Artigo: Comunicação e cultura na realidade virtual

28/04/2022

Artigo: Comunicação e cultura na realidade virtual

28/04/2022

Artigo: Comunicação e cultura na realidade virtual

 

 

Uma transformação de dimensões históricas está ocorrendo, a integração de vários modos de comunicação em uma rede interativa. A formação de um Supertexto, como descreve Manuel Castells: “uma metalinguagem que, pela primeira vez na história, integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana.” Isso muda de forma fundamental o caráter da comunicação, e a comunicação molda a cultura. Postman coloca, “nós não vemos a realidade como ela é, mas como é nossa linguagem”, e nossas linguagens são as mídias. As mídias são as metáforas e essas metáforas criam os conteúdos da cultura. Por meio dessa poderosa influência do novo sistema de comunicação, mediado por interesses de toda natureza, como sociais, políticos e de negócios, surge uma nova cultura, a da realidade virtual. A televisão reinou soberana durante décadas, o que a diferenciou dos outros veículos, como o jornal ou o rádio, foi o avanço do sistema de comunicação do alfabeto fonético, que exigia uma capacidade de pensar conceitualmente, valorização da razão, aversão à contradição, para a criação de um sentido de entretenimento para qualquer tipo de discurso, na TV tudo poderia se tornar diversão e prazer. A partir dos anos oitenta, a ideia de comunicação em mão única foi abalada por novas tecnologias que transformaram o mundo da mídia. Emissoras especializadas, músicas selecionadas, videocassete, câmeras filmadoras pessoais, múltiplos canais de TV. A nova mídia não é mais uma mídia de massa, mas segmentada, onde a audiência passa a escolher suas mensagens. No entanto, essa fragmentação não representou perda de poder ou impacto, antes investimentos foram feitos para formação de megagrupos e alianças estratégicas para comandar um mercado em completa transformação. A imposição desses monopólios não permitia a audiência se manifestar, o que só veio a ocorrer no que Ithiel de Sola Pool chamou de tecnologias da liberdade, o surgimento da rede Internet, a espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores, e suas características de penetrabilidade, descentralização e flexibilidade. Portadora dessas potencialidades, o que surgirá desses novos padrões de comunicação? A mente pública é construída por meio da formação de redes das mentes individuais. Para conquistar e dominar a mente pública, os detentores do poder precisam controlar a comunicação livre, programando a conexão entre comunicação e poder. Se o poder é exercido pela programação e interligação de redes, o contrapoder, diz Manuel Castells, a tentativa de mudar as relações de poder, “se faz pela reprogramação das redes em torno de interesses e valores alternativos, interrompendo as comutações predominantes e permutando por redes de resistência ou mudança social”. Quando não sabemos quem são os detentores do poder, uma pista é, pois, procurá-los nas conexões entre redes de comunicação corporativas, financeiras, industriais culturais, redes de tecnologia e políticas. A luta entre o individualismo e a comunidade encontra seu território nas redes globais, onde as pessoas podem interagir de acordo com suas escolhas, valores e interesses, podem defender e promover causas ou por outro lado podem se organizar contra uma ordem estranha ou imposta, quando as instituições que proporcionavam segurança como o Estado, a Igreja ou a Família já não funcionam adequadamente. As redes financeiras e multimídia estão intimamente conectadas, tem muito poder, mas não tem o poder total, pois são dependentes de outras redes importantes como a rede política, a rede de produção cultural, a rede militar, a rede criminosa, a rede de produção e aplicação da ciência e da tecnologia e de gerenciamento de conhecimento. Manuel Castells conclui O Poder da Comunicação com três argumentos principais: “o poder é multidimensional, exercido em rede e atua influenciando a mente humana, as redes formam redes entre si, cooperando ou competindo, e a rede de poder constituída em torno do Estado e do sistema político desempenha papel fundamental diante das outras redes”. São as redes de poder que por manipulação de imagens e processamento de informações na mente pública, constroem os determinantes finais das práticas individuais e coletivas.

Dr. Geraldo Ferreira – médico e Presidente do Sinmed RN

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