Escravos dos Instintos – Artigo de Geraldo Ferreira publicado no Novo Jornal

14/06/2017

Escravos dos Instintos – Artigo de Geraldo Ferreira publicado no Novo Jornal

14/06/2017

Escravos dos Instintos – Artigo de Geraldo Ferreira publicado no Novo Jornal

 

 

Theodore Dalrymple não tem meias palavras, para ele Freud é um embusteiro e a Psicanálise uma seita, não uma ciência, afinal Id, Ego e Superego, que não podem ser comprovados, mas simplesmente acreditados, são as bases de explicações providenciais para sentimentos, experiências e comportamento. Não há como negar, no entanto, o profundo peso intelectual de Freud, um sujeito brilhante, culto e grande escritor. Ele fez, nas palavras de Benjamin Wilker, um trabalho rico, que ajudou a escavar algumas motivações profundas e inconscientes da ação Humana, intuindo que pode haver uma distância imensa entre motivações e ações conscientes dos desejos inconscientes ou dramas psíquicos reprimidos. Mas Ele foi além, e se perdeu, avançando dos princípios de Hobbes, colocou o homem em conflito com a sociedade, já que a civilização era constituída pela compulsão ao trabalho e renúncia aos instintos, incesto, canibalismo e desejo de matar quem lhe oponha, cuja impossibilidade geraria a frustração e hostilidade à sociedade. As desordens psicológicas eram o resultado das repressões aos desejos naturais ou instintos do homem. A técnica mãe da investigação psicanalítica é a livre associação, um abandono da disciplina intelectual do ser humano, que forneceria pistas do que se passa no inconsciente, como motor das ações e sentimentos, já que que no nível consciente o pensamento é analisado, hierarquizado e freado. O que diz a psicanálise é que a mais tola observação pode ter um significado profundo, tudo que é dito tem um motivo que não é totalmente conhecido, tudo no homem são desejos de natureza sexual, e que a frustração dos desejos são causas de patologias, que esses desejos fuçados na mente humana e descobertos podem cessar, sem qualquer esforço ou autocontrole. Isso tudo soa como trivialidade, quando mistura insignificante com importante e paranoia, quando a procura de razões secretas, se presumidas, faz parte de qualquer investigação. Se a frustração dos desejos é a raiz das patologias, o caminho que sobra é da autoindulgência e da compreensão. Daí deriva toda cultura que se apossou da sociedade, de complacência com o desajuste, as aberrações e os crimes mais infames, a ponto de exaltar e perdoar os transgressores, enquanto amaldiçoa e reprime religião, política ou polícia que reprima os instintos bestiais. Dalrymple relata, abismado, o depoimento de um criminoso que tinha assassinado sua namorada, Se eu não a tivesse matado, doutor, eu não sei o que eu poderia ter feito.

 *Artigo de Geraldo Ferreira publicado no Novo Jornal dia 14/06/2017

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