Publicado no Jornal Agora RN dia 22/04/2021.
22/04/2021
22/04/2021
Verdade é aquilo que é real. O convencimento pela retórica, o relativismo, como imaginado pelos sofistas, que pretende a verdade como uma construção da mente, se trata apenas de jogo de palavras. A verdade relativa é relativa a algo, ela guarda relação com a verdade em si, já que afirma essa condição cercada de disposições bem estabelecidas. A verdade absoluta existe sempre de forma relativa a algo. Hans Roling, estudou estatística e Medicina, tendo falecido em 2017. Pesquisou sobre o mundo e como compreendê-lo, criou um teste com questões de múltiplas escolhas, relativamente simples, sobre renda, educação, saúde, crescimento populacional, gênero, violência, meio ambiente. Surpreendentemente a média de acertos quase nunca superava o simples acerto aleatório estatístico. Imaginando que talvez pessoas com maior nível de educação se saíssem melhor, aplicou os testes em estudantes de Medicina, cientistas, jornalistas, ativistas, autoridades públicas graduadas, mas a maior parte delas errou a imensa maioria das respostas, resultados deploráveis vieram de vencedores do prêmio Nobel e pesquisadores médicos. Não sendo uma questão de atualização, educação ou inteligência para tantas respostas equivocadas, e sendo os resultados piores do que se as pessoas não tivessem qualquer conhecimento, restava procurar desvendar porque tantas pessoas estavam tão enganadas a respeito de tanta coisa, sempre vendo o mundo mais assustador, violento e desesperançoso do que realmente é. Na introdução do seu livro Factfulness, algo como opinião baseada em fatos, ele diz que essa visão negativa do mundo não mudava, mesmo com a informação correta a visão dramática persistia. A mídia com seus pressupostos de que notícia boa não é notícia, melhora gradual não é notícia, divulgação de notícias ruins importam como vigilância contra pioras, tem um papel, mas com um conjunto amplo de veículos e informações que devidamente buscados conseguem esclarecer os fatos, não poderia ser apontada como responsável pela ignorância encontrada em todos os níveis pesquisados pelos testes. A conclusão a que Hans chegou foi de que por razões de desenvolvimento do cérebro, preparado na ancestralidade a evitar perigos imediatos, as pessoas tendem a uma visão superdramática do mundo, levando a visões e respostas sempre negativas a questões factuais. O livro então discorre com estatísticas e dados dos organismos mais respeitáveis, para mostrar que o correto conhecimento é uma forma de terapia e o mundo não é tão dramático quanto parece. Hans era médico, eu que escrevo essa coluna sou médico, vale a excelente recomendação de Hélio Angotti Neto, médico e autor de livros na área de bioética “Todo médico deveria almejar ser um bom contador de histórias, de casos e buscas”.
Dr. Geraldo Ferreira
Presidente do Sinmed-RN
Publicado no Jornal Agora RN dia 22/04/2021.