25/01/2017
25/01/2017
A deposição de Rômulo Augusto, último imperador romano do Ocidente, em 476, marca o início da idade média, que se estenderá por mil anos. Nela se desenrolam os dilemas que desembocarão no mundo moderno, economia fechada ou aberta, mundo rural ou urbano e vida em fortalezas ou casas diversas. O desmantelamento administrativo e a queda da majestade imperial, provocam, em razão da sobrevivência relativamente intacta da estrutura eclesiástica, o protagonismo da igreja cristã, que assume, além do papel religioso, a negociação política, econômica a até militar. O imaginário mais forte do período são a inquisição e os requintes de suplícios, o sistema feudal, as cruzadas, a insegurança, a peste. Elizabeth Kantor, no entanto, diz que idade média não foi a era das trevas, nem a religião cristã foi o sustentáculo da opressão e do obscurantismo. Havia vida e vida brilhante espalhada pela Europa. Tornar a idade média o poço de tudo de pior que o homem precisava superar é uma forma de reescrever a história com a visão marxista de aniquilar o passado, para reconstruir o mundo pretendido como ideal. Nega-se a idade média porque quer se rejeitar o cristianismo, e o fato de que o Cristianismo trouxe liberdade e que era um esteio contra o absolutismo de reis e senhores. Como ainda hoje os totalitários querem destruir o cristianismo, é preciso dizer que ele era aliado a déspotas, quando na verdade a religião foi freio a desmandos e injustiças. Na idade média havia também a valorização da autoridade, da sabedoria antiga, a razão como meio de alcançar a verdade, do cavalheirismo, do casamento cortês, onde ao contrário de hoje, onde os arranjos podem mudar, os casais eram dependentes e compromissados a se fazerem felizes. É o amor cortês que mostra que a relação entre os sexos poderia ser outra coisa além de instinto, força, interesse, conformismo, e concilia sexo e sentimento. Para Jacques le Goff, A igreja na idade média era o foco da vida social comum, lugar de assembleia, de reuniões, conversas, jogos, feiras. Religião de vocação universal, o cristianismo será o principal elemento da transmissão da cultura, estabelecendo um diálogo com a arte, a ciência, o direito, que florirão fortemente no renascimento. Nasceram ali os hábitos de pensar e sentir, temas e obras que formarão as futuras estruturas das mentalidades e sensibilidades do Ocidente. Demonizar a idade média e o cristianismo é instrumento que busca desconstruir e criminalizar a cultura ocidental.
*Artigo de Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed RN, publicado no Novo Jornal, dia 25/01/2017.