05/12/2018
05/12/2018
A nação é as tradições, costumes e cultura que formam um povo, diz Roger Scruton, e são fatores da unidade e orgulho desse povo. O Estado nacional com sua organização e monopólio da violência é o grande responsável pela vida em sociedade administrável. O poder surge naturalmente nas relações humanas. Todo indivíduo ou instituição é dotado de personalidade, com direitos e deveres, onde houver atuação haverá responsabilidade. O poder das instituições ou o sistema é consensual, ou aceito pela larga maioria. Destacam-se como desejáveis governo responsável, autonomia e personalidade nas instituições, estado de direito, sociedade civil organizada, interação livre de indivíduos, mediada pelos costumes, tradições, respeito à autoridade e às leis. O meio cultural em que gravita a esquerda identifica o poder, a propriedade, a família, a cultura, o estado, a religião, a língua, a moral vigente e até o judiciário como fontes de opressão e obstáculos à realização do indivíduo. O intelectual de esquerda se julga um libertário, que deseja justiça social. Seu apelo dramático gera o fanatismo, para atingir seus objetivos é necessário aparelhar as instituições e subverter seu sentido, remodelando-as de acordo com os interesses doutrinários. Liberdade e igualdade seriam compatíveis nesse novo sistema, mas onde ele se implantou, como viu e sentiu Vladimir Tismaneanu, gerou um poder e uma opressão incomparáveis, com crimes de extermínio monstruosos. A crença no determinismo social e econômico levou à necessidade de eliminar quem se confrontasse com o pensamento único e o poder total, que faria nascer a humanidade nova. A sedução do encanto ideológico se deu pelo mito do igualitarismo, luta contra a injustiça, oportunidade de prosperidade, liberdade e igualdade ao alcance, pela derrubada de um sistema visto como baseado na exploração, na dominação e na alienação. A verdadeira democracia surgiria do esmagamento da democracia, instalação da ditadura do proletariado e dissolução do indivíduo autônomo, para a criação do corpo social homogêneo. Quando em 1989, os regimes comunistas caíram no leste europeu, e a União Soviética se dissolveu em 1991, deu-se conta do resultado dessa utopia, extermínio em massa, cem milhões de mortos, opressão, dores, sofrimentos. A intelectualidade de esquerda hoje se articula em mitologias políticas alternativas, unificadoras de um discurso fácil de reconhecer, como parte de comunidades vagamente definidas ética e politicamente, as chamadas minorias.
Geraldo Ferreira Filho – presidente do Sinmed RN
Publicado no Agora Jornal dia 05/12/2018.