24/10/2014
24/10/2014
A partir dessas eleições de 2014, em que os médicos, pela primeira vez agiram, torceram, trabalharam e votaram como categoria, nada será como antes. Alguma coisa mudou.
E no ciclo dos acontecimentos, no giro do relógio da história, brotou das lutas, perdas e ganhos de 2013 e 2014, algo como o que fez nascer das greves do ABC Paulista, a força dos metalúrgicos, ou das lutas por uma Petrobrás forte, a categoria dos petroleiros, ou ainda do descaso e da penúria da educação brasileira, a força dos professores, tudo isso, como grupos ou categorias organizadas, dispostos a participar politicamente como protagonistas, disputando mandatos, lançando candidatos, defendendo propostas, elegendo representantes. Com a categoria médica, a persistir o sentimento de união e a consciência de importância de seu papel, teremos a extrapolação das lutas corporativas ou da saúde, ampliadas para o tabuleiro das grandes questões nacionais e a defesa de todo ideário que sempre acompanhou os médicos, mas que ganhou clareza e definição.
A preocupação dos médicos, sempre grande com os rumos da profissão e da saúde, avançou para as grandes questões nacionais, levando-os a uma posição apaixonada em defesa da Democracia e a uma rejeição absoluta a todas as formas de ditaduras ou apoio a ditaduras. Em defesa do mérito e rejeição à manipulação de grupos através de privilégios, cotas ou bolsas para institucionalizar a dependência e comprar consciências.
Em defesa de um país unido, onde o jogo de nós e eles, brancos e negros, ricos e pobres, usados para distribuir benesses e dividir a sociedade seja banido como instrumento de ação política. Onde a liberdade seja um bem inegociável e nas suas formas de liberdade de opinião e de imprensa não seja agredida e perseguida, mas pontifique soberana, contra os que querem impor o pensamento único.
A defesa intransigente do combate à corrupção e à apropriação do estado por partidos ou grupos para usufruto próprio. Em defesa da grande política, arrazoada, esclarecida, sem messianismos ou salvadores da pátria, tão comum ao caudilhismo latino ou brasileiro.
Um país que valorize o estudo, o esforço pessoal, o trabalho duro como formas de melhorar de vida. Que não permita que crimes sejam cometidos e não punidos ou que se formem castas de protegidos para receberem benesses e verbas do estado para servirem de aparelho e trincheira política para quem se imagina proprietário do Estado.
Um país onde haja igualdade de oportunidades, onde as pessoas possam crescer e evoluir por sua capacidade, onde o empreendedorismo possa forjar riqueza e as pessoas sejam livres para construir o seu destino.
Nada será como antes. Renascida das lutas e das perseguições, vendo-se agredida em sua dignidade, a profissão avança em seus ideais e princípios, entendendo que a luta dos médicos não é mais uma luta corporativa ou da saúde, mas é uma luta pelo país e por nosso povo.
É construída nesse ideário que a categoria médica se apresenta para o futuro, consciente de seu papel e suas responsabilidades com o Brasil. Foi perseguida porque é esclarecida, é culta, é inteligente, é empreendedora, é trabalhadora, é independente, é influente, é politizada, tem inserção profunda na sociedade, e isso não interessa a quem se julga dono do poder.
Não há salvação para o país fora da Democracia, não há salvação para a saúde, segurança, educação, crescimento econômico, desenvolvimento, fora da política.
A partir de então, tal qual das dores do parto, nasce a nova categoria médica, mais ativa e consciente de que tem um papel político que extrapola a categoria e a saúde, e que precisa exercê-lo para que possa nascer o Brasil melhor que ela anseia.
A categoria médica se colocou no jogo político com força e, depois desse fato inconteste, percebido por todo país, passará a atuar organizadamente. A partir daí nada será como antes, nem para si, nem para o Brasil, com que ela sonha.
Geraldo Ferreira – Presidente Fenam e Sinmed RN