Artigo: A batalha quase perdida pela verdade

10/08/2023

Artigo: A batalha quase perdida pela verdade

10/08/2023

Artigo: A batalha quase perdida pela verdade

O Pós-Modernismo, ancorado no socioconstrutivismo e nas teorias críticas da justiça social ameaça jogar o mundo numa era de obscurantismo, sem espaço para a lógica, a ciência e a razão. A espécie humana modelou o mundo através da linguagem, da informação e das trocas racionais. Hoje assistimos bestificados mídia, política, academia e até sistema judicial se consorciarem na substituição da verdade pelo sentimentalismo tóxico.

A BATALHA QUASE PERDIDA PELA VERDADE

A Verdade foi atropelada pelo sentimentalismo tóxico. Nascidas sob a égide da busca da verdade, Universidades como Harvard – veritas, ou Yale – lux et veritas, foram desdenhadas pela quase homogeneidade da mídia, da política e dos sistemas judicial e educacional, capturados pela afetação do sentimentalismo. Essa mentalidade, cada vez mais dominante, criou o fantasma do conhecimento proibido. O medo impera nas discussões ou pesquisas que envolvam questões referentes a diferenças entre sexos, raça, religião, culturas. Todos que circulam nessas fronteiras perigosas, estudando ou pesquisando, vivem atormentados pela possibilidade de se verem taxados de misoginia, homofobia ou racismo. Em A Mente Parasita, Gad Saad chama a atenção para a crença dos progressitas de que palavras como diversidade, inclusão e igualdade possam resolver os problemas do mundo. Em nome dessas palavras são permitidas a censura, a vedação ao estudo científico de temas supostamente ofensivos, e a supressão do próprio direito de discordar. “Se a verdade dói, então ela precisa ser suprimida pelo bem da diversidade, da inclusão, da igualdade e, claro, em nome da harmonia da comunidade”. Há em curso um movimento anti-intelectual contra a razão e a ciência, assumido por entidades que professam como religião o pós-modernismo, o socioconstrutivismo, o feminismo radical, o multiculturalismo, o politicamente correto, a cultura da ofensa e da vitimização perpétua, o relativismo cultural e moral, e a política identitária. As vítimas imoladas nesse altar são a verdade e a liberdade. O ideal de qualquer pessoa honesta deve ser a busca da verdade, a causa óbvia da desonestidade é o declínio ético. Com a bússola moral avariada, o senso de certo e errado é perdido, a consciência é vista como antiquada e qualquer condenação é vista como cinismo. Daniel Dennet argumenta que os seres humanos são sistemas intencionais. “Um sistema intencional se fundamenta numa referência que pode ser falha ou num pensamento que pode ser falso”, escreve Roger Scruton, se reportando a Brentano. Há duas orientações éticas que regulam o comportamento das pessoas, a deontológica e a consequencialista. A orientação deontológia tem caráter absoluto, por exemplo – é errado mentir. A consequencialista avalia os métodos éticos de uma ação com base em suas consequências – posso mentir para não ferir os sentimentos de alguém. Muitas das esquisitices que vemos alimentadas pelo progressismo tem sua base no uso da ética consequencialista em que a verdade, é sacrificada, para que sejam alimentadas as cultura da ofensa e do vitimismo. Qualquer empreendimento humano ou social que busque a verdade deve se sustentar nos fatos, não no sentimentalismo. Os procedimento legais são campo de excelência desse domínio, de ninguém se diz culpado ou inocente a não ser baseado em fatos. Outro campo ainda mais estabelecido nesse domínio é a ciência, é rigoroso o limite probatório da verdade. Os consequencialistas tornaram todos os julgamentos escravos das emoções, no entanto mesmo as emoções mais sinceras não garantem qualquer veracidade ao que é dito, há necessidade da ancoragem em fatos comprovados. O estabelecimento de uma verdade virou disputa tribal e política, com alta voltagem de indignação emocional, em que os sentimentos se impõem ante a lógica, a ciência e a razão. A narrativa vitimista passou a ser a mãe da verdade, ao ponto de firmar-se nos círculos progressitas a ideia de que nenhum dado científico pode ser usado para questionar uma narrativa politicamente correta. Gad Saad completa “Essa escuridão não será iluminada pelo humor, pois as piadas e a leveza também estão proibidas”, e segue “pessoas com a mente sã sabem que existe lugar tanto para as emoções quanto para o intelecto, para o humor e para a seriedade, e sabem quando ativar seu sistema emocional ou cognitivo durante a vida. “A ciência tem a obrigação de basear-se em evidências, não em política e em todos os temas é melhor saber do que não saber. Temas proibidos não impossibilitam apenas o conhecimento da verdade, destroem a liberdade. O mundo está ameaçado por uma idade das trevas pela patrulha do politicamente correto, que busca abolir a liberdade de expressão, de pensamento, o estudo e a pesquisa de qualquer tema que fira alguma sensibilidade. A ideia geral de que a liberdade de expressão deve se resguardar de ferir alguém ou algum grupo não é extensiva a todos. Pessoas brancas, ocidentais, cristãos, a esses não se reserva qualquer complacência, podem ser ofendidos, zombados e ridicularizados, afinal são o pólo opressor. A maior ameaça que o ocidente enfrenta quanto à liberdade de expressão são as promulgações de leis de discursos de ódio. Com isso se silenciam as vozes da dissidência. “O conhecimento depende, em última instância de critérios de verdade”, aponta Richard W. Weaver em As Ideias Têm Consequências. Para se estabelecer a verdade, os filósofos oferecem estruturas diversas, provas matemáticas, método científico, evidências cumulativas. Um corpo de provas irrefutáveis forma uma rede nomológica de evidências cumulativas, que apresentadas aos inimigos da verdade mostra que mesmo os sentimentos mais profundos não são suficientes para substituir a realidade dos fatos. David Hume negou a realidade da identidade pessoal porque não encontrava um Eu que fosse independente do conteúdo atual da consciência daquele Eu. Mas “Hume escrevia com ironia”, cita Theodore Dalrymple, “outros escreviam a sério”. Para enfrentar os patógenos de ideia como pós-modernismo, o sócio-construtivismos, o feminismo radical, o ativismo transgênero e o identitarismo na sociedade exige-se muita coragem. 6Não cabe aceitar ser silenciado, conciliar com quem quer nos calar é sempre o pior caminho. No encerramento de A Mente Parasita, Gad Saad reflete: “um conjunto de patógenos tem atacado implacavelmente a ciência, a razão, a lógica, a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão, a liberdade individual e a dignidade humana. Se quisermos que nossos filhos e netos cresçam em sociedades livres, devemos estar seguros de nossos princípios e prontos a defendê-los”.

Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do Sinmed RN

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