09/07/2025
09/07/2025
*Discurso em 01.07.2025
Autoridades, Diretores, familiares, sindicatos, convidados, obrigado por atenderem ao nosso convite de posse.
Voltar à Fenam, depois de 13 anos de uma eleição surpreendente em 2012, onde por meu estado, o Rio Grande do Norte, cheguei ao topo do Sindicalismo nacional, traz à lembrança de todas as luta que empreendemos e o novo sindicalismo que implantamos, afastado de partidarismos e ideologias, comprometido com as questões de formação médica, por ensino de qualidade e número de vagas compatíveis com as necessidades da população, especialização qualificada, mercado de trabalho, piso salarial, para o qual a Federação criou o piso Fenam, carreira médica, contratualização com os planos de saúde, com negociações anuais, concurso público, garantias trabalhistas e previdenciárias no setor privado, combate a terceirizações abusivas e fraudulentas.
Volto e o que mudou? o que encontro? As mesmas lutas, talvez mais agravadas. Não por culpa dos que lutaram e defenderam duramente a categoria, mas porque o mundo nesses anos mergulhou mais fundo no individualismo, no egoísmo, no relativismo e no niilismo, que ameaçam toda herança cultural da humanidade, varrendo e questionando as bases de tudo, inclusive da medicina. Se antes o médico era a autoridade e a segurança o princípio da ação, “primum non nocere, primeiro não prejudicar”, hoje a autoridade é o desejo individual e o princípio é a escolha e a autonomia do sujeito. São desafios éticos estupendos e apavorantes.
Estamos à altura deles? Há uma desconfiança generalizada a toda forma de poder e conhecimento. Para os cargos de representação, há uma crise de confiança e a suspeita de que as lideranças não estão suficientemente preparadas para o tamanho dos desafios e precisam se dedicar, trabalhar mais, para encontrar saídas para os apuros em que a modernidade nos meteu.
Os médicos estão acuados pelas terceirizações fraudulentas, baixos salários, pejotização na relação com planos de saúde e setor privado em geral, condições de trabalho inadequadas, precarização de vínculos. Faltam notícias boas para a categoria. O pleno emprego dos médicos passa a ser substituído pela ameaça de uberização da medicina. A previdência está ameaçada de extinção pela terceirização e pejotização.
Assumir a Presidência da FENAM neste momento é uma grande honra, mas certamente um vultoso desafio. É um momento histórico para mim, em que sou jogado no meio da tempestade. Mas como disse Ulisses Guimarães: “A história nos desafia para grandes serviços, nos consagrará se os fizermos, nos repudiará se desertarmos”. Não desertarei. Peço então a proteção de Deus e clamo como Agostinho, quando, salientando o papel da graça, clamava: “A obra está além de mim, a menos que me abras o caminho nada posso”. Quando o Rabino Targlon escreveu “Não é sua obrigação completar a obra, mas tampouco é você livre para desistir dela”, ele nos encoraja para o esforço contínuo e o comprometimento com ações significativas, mesmo que os resultados desejados pareçam inalcançáveis. Nos remete também à visão de responsabilidade coletiva e perseverança diante dos desafios. Que os tempos são difíceis não há como negar. Sobre isso refletiu Juscelino Kubitschek: “É inútil fechar os olhos à realidade. Se o fizermos, a realidade abrirá nossas pálpebras e nos imporá sua presença”.
O que fazer então? Não convêm desesperar, mesmo ao ver o mal vencendo o bem, a pulsão de morte vencendo a vida, a ignorância vencendo o conhecimento, as nulidades triunfando, não nos arrependamos de tentarmos ser bons, justos e sábios. Escreveu Guimarães Rosa: “Deus nos dá pessoas e coisas para descobrirmos a alegria”. Não se perturbe o nosso coração, a medicina pode ser para os médicos, em muitos momentos, motivo de aflição e inquietações, mas também de realização pessoal e contentamento.
Eu os convido então a seguirmos viagem nesses anos cheios de desafios que se descortinam à nossa frente, no mandato que assumo na Fenam. Lutas pela dignidade de nossa profissão não vão faltar, mas estaremos juntos, lutaremos juntos, venceremos juntos. Não tenham medo!
Dr. Geraldo Ferreira – Presidente do Sinmed RN
*Artigo publicado no Jornal Agora RN em 09/07/2025