Artigo: As pesquisas como armas de tapeação

22/06/2023

Artigo: As pesquisas como armas de tapeação

22/06/2023

Artigo: As pesquisas como armas de tapeação

AS PESQUISAS COMO ARMAS DE TAPEAÇÃO

 

“Sempre houve lugar no mundo para os mentirosos, trapaceadores e embusteiros”, escreve Gerardo Herrera em A Arte do Engano. A falta de pensamento estatístico é uma das mais graves deficiências do sistema educacional. Dados estatísticos são um sistema de análise que permite tomar as melhores decisões, servem para orientar uma melhor competitividade nos negócios, entender melhor a realidade e interpretar os acontecimentos cotidianos de uma sociedade complexa. H. G. Wells uma vez advertiu: “O pensamento estatístico será um dia tão necessário para uma cidadania eficiente como as habilidades de ler e escrever”. Mas Gerardo Herrera avança: “A estatística não é um instrumento exclusivo do Estado, é também um recurso persuasivo de empresários do marketing, de indústrias, movimentos sociais e ambientalistas, de acadêmicos interessados em convencer seus colegas, de jornalistas com conflitos de interesse e em geral por todos aqueles beneficiados pela moderna arte do engano.” A desinformação desempenha um papel significativo nas bem sucedidas realizações de estratégias. Falácias, sinaliza Thomas Sowell, não são simplesmente ideias malucas, mas abstrações plausíveis e lógicas. E é a sua plausibilidade que lhe rende apoio político. As ideias falaciosas buscam suporte para que se transformem em políticas ou programas governamentais. Desmascará-las não é fácil, quase sempre, bem diante dos fatos, as fake news encontram um jeito de distorcer a realidade para que se adaptem a ilusões. O uso mentiroso e seletivo da verdade pode ser tão perigoso quanto a mentira. Ryan Holiday cita as regras antigas que ancoravam as notícias: se o veículo é legítimo, a história que ele dá também é; se a história é legítima, os fatos dentro dela também são; se o assunto da história é legítimo, então o que as pessoas estão falando sobre ele também é. Hoje, a mídia não é mais governada por um conjunto de padrões editoriais e éticos. Padrões de verificação, confirmação e checagem se embaralharam quando as fontes passaram a ser veículos que trabalham e sobrevivem do tráfego de internet, onde a sobrevivência exige um misto de sensacionalismo e imponderação, comprometendo um processo chamado “delegação de confiança”, onde um confiava no trabalho do outro que fazia com que uma história que se apoiasse noutra fosse confiável. A militância em que se transformou a mídia, com o uso da linguagem política em qualquer abordagem a que se proponha leva necessariamente à perda da verdade como objeto. Orwell disse uma vez: “a linguagem política é projetada para fazer mentiras soarem verdadeiras”, e advertiu que existem ideias tão absurdas que apenas um intelectual seria capaz de acreditar. E a manipulação e a mentira se sofisticaram. Em 1954 foi publicado nos Estados Unidos um livro que se tornou um clássico, Como Mentir Com Estatística, seu autor Darrell Huff. Lembra-nos Disraeli: “Existem três tipos de mentiras: as mentiras, as mentiras deslavadas e as estatísticas.” Inundados diariamente por pesquisas publicadas pelas mídias, normalmente feitas por Institutos pertencentes ou ligados aos próprios veículos de comunicação, a sociedade mergulha num cipoal de deslizes e trapaças que apresentam um mundo deformado, longe da realidade manifesta. Médias, relações, tendências e gráficos nem sempre são o que parecem, podem ser usados para apelar, inflar, confundir ou levar a simplificações descomedidas. Sem honestidade, os números são torturados a provar o que não corroboram. Uma pesquisa bem arrumada funciona melhor do que uma bem elaborada mentira, ela engana, mas a culpa não pode ser atribuída a quem a publica. Médias salariais referentes a raça ou sexo são usadas politicamente como sinais de discriminação e necessidades de leis e políticas de proteção. Ocorre de que se amostra estiver viciada, ou adendos importantes não forem levados em conta, como cargas horárias ou postos de trabalho ocupados, nada mais teremos a não ser um ar falso de precisão científica. Para se ter uma estatística confiável há que se ter como amostragem um grupo representativo do qual todas as fontes de tendenciosidade, tanto visíveis quanto invisíveis, foram removidas. Uma pesquisa de opinião é uma batalha duríssima contra fontes de tendenciosidade. Não é necessário que uma pesquisa seja manipulada para que os números sejam distorcidos, a inclinação da amostra pode manipular a pesquisa automaticamente. Média é um truque que pode ser usado para influenciar a opinião pública. Quando se fala de média, carece definir se está se falando de média aritmética, mediana ou modal, o uso dos valores de uma dessas médias pode ser feito para favorecer resultados deturpados. Significância e desvio da média são igualmente fundamentais. Sem esses conhecimentos, números brutos, números relativos, amostras viciadas, médias não identificadas podem ser fonte de confusão ou mentiras deliberadas. Estatísticas sociológicas e comportamentais tem sido cada vez mais fabricadas e desvirtuadas para favorecerem comportamentos e pleitearem políticas públicas para realidades inexistentes no cotidiano, mas concebidas engenhosamente por um falso viés científico. Liberação de drogas, aborto, criminalidade, identitarismo, sexualidade, renda, toda temática do pretenso progressismo ocupa diariamente as páginas da mídia, sempre com pesquisas e respaldo estatístico para as teses a que se alia aquele veículo de comunicação. Darrell Huff cita que a falsificação de resultados é tão alarmante que levou um médico a dizer jocosamente, antes que aquilo seja desmascarado, “use logo o novo medicamento, antes que seja tarde demais”. As sutilezas da estatística são empregadas, hoje mais do que nunca, para gerar sensação, deformar a realidade, simplificar se for inconveniente ou confundir os desprevenidos”, alerta Herrera. ” Na vida política a mentira é necessária”, dizia Platão, porque não se pode governar sempre pela força. Palavras e Números podem ser usados para disseminar o engano, o erro e a mentira. Artemus Ward escreveu: “Não são bem as coisas que não sabemos que nos causam problemas. São as coisas que sabemos que não são assim”. A imposição de uma visão do mundo lança mão da manipulação de palavras, imagens e números, desvendar a verdade é tarefa melindrosa num mundo em que a mentira é parte da realidade.

 

Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do Sinmed RN

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