialismo dominam os estudos nos departamentos de literatura, com especialistas tentando encontrar nas entrelinhas das obras racismo, misoginia e homofobia. Virtudes heróicas, natureza humana, convenções, gêneros biológicos, a tradição que importa, função da arte que não é incomodar e irritar, o fato do mal estar no coração humano, todos esses temas da grande literatura são postos em cheque pelo políticamente correto. Por que eles não querem que as pessoas leiam Shakespeare, se interroga Elizabeth Kantor, para colocar que o conceito de natureza humana sempre foi a chave para o entendimento de sua obra, por isso universais. Tal fato é contestado na ideologia dos departamentos de literatura, onde pontifica o relativismo, cada um tentando definir seu próprio conceito de existência. Shakespeare também mostra um mundo ordenado, onde o preço de desafiá-lo é alto, Elizabeth diz que esses professores não querem que as pessoas aprendam com a leitura que algumas escolhas são inerentemente destrutivas. Antes que os professores do politicamente correto destruíssem a programação, a literatura era a pedra angular da cultura ocidental. Isso ocorria porque a literatura era capaz de civilizar e enobrecer as pessoas. De uma forma ou de outra, diz Elizabeth Kantor “todos nós apreciamos e desejamos a beleza, admiramos o que é bom e reconhecemos verdades – e nos sentimos constrangidos a buscar esses ideais.” Acima de qualquer viés político, a grande literatura vai mostrar, segundo Kantor,  uma dessas três qualidades: “ a verdade superior da obra, seu valor moral ou sua beleza desconcertante – ou uma combinação delas.” Harold Bloom, apaixonado pelos clássicos, diz em seu livro Gênio: “ Existe um Deus dentro de nós, e esse Deus fala.” E comovido celebra: “ Os grandes homens do passado chamam-nos com afeição.”

Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do Sinmed RN

Artigo publicado no jornal Agora RN em 05/11/2025

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