ARTIGO: A Guerra entre a Informação e a Desinformação

19/05/2021

ARTIGO: A Guerra entre a Informação e a Desinformação

19/05/2021

ARTIGO: A Guerra entre a Informação e a Desinformação

Informação e desinformação se confrontam mundo afora. Se quem controla a comunicação controla a mente das pessoas e o poder, o comando da narrativa passa a ser mais importante que os fatos. Para se criar uma realidade singular, com a insinceridade tendo o mando, basta ter os meios de comunicação mais poderosos e influentes, ou usar as técnicas mais refinadas para criar meias verdades e sofisticadas mentiras. Influência é o objetivo final da mídia e seu entorno, porque essa influência tem um peso e um preço e pode ser propiciado a causas e pessoas. Ryan Holiday diz que a retirada de um ponto de interrogação pode transformar uma notícia numa mentira. A margem de manipulação, à margem da ética, é enorme, daí que, aliada à sonsice, não é de admirar que se alastre irresponsabilidade, imprecisão e desonestidade. O jornalismo político foi invadido por uma militância tão audaciosa que Marcelo Rech reclamava que nunca fora tão necessária e importante a figura do jornalista, mas que era necessário fazer a opção entre jornalismo e ativismo. O advento das redes sociais colocou em cheque os grandes veículos e mostrou as contradições no discurso de isenção e imparcialidade dos órgãos de imprensa, desvendando seus interesses políticos, ideológicos e financeiros. Paulo Francis dizia que há três regras básicas no jornalismo, escrever bem, ficar no assunto escrito, cortando excrescências e dizer o que sente. Esta parte é a mais difícil, pontuou. Hélio Gurovitz, em editorial para a revista época, dizia que uma reportagem devia ter informações e documentos checados, envolvidos procurados, consequências avaliadas, preservação da segurança dos prejudicados pelo conteúdo sensível publicado. A reportagem busca consolidar uma verdade. Fofoca são informações sobre terceiros, sem comprovação aceitável e envolve núcleos pequenos. O Boato, afeto a grupos maiores e mais influentes, alcança fatos não devidamente verificados sobre uma coisa de interesse público. O boato é na verdade um mercado clandestino de informações, com interesses dissimulados, buscando consolidar mentiras, visando que o atingido seja logrado e suas políticas comprometidas. O esforço empregado na distorção dos fatos e na falsa informação dissimula a situação real, e tira vantagem da tendência de um grupo ter propensão a aceitar como verdade algo contra algum outro com quem se defronta. O sociólogo e pesquisador Manuel Castells pergunta se as pessoas são influenciadas pela tendenciosidade da mídia ou se são atraídas pelas que consideram mais afinadas com suas ideias, para concluir que pode haver um efeito das fontes da mídia sobre a informação distorcida, mas as pessoas são motivadas por suas predisposições e escutam o que querem escutar. Nas guerras a luta pela verdade é difícil, a informação ou desinformação são decisivas na formação da opinião pública e nos rumos do conflito. Para encontrar a verdade não se deve deixar enganar pela fachada nem pelo palavrório, mas procurar nos acontecimentos e ocorrências uma interpretação factual da realidade. Sun Tzu dizia há séculos que toda guerra é baseada em logro. Isso vale para a guerra real, ideológica ou política. Sobre as recentes decisões das grandes empresas como Twitter, Facebook e Instagram de censurar a liberdade de expressão sob argumentos inconsistentes, para estabelecerem suas verdades, vale lembrar como Manuel Castells conclui seu fabuloso “O Poder da Comunicação”. Após alertar sobre os riscos dos detentores de poder, através de redes de comunicação corporativas, financeiras, industriais, culturais, tecnológicas e políticas cercearem a comunicação livre a fim de fechar a mente do público, programando a conexão entre comunicação e poder, ele arremata “Se não conhecermos as formas de poder na sociedade em rede, não podemos neutralizar o exercício injusto do poder. E se não soubermos quem exatamente são os detentores do poder e onde encontrá-los, não podemos desafiar sua dominação oculta.”

Dr. Geraldo Ferreira

Presidente do Sinmed-RN

 

Publicado no Jornal Agora RN dia 19/05/2021

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