02/04/2015
02/04/2015
Uma praga ameaça o movimento sindical desde o seu nascimento, alimentada por oportunistas, falsos líderes, aproveitadores e carreiristas – o Peleguismo. O termo deriva da figura do Pelega, que era, no estado novo, o líder sindical encarregado de apresentar de forma convincente as propostas do governo a fim de obter a conivência da classe trabalhadora.
A partir daí várias gerações de comprados, alugados, vendidos, adesistas ao projeto de qualquer um que esteja no poder, vem perpetuando essa prática ao longo dos tempos.
No movimento médico não é diferente. Tentativas permanentes de cooptação de lideranças ao projeto de poder, para aprisionar as Entidades ao apoio a projetos de contrariam os interesses da própria categoria, mas satisfazem a projetos partidários ou de governo tem sido permanente. Há pagamento para os que se sujeitam à cooptação, seja na forma de cargos na estrutura dos ministérios ou agências do governo, seja por distribuição de direções e cargos comissionados aos próprios ou familiares, seja no momento ou a posteriori, depois de findo o mandato, como uma forma de remunerar o serviço sujo.
Na Fenam não é diferente. Comprometidos com apoio a governos, sempre havia uma sinecura para quem fizesse o jogo do poder, defendendo as teses de seu interesse. Num dado momento isso levou a uma ruptura dentro da Fenam e a tentativa de criar uma confederação. No fim, mesmo maculados pelos interesses escusos, findaram por se reassociar à Fenam, e foram recebidos como se nada tivesse acontecido.
Mas a história muitas vezes se repete, mesmo que como farsa. Apoiadores de projetos de governo como Provab, Mais Médicos e outros, Sindicalistas ligados aos Partidos da base do governo tentam mais uma vez semear a cizânia nos médicos, para dividir a Entidade que na linha de frente tem defendido a categoria e se envolvido nas maiores batalhas contra o governo e seus projetos aloprados para a saúde. Seguindo a velha lógica Inversiva, acusam a Fenam do que eles fazem ou praticam e xingam a Fenam do que na verdade eles são. São apenas pelegos no modelo mais antigos, sedentos de poder para se venderem e venderem os médicos aos interesses do partido do governo.
Não vão prosperar, mas é importante que se saiba que isso não é uma questão interna que diz respeito só aos médicos. A notícia que se tem é que uma Central, articulada com o governo, está semeando a divisão de todas as confederações e outros que não rezam na cartilha do governo. A ordem é dividir para criar entidades fantoches, franjas do partido do governo, para gerar conflitos de representação e impedir a defesa dos legítimos interesses das categorias, fazendo parecer como dos trabalhadores os interesses do governo.
Mais grave ainda, no ano eleitoral de 2014, estranhamente Sindicatos, por coincidência os mesmos que semeiam a divisão, não fizeram a cobrança do imposto sindical nos moldes preconizados pela lei que diz que deve ser feita em guia da caixa econômica e por ela distribuída a vários níveis de representatividade como federações, confederações e Ministério do Trabalho, para financiamentos de programas como o FAT etc. É um imposto, portanto. Mas esses sindicatos mandaram a cobrança de forma irregular e há na Fenam uma comissão de sindicância apurando os fatos para que sejam encaminhados à Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho. Presidentes e tesoureiros ou outros que adotam dissimuladamente nomes como Diretor administrativo e Diretor financeiro responderão, se for comprovado o crime.
A Fenam se fortalece na luta, ressurge cada vez que sofre mais ataques e encara as lutas. Hoje ocupa a vice presidência da CNTU, confederação dos trabalhadores universitários regulamentados e da Confemel, confederação médica latino americana; tem Assento no Conselho nacional de saúde e comissão de residência médica, sempre defendendo os interesses médicos sem submissão ao governo, atua permanentemente no Congresso nacional junto a deputados e senadores para aprovar projetos de interesses da categoria ou barrar os que prejudicam a saúde. Tem sido ouvida e considerada em todas as instâncias da sociedade nacional e das instituições internacionais, como o OCDE, instituição européia, que num trabalho de avaliação da saúde brasileira escolheu como interlocutores no Brasil o Ministério da Saúde, o Conselho de secretários municipais de saúde e a Fenam.
Estamos fortes, mas mesmo fortes não podemos esquecer de preservar nossa unidade. Aos que tentam nos dividir responderemos da forma mais firme e decidida. Denúncias ao Ministério do Trabalho, Polícia federal, aos médicos da base, ações judiciais, lançamento e apoio de chapas contrárias aos que estão no comando e imaginam que vamos ficar inertes, serão algumas dentre outras fortes atitudes que tomaremos. Aos tocados pelo bom senso, que queiram negociar seus débitos, pendências ou qualquer outra irregularidade e participar ativamente do processo eleitoral e administrativo da Fenam o mecanismo é o absolutamente previsto na lei e no estatuto, que acataremos no todo.
O Brasil vive um momento singular, onde a sociedade parece tomar consciência de que só com instituições fortes e independentes, caça implacável aos corruptos e oportunistas que usam os cargos representativos em usufruto próprio, combate sistemático à mentira, ao engodo, à manipulação e à má fé, defesa intransigente da democracia, alternância do poder, transparência, liberdade de pensamento e opinião, reconhecimento do valor do estudo, do trabalho e do mérito como fontes de crescimento pessoal, em oposição a esmolas ou bolsas que escravizam e geram dependência, ou distribuição de privilégios que alimentam a sobrevivência de organizações e propósitos eleitorais. O movimento sindical está inserido neste contexto e caminha com os médicos e com a sociedade na defesa desses ideais. Por isso está nas ruas, por isso tem que ser independente, por isso não aceita ser aparelhado por partidos ou governos, por isso tem que se manter unido e rechaçar com energia todos os traidores e vendilhões que quiserem usar nossas instituições para servirem a seus senhores do governo. Uma Fenam unida, forte e independente é a garantia da defesa e da representação segura e autêntica dos médicos brasileiros.
Geraldo Ferreira, presidente da FENAM e do Sinmed/RN