Civilização e mudanças sociais – Artigo de Geraldo Ferreira

21/03/2017

Civilização e mudanças sociais – Artigo de Geraldo Ferreira

21/03/2017

Civilização e mudanças sociais – Artigo de Geraldo Ferreira

Russell Kirk, em A Política da Prudência, aponta: A cultura que recebemos por herança dos antepassados está enredada em sérias dificuldades, com a cultura sensual triunfando sobre a cultura idealística e a rejeição ao sagrado no âmago das atribulações culturais. No entanto, foi esse complexo de elementos, estrutura das leis, direitos privados, antigos hábitos saudáveis, padrões de afetividade familiar, ordem moral, propriedade privada, proteção contra o arbítrio, vigor da comunidade local, cultivo da razão e da consciência, certeza de que a vida vale a pena, que possibilitaram o funcionamento da sociedade atual e nos deram a civilização mais exitosa que já existiu, um amálgama das culturas clássicas, Hebraica e cristã. Atualmente a cultura ocidental ou cristã está sob corrosão, substituída pelo apego ao luxo, ao sensual, pelo enfado, superstição, exaltação do ego e suas experiências pessoais, relativismos morais, estéticos, metafísicos e religiosos. Cultura vem de culto e o culto cristão, debaixo de ataques constantes, vem perdendo força, o racionalismo religioso evoluiu para indiferença e hoje para franca hostilidade. Chesterton dizia que sendo a vida uma alegoria, só podemos compreendê-la por parábolas. As mudanças sociais ocorrem e podem ser frutos de evolução dos costumes ou ruptura com a tradição, há um choque cultural quando essas mudanças são impostas sem compromisso com a civilização ou numa tentativa de moldar a sociedade. A rede de obrigações na sociedade vincula pais aos filhos e dentro de uma geração, como sugeria Edmundo Burke, a sociedade é afetada pelos direitos dos vivos, dos mortos que nos legaram o patrimônio material, científico e cultural e pelos nascituros, que herdarão a terra que habitamos. Roger Scruton diz Os valores vem dos esforços cooperativos por meio das tradições, dos costumes e das instituições, que consagram, e promovem a responsabilidade mútua. É a obsessão por mudar, desde a revolução francesa, que busca moldar o mundo, e para submetê-lo é necessário solapar suas bases, destruindo suas tradições. É nesse contexto que se procura a morte do sagrado, para substituí-lo por um frágil humanismo, que não se sustenta. Kirk, ao observar a tentativa de sepultar a cultura ocidental, e suas bases hebraico-cristãs, pelo materialismo e secularismo ideológico, levanta sua dúvida se uma civilização ou uma cultura pode sobreviver sem a crença ou ordem transcendental que a originou. Demolir sua cultura é uma forma de odiar o ocidente.

 

*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 22/03/2017.

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