Artigo: No tempo de Odorico Paraguaçu

11/08/2022

Artigo: No tempo de Odorico Paraguaçu

11/08/2022

Na última segunda-feira, em nove Estados do Brasil, começaram os debates televisivos entre os candidatos aos governos dos respectivos Estados. Esta modalidade de comunicação direta, com o eleitor, foi iniciada em 1960, nos Estados Unidos, tendo como debatedores Richard Nixon, pelos Republicanos, e John Kennedy, pelos Democratas.

Até hoje existem acaloradas discussões acadêmicas sobre a influência deste citado debate nos resultados das eleições. Como sabemos, Kennedy ao sair vitorioso desta eleição foi empossado como o 35º presidente dos Estados Unidos da América. No Brasil, a primeira tentativa de um debate televisivo foi em 15 de setembro de 1960, então frustrada pela desistência de Jânio Quadros, já que Ademar de Barros e Teixeira Lott se dispuseram a comparecer. Este debate seria transmitido pela extinta TV Tupy, no programa Pinga Fogo.

No dia 09 de setembro de 1974 estreou o debate televisivo entre os candidatos Nestor Jost, pela ARENA, e Paulo Brossard, pelo MDB, sendo transmitido pela TV Gaúcha, atual RBS TV.

Em 1976, com o advento da Lei Falcão, ficou proibida esta modalidade de transmissão das ideias políticas entre os candidatos debatedores, porém, alguns debates ocorreram em 1982, sendo a citada lei revogada em 1984.

Em nosso Estado, o primeiro debate entre os cinco candidatos ocorreu na última segunda-feira, e desde que este modelo teve início em 1974, eu, na qualidade de telespectador, atento e assíduo, infelizmente não notei nenhuma diferença entre os políticos candidatos. A maioria deles apresentara-se, como sempre, com palavras vagas, algumas até incompreensíveis para a maioria da população; promessas absurdas e impossíveis de serem realizadas; perguntas mal elaboradas; respostas sempre inconclusivas e muitas vezes fora do que fora perguntado; trejeitos cenográficos; entonações vocais denunciando a mentira proferida, delirantes afirmações frente a realidade sentida pelo povo; obras jamais concluídas, citadas como a salvação do povo e, no linguajar popular, mentira correndo solta .

No Ano de 1973, foi ao ar na TV Globo, talvez o seriado mais popular e mais lembrado, com imensa saudade, pelos telespectadores de mais idade. Escrito por Dias Gomes e tendo como principal protagonista o ator Paulo Gracindo, interpretando o Prefeito de Sucupira (cidade fictícia), o todo mentiroso Odorico Paraguaçu.

O citado prefeito, corrupto e mentiroso, tinha um linguajar todo personalizado e totalmente sem sentido, no intuito de enganar seus munícipes, que eram pessoas simples e totalmente desprovidos de cultura. O seu maior desejo era construir um cemitério, já que Sucupira era desprovida de tal e todas as pessoas que morriam tinham que ser sepultadas numa cidade próxima, com 3 léguas de distância.

Depois que o cemitério foi construído, faltava apenas enterrar o primeiro morto e como o tempo estava passando e nenhum óbito acontecia, um jagunço foi contratado para matar uma pessoa e finalmente inaugurar o portentoso prédio.

De Odorico Paraguaçu ficaram pérolas de oratória tais como: “Hoje estou com a alma lavada e enxaguada; vamos deixar de pensar no passadamente e agir no presentemente; vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmentes; vai ter uma confabulância político- sigilista sobre as nossas candidaturas”, e por aí vai, cada frase com alto teor de embromação visando enganar o povo.

Infelizmente, constatei com tristeza que o tempo de Odorico Paraguaçu voltou e voltou pior, pois, todos os candidatos debatedores tinham curso superior, inclusive, para a minha imensa tristeza, uma das candidatas debatedoras era professora.

Viva Odorico Paraguaçu! Viva o tempo da mentira e do engodo!

  

Francisco das Chagas Bastos Filho – Presidente em exercício do Sinmed RN

 

*Artigo publicado no Agora RN em 11/08/2022

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