O Livre Arbítrio – artigo de Geraldo Ferreira

25/08/2017

O Livre Arbítrio – artigo de Geraldo Ferreira

25/08/2017

O Livre Arbítrio – artigo de Geraldo Ferreira

 

Todo ser humano busca o que é bom para si mesmo e é inclinado a amar os bens por seu valor intrínseco, não há nada de repreensível nessa inclinação do homem para a busca da Felicidade ou sua autorrealização. Bonnie Kent, em capítulo sobre a vida moral no livro Filosofia Medieval, cita que essa busca é parte de nossa natureza e forma a base psicológica da Esperança. Já a inclinação para a justiça forma a base psicológica da caridade, que serve como freio do impulso natural de buscar nossos interesses acima de tudo. João Duns Escoto diz que quando se busca a Felicidade como única motivação, perde-se a liberdade necessária para a responsabilidade moral. Um agente moral deve ter forçosamente uma inclinação para a justiça. Agostinho defendia as virtudes como dádivas da graça, enraizadas na caridade, doada por Deus, no que comunga com Paulo na conclusão de que ninguém se encontra além da esperança do progresso moral transformador da vida.  Confrontando essa ideia de que as virtudes não são disposições adquiridas por anos de aprendizado e prática, Abelardo, que foi grande professor no admirável mundo novo da universidade medieval de Paris, as entendia como fruto de desenvolvimento e de prática, tornando-se uma nossa segunda natureza. Tomás de Aquino não duvidava que os seres humanos pudessem desenvolver virtudes verdadeiras, mas seriam adquiridas e dirigidas à Felicidade imperfeita da vida terrena. Só a caridade, no entanto, como uma  disposição concedida por Deus, poderia  transformar nosso caráter moral, sendo a forma de todas as virtudes. Agostinho, salientando o papel da graça, clamava: A obra está além de mim, a menos que me abras o caminho.  A teoria da ação de Tomás de Aquino envolvia passos discretos no caminho do ato voluntário e não apenas um conflito entre vontades e paixões, ou no dizer de São Paulo anseios da carne e do espírito que se opõem. Os seres humanos são livres, dignos pois de louvor e culpa, sujeitos à Felicidade ou aos sofrimentos. Para conciliar liberdade da vontade com a providência divina duas teorias se levantam. Os compatibilistas que argumentam que a vontade pode ser livre mesmo condicionada por fatores externos e os libertários que dizem que a vontade pode mover-se espontaneamente. Tomás de Aquino postula que sem o livre-arbítrio não haveria mérito ou demérito, e nenhuma punição ou recompensa justa. O princípio do livre-arbítrio estabelece a conexão entre liberdade e responsabilidade.

 

*Artigo de Geraldo Ferreira publicado no Novo Jornal em 25/08/2017

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