07/02/2017
07/02/2017
As ideias têm consequências, previne Ricardo M. Weaver, e a refutação dos universais negando, na visão empírica de Locke, tudo que transcendesse a experiência, levaria fatalmente à conclusão de que o homem poderia ser explicado pelo meio ambiente e consequentemente moldado. Se o Renascimento trouxe o homem ao centro do universo, o Iluminismo, movimento do século XVIII, com repercussões em todo mundo, mais marcantemente na França, pôs a razão como centro da vida. Lá, ele se concretizou de forma brutal, no conflito que abriu a idade contemporânea, a Revolução Francesa. Com rompantes do romantismo e da visão de que o homem era bom, mas corrompido pela sociedade, o Iluminismo desencadeou uma guerra à organização social da época, e jogou o pensamento racional como substituto de Deus como explicação do mundo. O combate ao absolutismo, o anticlericalismo, mas acima de tudo o império da razão permearam todos os escritos dos intelectuais franceses do período, onde pontificaram Diderot, Voltaire, Montesquieu, D’Alembert e, principalmente, Rousseau. Não se sabe se previam ou desejavam a revolução, que ao fim desencadearam, mas Condorcet, o único que a viu irromper teve nela as maiores esperanças, até que teve de fugir do terror e morreu na prisão em 1794. A Revolução Francesa com seus atos e delitos tem os ecos dos filósofos iluministas. A filosofia de Rousseau, tudo é bom quando deixa as mãos do autor, tudo degenera nas mãos do homem, teve influência em Robespierre, O homem é bom, se ele é corrompido a responsabilidade repousa nas instituições sociais viciadas. Robespierre tomou a si mudar a natureza humana. Era uma fé fanática em regeneração, na criação de um novo povo. Ao fim, Robespierre, discípulo de Rousseau, foi vítima do próprio terror que havia instituído. Gertrudes Himmelfarb, em Os Caminhos para a Modernidade, vê que nos traços associados ao Iluminismo francês, razão, direitos, natureza, liberdade, igualdade, tolerância, ciência e progresso, está ausente a virtude, principalmente as sociais, benevolência, simpatia e compaixão, que mais do que a razão, foram centrais no Iluminismo britânico. Compartilhando o respeito pela razão e liberdade, ciência e indústria, justiça e bem-estar, os três países mais afetados pelo Iluminismo, o tiveram de formas diferentes, na França sob a ideologia da razão, gerou um banho de sangue, na Grã-Bretanha das virtudes sociais, gerou um reformismo moderado, nos Americanos da política da liberdade, resultou na Constituição.
*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 08/02/2017.