17/10/2018
17/10/2018
A linguagem emana de um conjunto de fatores culturais, econômicos, políticos e ideológicos. Os lamentos da sua decadência, que arrasta consigo a própria política, ecoa desde os primórdios da história do Ocidente. Tucídides, em sua História da Guerra do Peloponeso, afirma a mudança da linguagem como um fator de peso na queda de Atenas, da sua condição de democracia a de tirania e anarquia. Quando há uma cisão entre palavra e significado e as pessoas passam a definir as coisas de qualquer maneira que queiram, isso se torna uma ameaça à sociedade e ao próprio estado, já que a separação entre linguagem e realidade transforma tudo em narrativa. A linguagem traz um peso de ideias políticas e valores morais ou culturais. É através da linguagem comum que o cidadão médio pode entender as questões importantes e os temas de estado e como se posicionar sobre eles. É importante distinguir entre afirmações e argumentos que podem conduzir a conclusões seguras. O exagero como uma realidade é uma arma usada largamente na política, como também presenças quase invisíveis de reconhecer, que afirmam narrativas de fundo político. No livro 1984, George Owen fala da criação de um idioma chamado novilíngua, com a finalidade de restringir o pensamento, impedindo que ideias indesejáveis viessem a surgir. Nos últimos tempos palavras alardeadas para se colocar no papel de vítima, como golpe, justiça social para ativismos que forçam decisões compensatórias, política de gênero para doutrinação no ensino público de rupturas de valores morais e familiares, cidadania para direitos sociais ilimitados, foram amplamente adotadas por quem se acreditava criando uma nova realidade no ambiente político brasileiro. No livro Sin Palavras, de Mark Thompson, onde ele pergunta o que está se passando com a linguagem política, ele diz que as palavras desencadeiam ações, portanto tem consequências. Se a linguagem fracassa em corresponder ao real não tardarão as desgraças.
*Publicado no Agora Jornal em 17/10/2018