23/06/2021
23/06/2021
O exibicionismo moral como política de auto engrandecimento é responsável, em espasmos de virtuosismo, por difamações e linchamentos públicos, num curso irrefreável, que julga e condena, sem direito a apelação ou defesa, os que pisam no campo minado da guerra cultural contemporânea, e imprevidentemente, atrapalham-se nas águas tempestuosas das opiniões sobre racismo, sexismo e outros temas dos quais se apropriou o politicamente correto. O caudal destrutivo é avassalador, mas não é inocente, seu fluxo é guiado por grupamentos militantes em ambientes virtuais, que alimentam um efeito manada através de apelos emocionais, ideológicos ou políticos, motivando deslegitimação de seus contrários e seu cancelamento. Os conceitos de bem, belo e verdadeiro são para Platão a essência de todas as coisas. A tríade de virtudes se ampara nos pilares ético e estético. Howard Gardner em O Verdadeiro, O Belo e o Bom Redefinidos ataca a noção de que o relativismo moral e o caos das redes sociais anulem a existência, o valor e a utilidade dessas virtudes. Se para Platão o Bem se articula em medida, beleza e verdade, a Beleza se apresenta como a forma em que o Bem pode se manifestar em atitudes nobres e belas, sendo o Bem logo reconhecido intuitivamente por todas as pessoas. A confusão dos tempos modernos é a deturpação do conceito estético, onde desvinculado do Bem e do Verdadeiro, atos e atitudes passam a procurar espaço no mundo, simulando belezas não comprometidas com a verdade, a justiça ou o Bem. A Beleza passa então a ser uma fraude. Aparentar senso de justiça e grandiosismo moral, motivados pelo egoísmo competitivo de parecer superior, encontra nas redes sociais palco para exibicionismo. Grandstanding em Inglês equivale em português a arrogância e corresponde nas redes sociais a exibicionismo moral e uso de um discurso moral para autopromoção. Em nome dele debates são travados na política de cancelamento, boicotes e destruição de reputações nas redes. “Fofocas em redes digitais são um amplificador de proporções gigantescas, fazendo explodir as alegações de escândalo em questões de horas”, diz o sociólogo Manuel Castells. Surgido o pretexto, palavras como direitos, dignidade, justiça, respeito são usadas para envergonhar e castigar o outro. Na polarização, as Pessoas tentam mostrar estar do lado certo da história e no debate público a guerra se estabelece pela superioridade moral. No seu livro Virtuosismo Moral, Justin Tosi e Brandon Warmke explicam o que as pessoas buscam ao usarem o grandstanding ou exibicionismo, elas querem “impressionar os outros, desejando reconhecimento, e tentam satisfazer esse desejo dizendo algo em um discurso moral público”. Esse comportamento vai quase sempre num ritmo de escalada, o virtuosismo passa a ser medido em comparação social, assim o que antes era um ponto de vista razoável alcança progressivamente níveis de severidade, que avança para juízos e condenações explícitas. Membros de um grupo buscarão superar uns aos outros, radicalizando cada vez mais o discurso moral. Cansados de exibições contínuas de raiva, os moderados vão saindo de cena, a partir daí os ativistas tomam por completo o debate político, com exigências absurdas de que personalidades se posicionem publicamente sobre qualquer aspecto de seu interesse, sob pena de serem ridicularizadas. As armas dos militantes são perseguições virtuais para destruição da reputação do outro, molestando a família e os amigos, pressionando empregadores ou patrocinadores para demitirem seu alvo. “Muitas pessoas não hesitam em concordar que o discurso público está em situação lamentável, mas o que elas têm em mente é o comportamento do outro lado”. E concluem Justin e Brandon “os exibicionistas buscam prestígio moral, mas também domínio pela inspiração do medo, intimidação ou coerção”.